Cap. 3 - Atitudes desesperadas

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Gente, eu sou católica, mas nessa história Deus vai ser um personagem, então se alguém tem algum problema com isso, encare como o Morgan No filme TODO PODEROSO. Desculpe, mas eu precisava falar e pedir desculpas às várias religiões monoteístas ou não. É apenas uma obra ficcional, então, tentem não surtar muito.

***

− Duvido muito que ele se lembre. Anjos não podem se lembrar da sua vida terrena, os mortos não podem se lembrar do que viveram. Senão, isso aqui seria um caos. Isso nunca aconteceu antes Marcos, por que aconteceria agora?
− Então... essa não é Sua vontade?
− Como seria? Seria Minha vontade que um morto voltasse a andar na Terra e causasse confusão e loucura? Claro que não. Transformei Camilo em anjo para que ele pudesse ajudar Renata. Se ela tivesse conseguido concluir seu intento teria ido para o inferno e Eu sei que ela não merece isso. É uma boa pessoa, uma grande alma e não pode colocar tudo a perder por causa da dor.
− Mas... outro anjo não pode auxiliá-la?
− Não. Ela está tão imersa na dor que não consegue sentir nada. Não tentou novamente porque, de maneira incoerente, percebe a presença de Camilo, porque ela precisa sentir a presença dele. Se eu mandasse outro anjo, ela ficaria imune, sem sentir a presença dele, desejando apenas reencontrar o marido. Ele quase falhou, mas conseguiu interferir na tentativa de suicídio dela. Se ele se afastar ela tentará novamente. Ela sente a presença dele apenas porquê... é ele.
− Humanos... complicados demais.

Deus sorriu, com indulgência.

− Você não nasceu humano, Marcos. Eu o criei diretamente anjo. Não sabe a dor que os humanos sentem, não sabe o desespero de estar tudo bem em um dia e no outro perder tudo. Eu sei. Eu sinto. E sei também que Renata Domingues não merece passar por isso e muito menos ir para o Inferno por simplesmente estar sofrendo.
− Mas... se o Senhor pensa isso... por que o levou então? Por que não o deixou viver?
− Porque chegou a hora dele, é claro. Eu decidi, há muito tempo, que Camilo morreria em um acidente. Era a hora dele, era o momento dele. Sabia o que aconteceria a Renata, mas... bem, algumas pessoas estão destinadas a sofrer. E infelizmente este casal está incluso na cota. Fiz o que tinha de fazer. Era a hora dele e simplesmente chegou.
− Entendo..., mas bem, o que faremos agora? Camilo continuará ajudando Renata?
− Sim. Realmente não vejo razão para se preocupar. Muitos humanos que viram anjos tentam no começo se lembrar da sua vida terrena, mas depois aceitam. Camilo não é o primeiro anjo que ajuda um ente querido e não será o último. Também não será o primeiro nem o último que tenta se lembrar de quem foi.
− Quando ele for para a casa dela verá fotos... filmes... coisas em que ele apareceu quando era vivo.
− Verá, mas não se esqueça: anjos não possuem reflexo, eles não podem se ver. E Camilo não se lembra de como era quando era vivo. Marcos, Marcos... quem o ouve falar juraria que não é um anjo de 250 anos.
− Como o Senhor disse, nasci anjo. Não sei como são as coisas para os humanos. É a primeira vez que guio um deles.
− Eu sei. E digo que sua tarefa terminou, por ora. Descanse um pouco e em breve receberá uma nova missão. Deixe que Camilo cuide de Renata. Ele fará isso melhor do que ninguém.
− Confio em Seu julgamento, Senhor... como não poderia confiar?
− Muitos humanos não confiam. Mas isso seria debater filosofia entre divindades e não daria certo. Deixemos as coisas acontecerem, Marcos. Tudo ocorrerá como deve ocorrer. Não se preocupe. Camilo não se lembrará da verdade.
− Como quiser, Senhor. − Marcos se retirou e deixou Deus sozinho.

Acredito que Deus, apesar de toda sua sabedoria, esqueceu de uma coisa importante. Ele criara o amor. E, por algum motivo, certos amores podiam superar a vontade divina... e lhes narro um desses casos.

A noite estava quieta e calma. Nenhum barulho se ouvia do lado de fora do hospital. Os passos dos enfermeiros ecoavam no corredor, o balançar das cortinas ressoava como uma canção de ninar para os ouvidos cansados.

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