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(Taehyung's POV)

Cheiro de remédio, urgh, eu odiava aquilo. Aquelas pomadas que diziam curar ferimentos, aqueles líquidos de cores mortas que eu era obrigado a passar em meu corpo ferido, para mim era só uma ilusão, como uma forma de reagir ao que havia acontecido comigo. Remédios não iriam me curar. O ferimento era interno. Eu apenas insistia em passá-los em mim como uma forma de dizer a mim mesmo que eu havia feito alguma coisa. Mas que tolice, eu não fiz nada.

Não, reagir nunca foi de minha índole. Eu apenas me calei, fechei meus olhos e me imaginei em um palco imenso, com minhas crianças assistindo na primeira fila, onde eu encenava uma cena de Romeu e Julieta. Tentei imaginar que os murros que se chocavam em meu corpo eram apenas uma encenação, que o sangue era um disfarce, apenas para agradar o público que assistia à peça. E, se pensasse bem, era isso que aquilo era. Uma cena planejada, muito bem ensaiada, de um espetáculo apresentado dezenas de vezes para o mesmo público, os mesmos homens que me olhavam apreciando minha dor. As crianças cujas vidas eram sem sabor e sem cheiro. Por isso, talvez, o cheiro de meu sangue, o cheiro de um sangue vivo, poderia dar um toque de vida ao sangue morto dos espectadores.

Só me lembro do homem com os cabelos sujos de sangue se levantar, satisfeito, e me observar. Com uma força que eu não me lembro da onde tirei, me arrastei até a porta e saí engatinhando para fora daquele palco, conseguindo encontrar meu celular intacto em meu bolso e ligando para Jiwoo.

Eu não queria que Jiwoo visse aquilo, mas ela era a única pessoa que eu confiava para me levar em segurança para casa, e que não se vingaria dos que fizeram aquilo comigo.

Não, eu não queria vingança. Eu tinha pena deles, uma pena muito grande daqueles homens. Pobres homens que não tiveram a oportunidade de conhecer a magia da vida, e a verdadeira diversão.

Mas dentre aqueles seres gelados, havia um que me chamou a atenção. Não, ele não era completamente sem cor nem sem cheiro. Ele tinha olhos castanhos escuro, olhos que me hipnotizaram, olhos que escondiam algo diferente. Talvez eles não fossem tão hipnotizantes para os seus companheiros. Mas para mim, oh, para mim eles me lembravam as cores das folhas. As folhas de um broto que poderia se tornar uma rosa.

E foi aí que, em meio aquele cheiro de remédio me nauseando, um desejo diferente encostou em minha garganta.

Eu queria desabrochar aquela rosa.

Levantei-me rapidamente da velha cadeira de madeira polida, e olhei ao espelho com bordas prateadas à minha frente, com leves riscos em seu meio, a aparência antiga estampada. Meu rosto agora adquiria uma cor roxa, deforme, mas não mudou meu olhar.

Como me aproximar dele de novo? Será que dessa vez eu morreria? Não, o broto de olhos castanhos não faria isso comigo. Não entendi o porquê, mas talvez ele tivesse percebido que eu me aprofundei demais no seu olhar. Como eu fui atrevido! Mas não, não conseguia me conter. Eu iria vê-lo de novo. Eu iria desvendar a cor viva por trás de seu verde.

Me sentei novamente e aguardei. Eu esperaria as marcas do acontecimento sumirem, para encontrá-lo como da primeira vez. Eu iria mudar o roteiro.




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