Uma menina no porão

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Era noite, escuro, e bastante frio naquele porão sujo, meu aniversário de 7 anos estava cada vez mais próximo e minhas chances de ser uma bruxa cada vez menores também. Se eu fizer alguma mágica acidental até meu aniversário de 7 anos, talvez mamãe me tirem daqui, mas se eu não fizer, vou ser realmente um aborto e nunca vou deixar esse porão.

Não sei que horas são, só que ainda deve estar de dia ou o sol já está se pondo lá fora.

A duas noites foi o pior dia da minha vida. Sabia que estava próximo do meu aniversário e que se eu não fizesse magia como o Regulus, meu irmão mais novo, ou o Sirius, meu gêmeo, eu seria um aborto, no fundo eu me sentia incomodada por não poder fazer magia como os outros, mas não achava que isso podia ser tão ruim.

Mamãe disse que eu era uma abominação, um aborto da natureza e que estava manchando a árvore genealógica da família e até mesmo a casa, foram as palavras mais crueis que eu já ouvi. Eu chorei, tentei sair do aperto que ela fazia no meu braço, Sirius tentou impedir ela mas ela ameaçou dizendo para não obrigar ela a usar a Maldição Imperius nele ou algo pior, no final acabei nesse porão.

Ainda estou com as mesmas roupas que usava há dois dias só que agora cheias de poeira, estou cheia de fome mas a única coisa que me deram desde que entrei aqui foram dois pedaços de pão velho e um copo de água que papai me trouxe ontem. Achei algumas coisas aqui no porão, como um piano velho e com teclas faltando, vários frascos de poções, livros e um espelho rachado que estou encarando agora, estou usando um vestido de listras vermelhas e roxas, meu cabelo negro que chega a altura dos cotovelos está bagunçado e até a fita branca -que agora parece mais cinza por causa da sujeira- estava com o laço aparecendo pouco acima da minha orelha, pelo menos meus olhos azuis-acizentados estão os mesmos.

Eu sabia que minha família não tinha pessoas boas, até porque eu não acho que seja comum cortar as cabeças dos elfos domésticos e pendurar elas nas paredes, eles sempre diziam que os trouxas e os mestiços eram nojentos, que nós nascemos acima deles, mas nunca entendi o que eles faziam de tão mal, sentia que não pertencia a essa família e que eu e o Sirius viemos parar aqui por engano. Será que eles fazem isso com os trouxas? Com os mestiços? Eu pegaram leve comigo porque sou da família? Se isso é pegar leve, não quero nem imaginar o pior.

— Ally? – Ouvi a voz de Sirius abafada, me chamando pelo apelido que ele costuma usar quando fala comigo quando mamãe não está por perto, ela sempre nos quer sérios, não gosta de "bobagens" como esses apelidos. Sempre os achei fofos.

A voz parecia estar vindo de cima, de trás da porta que levava ao porão. Me levantei do chão de corri desajeitada para as escadas que levavam a porta branca. — Estou aqui, Sirius.

Teve um pequeno momento de silêncio até ele falar de novo.

— Encontrei algumas velas e fósforos para você, sei que não gosta do escuro, mas a porta está trancada e não consigo te dar. – Ele diz com um quê de tristeza na voz.

— Obrigada mesmo assim Sirius... – Sabia que ele não gostava de eu estar aqui talvez até tanto quanto eu. Ele sempre me entendeu, talvez fosse coisa de gêmeos mesmo que não sejamos idênticos. — Eu tô com medo...

— Talvez a mãe te tire dai, falta menos de uma semana. – Tentou me dar esperança. — Sinto muito, Alioth.

Antes que eu pudesse responder minha barriga roncou. Olhei para baixo das escadas e vi a única fonte de luz naquele lugar horrível, uma janelinha que dava para o gramado fora da casa. — Tem uma janelinha que dá aqui pro porão, tá lá fora....você pode trazer algo para mim comer?

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