Prólogo

13 2 0
                                    

"Pois eu me tornei morte; O destruidor de mundos"
J. Robert Oppenheimer, referindo-se à escritura hindu Bhagavad-Gita (aproximadamente 1945)

A mesma coisa de sempre. Revoltas, mais revoltas, e no fim nada. Nunca resulta em merda nenhuma.

Eu costumava participar dessas coisas até perceber que não dá em nada.

Foi por isso que essa porra toda tá acontecendo.

Bem, eu sou o Yuri. Eu moro no... Na verdade, eu nem sei mais como chama esse lugar.

Mas você não tá entendendo nada né? Então vamos do começo.

Acho que o ano era 2045. Uma empresa que eu nem lembro mais o nome resolveu lançar um aplicativo "revolucionário". O nome é Bint. Exato, Bint.

O aplicativo consistia em disputas diárias. Por exemplo, quem chega mais rápido no trabalho, quem desce as escadas mais eficientemente, quem bate no amigo mais vezes... É.

A comunidade fazia os desafios que, no começo, eram pura diversão. Até eu participava, sério.

Enfim, saindo da esfera "Apps" e indo pra esfera "Medicina", 2037 foi um ano um tanto quanto produtivo pros médicos, até reconheceram como "Anneé d'Or". Doutores descobriram a cura pra diversas doenças e um cara em especial, o Dr. Emilién Asterton, descobriu uma fórmula que era muito mais eficiente que a morfina: o Asterton, que foi obviamente batizado em homenagem a ele, simplesmente anulava TODA dor, movimentos nervosos bruscos e botava qualquer um pra dormir. O problema é que você só podia tomar UM por mês. Até aí tudo bem, ninguém costuma fazer cirurgias duas vezes por mês, e mesmo que precisasse, era impossível usar a Morfina, já que seu fator entrava em conflito com o fator astertoniano.

Porém, as pessoas que tomaram o Asterton disseram que ele era meio "complicado" ; Primeiramente, o Asterton era transmitido por um aparelho, parecido com um daqueles velhos smartphones, só que bem mais intuitivo: um Qwert. O Qwert faz de tudo. E ele é conectado por meio do Edge, que foi a grande tecnologia dos anos dourados.

O Edge é um chip que, obrigatoriamente, é instalado em você e simula uma "Heads-up Display", ou, basicamente, uma tela intuitiva que te mostra tudo que você precisa. Conecta-se com o Qwert e por lá você consegue controlar tudo.

O Edge é bem estilo cinema: você pode fazer tudo que quiser por lá.
Ou podia..

Uma tecnologia em específico que ele tem é o Retransmissor Molecular, ou apelidado por tecnólogos como Remol. O que ele faz é receber moléculas via opticulus (uma fibra óptica diferente) de pessoas com a capacidade de o fazer (em maior parte pessoas certificadas e tal) e essas moléculas tem um fator específico.
Você só precisava escolher o tratamento, colocar o Qwert perto do coração (não importa seu problema) e apertar o botão. O Edge cuidava de tudo.
É inacreditável né? É, eu sei. A maioria das pessoas perdeu a capacidade cognitiva depois do que aconteceu, então eles até desacreditam.

Voltando ao Bint, uma semana depois de o aplicativo ser Lançado, ocorreu o primeiro acidente:

HOMEM SEGUE DESAFIO DE APLICATIVO E MORRE CARBONIZADO

Márcio Carvalho de Ferreira, 32, usava o Bint, famoso app de disputas sociais. Ele seguiu um desafio de um usuário e colocou fogo em si próprio. A polícia está apurando o caso.

Já começou aí. Mas como eu disse no começo, revoltas não resultam em bosta nenhuma. Sempre acabam do mesmo jeito: o responsável faz alguma coisa pra agradar a galera e some. Aí tudo fica "bem".

O problema é que nem agrado a gente teve. O aplicativo continuou lá na loja. Pessoas baixaram. Mais merdas aconteceram.

Mas, claro que tudo tem um início.

- OK, obrigado, é... Yuri?
- Isso
- chama o próximo, por favor?

EdgeOnde histórias criam vida. Descubra agora