Cap. 2 - Aquele que protege

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− Interessante... a sua mais nova ofensa para mim é incompetente. Bom saber, dama exterminadora.

Nem sequer fiquei constrangida. Cruzei os braços e encarei Danilo. Desde sempre eu e ele nos detestamos. E houve uma razão. Ele colocava a culpa em mim, mas era óbvio que a culpa era dele.

− Santiago, que prazer em vê-lo. Será que pode explicar a Renata que você não pode ser o médico dela porque tem ligação com ela etc e etc?
− Poderia. − ele disse isso enquanto beijava Renata no rosto e me encarou novamente.− Mas em nenhum momento isso inclui competência.
− Eu estava apenas sendo hum, como dizer... veemente. −sorri friamente.− Para Renata ter certeza de que você não era a pessoa indicada.

− Não precisa mentir, Laura. Eu sei que você pensa e faz propaganda do pior da minha pessoa. Mas, não posso culpá-la. Também não indico meus pacientes que pretendem pedir divórcios para seu escritório, pode apostar.
− Uma pena. Eles perdem uma excelente advogada.
− Vocês precisam ficar sozinhos? Posso pedir para a enfermeira me mudar de quarto.

Eu e Danilo nos encaramos constrangidos.

− Perdão, Renata. Vim aqui para ver como você está e lhe dar uma bronca. E, claro, fazer o mesmo que A exterminadora fez, mas ela se adiantou. De qualquer maneira, vim lhe oferecer meu apoio. E ajuda profissional, se necessário. Conheço ótimos médicos, e Laura pode avaliá-los se quiser.
− Não se preocupe, Danilo . Fico feliz que tenha vindo. Mas, embora Laura tenha usado de uma chantagem, irei no médico. Mas... não acho que isso vá me ajudar. Eu o perdi e tudo o que quero é ficar com ele.
− Deixa de besteira, Renata.
− Você precisa superar querida... e isso nem sempre é fácil. Eu adorava Camilo, ele foi um grande amigo. Mas partiu. Você...

− ... Tem que conviver com isso. Eu sei, Danilo, eu sei. Mas quem disse que eu consigo? – Renata revirava os olhos ao completar a mesma sentença que tantas vezes á havíamos discutido.

− Você conseguirá. – Parecia que eu era a única a ser firme ali.
− Tudo ao seu tempo. Você o enterrou recentemente. Dê tempo Renata. Em breve a morte dele parecerá mais suportável.
− Será Danilo?
− Tem que ser... de que outra maneira poderemos continuar vivendo se não temos esperança?

***

Observando a cena, Camilo perguntou para Marcos, sem olhar diretamente para ele, fitando apenas Renata.

− Acha mesmo que precisamos ajudar esta moça? Quero dizer, ela tem amigos que podem ajudá-la. Os outros dois é que parecem precisar de uma ajuda mais divina. Estão perdidos um do outro e confusos em relação aos sentimentos.
− Os outros dois tem uma missão a cumprir e não podemos ajudá-los. Deus disse que eles precisariam passar por grandes provações antes de se encontrarem. E a mulher chamada Laura precisa começar a acreditar, coisa que não podemos fazer por ela. Mas por que você resiste tanto em ajudar Renata? Vive tentando fugir de sua missão. Não gosta dela? Acha ela uma pessoa ruim?
− Não, não é nada disso. Pelo contrário, sinto-me extremamente mal ao vê-la desse jeito.
− Mas então, o que é?
− Ela... me passa uma sensação estranha. E tenho medo disso.
− Sensação estranha?

− Você me disse ontem, quando me falou que me tornei um anjo, que eu deveria me esquecer da minha vida terrena e me concentrar nos desejos do Senhor. Mas, cada vez que olho para essa mulher, sinto-me com vontade de descobrir o que fui e o que me ligou com ela quando estava vivo. É mais forte do que eu. E tenho medo disso. Ela me faz querer me lembrar do meu passado. Seria isso um teste?

Marcos pensou por um momento.

− Anjos não prestam testes. As coisas acontecem porque tem de acontecer.
− Mas então... por que ajudo uma mulher que pode interferir nos desejos de Deus?
− Talvez... estes sejam os desejos de Deus.

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