Capítulo VII

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As pessoas precisam entender que o coração é apenas um pedaço de carne, nada mais do que isso.

Era o restaurante mais caro da cidade, e lá estavam a Vanessa e o Alisson jantando. Quem os rodeava percebia o clima que estava rolando entre os dois, estava tudo muito lindo. Sabe, na verdade eles se combinavam muito, mas quem somos nós para querer unir alguém? Esta função é do destino, que no momento parece estar manutenção.
Não vai existir amor de novela na vida real, onde duas pessoas se olham e se apaixonam ao mesmo tempo.
Amor é algo criado com o tempo, cativado aos momentos, e regado a vida toda.
O amor não é brincadeira, mas também não é algo tão sério... É uma mistura de saberes e deveres, de solidão e gratidão... De vontades, desejos, e objetivos, ambos juntos.
No meio da conversa eu observava os brilhos nos olhares e a maldade na mente.

- Acho melhor a gente parar de beber. Já estou tonto.

Vanessa responde:
- Larga de ser mole homem, vamos continuar aqui até dia amanhecer.

- Eu queria muito, mas amanhã eu trabalho.

Vanessa: Estamos aqui a um tempão e você nem perguntou o meu nome. Creio que não atingir seus parâmetros...

- Drama a essa hora não por favor. Vamos fazer um combinado, você me chama pra sair outra vez e daí você me fala o teu nome.

Vanessa: Sabe sairfacilmente de uma situação, é você mesmo que eu preciso.

- Precisa pra que?

Vanessa: Você está muito bêbado mesmo, apenas disse que vou te convidar pra sair outras vezes.

- Fechado então.

Se despedem e partem.

O tráfico ainda era tamanho no morro das Morran. Além de adolescentes, começaram a recrutar crianças também, esses, eles sequestravam. O desaparecimento de crianças cresceu muito na capital baiana e nas cidades vizinhas, na televisão não se falava outra coisa a não ser isso.
Os adolescentes que tinham seus sonhos roubados, ao chegarem na comunidade já recebiam suas missões, já as crianças eram jogadas no porão juntamente com a prisioneira Camila para se adaptarem ao local. O lugar já estava apertado, fedido e impossível de se viver, mas nada podiam fazer.
Em um dia qualquer, o Kleiton um dos funcionários da favela, levou para lá um menino de rua, este era loiro, bem franzino e com o cabelo caído sobre o rosto, pouco se sabia sobre o garoto. Este foi um destaque no porão, era tão meigo e engraçado, só não tinha ainda conseguido arrancar um sorriso da Camila.

- Aqui se encontra a mulher mais bela da terra, qual teu nome?

Camila estava lendo a bíblia, e sem olhar para o garoto responde:
- Não importa. Me chame como quiser.

- Ok. Vou te chamar então de como quiser.

Todos sorriem enquanto a Camila contiua concentrada lendo. E o garoto insiste, só desta vez sem querer fazer graça:
- Eu não tenho mãe, nem pai, nem irmãos, não que eu saiba. Deus se esqueceu de mim eu acho, o problema é que eu nem fiz nada pra ele, a não ser que eu tenha sido pervertido em alguma vida anterior.

Camila direciona o seu olhar para o garoto e pergunta:
- Como se chama moleque?

- Eu não sei. Eu não tenho nome, você poderia me dar um.

Camila: Eu não sou boa nessas coisas. Eu tinha um filho, o Lucas. Era um menino tão lindo, ele me completava e me preenchia. Mas o levaram, e hoje eu sou apenas um ser ambulante a espera da morte.

- As alegrias geralmente não ficam, elas voam e fogem.

Camila: Mas ele se foi muito rápido, e o pior de tudo é que eu não tenho ideia de onde ele encontra neste momento. Nenhum rastro foi deixado. Hoje ele já tem mais de 10 anos.

- Eu não sei a minha idade, mas o povo na rua dizem que ainda tenho cara de menino pequeno.

Camila sorrir enquanto lágrimas descem do seu
rosto. Eu a observava, era difícil de entender os
sentimentos daquela mulher , uma pessoa boa ou ruim? Sabe-se lá. Os dois ficaram muito próximos, o que poderia ser um problema mais adiante quando tivessem que ser separados, até então o garoto não sabia que a Camila seria morta nos próximos dias.

A Thais ao fugir da comunidade pretendia sair do país, o que lhes faltava era só um pouco de grana para completar o dinheiro da passagem. O jeito era recorrer ao Renato, e assim fez. Rapidamente conseguiu a localização do moço e seguiu até lá.
- Renato o que aconteceu com você meu mano, quem fez essa crueldade com a sua pessoa?

Renato: Você Thaís.

- Nós tínhamos um acordo e você aceitou. Jamais poderíamos imaginar que algo tão cruel poderia acontecer. Agora me diz de quem é a culpa de tudo isso, eu quero me vingar.

Renato: Natália, Vanessa, Vanusia e o piloto. Só esses.

- São muitos.

Renato: Mate apenas a Vanusia, foi ela quem me deixou cego.

- Tem algo estranho nesta história, a Vanusia não apareceu na favela depois que tentamos tomar posse de lá.

Renato: Ela estava internada comigo neste mesmo quarto até agora a pouco.

- Vou ir atrás dela, mas antes amigo, eu preciso de uma grande ajuda. Estou precisando de grana.

Renato: Foi pra isso que veio aqui né, sabia que não estava preocupada com minha saúde. Mate a Vanusia e eu te dou quanto precisar.

Thaís não responde nada e sai nervosa do quarto.

A Vanessa foi quem buscou a Vanusia no hospital, já fazia um bom tempo que não se falavam e tinha muito assunto para colocar em dia.
- Mana não estamos mais seguras nem dentro da nossa favela. Aqueles delinqüentes acabaram conosco.

Vanessa responde:
- Vamos dar a volta por cima, eu não aceito ser pisada pela nobreza de jeito nenhum. Eles não conseguiram roubar a nossa comunidade mas estragaram nossa vida em grande escala.

Enquanto conversavam, surgem alguns tiros.

- Que droga é essa? - Interroga a Vanusia.

Vanessa: Eu não faço ideia.

A moça acelera, mas uma bala  perfura o pneu do seu carro e ela teve que parar. O veículo que vinha logo atrás realizando os disparos estaciona a uns trinta metros de distância do carro em que se encontram as gêmeas Morran, e uma moça desse.
Vanessa fica indignada ao olhar pelo retrovisor e ver que a atiradora era a Thais.
- Mana eu não acredito. Como que essa vadia fugiu e ninguém viu.

Vanusia: Acredito que viram mas temeram contar.

-  Primeiro ela tenta nos roubar e agora quer nos matar, eu não entendo.

As gêmeas descem do carro no mesmo momento, e começam atirar em direção a Thais, essa por sua vez recua e foge.

A vida seria mas fácil se tivesse roteiro, porém, talvez seria ruim. Mas viver sem saber onde vamos chegar é complicado demais. Planos, metas, objetivos, sonhos, desejos... Vamos alcançar? A vida seria mais fácil se tivesse roteiro.

Triste vingança Onde histórias criam vida. Descubra agora