2

90 7 0
                                    

  A mulher gritava de dor. E depois ficava quieta. Linhas arroxeadas se formavam ao longo de suas costas. Jake ergueu novamente a chibata,fazendo-a descer com um estalo. A mulher deu um pinote, gritou e depois falou: 

  — De novo.

 Raramente dizia algo além disso. Não era muito falante. Não como algumas de suas clientes. As gerentes, contadoras e escriturárias presas em relacionamentos sem sexo estavam sempre loucas para falar — loucas para ser apreciadas pelo homem que batia nelas por dinheiro. Esta era diferente;um livro fechado. Nunca contou como o encontrou. Ou por que vinha.Dava suas instruções — suas necessidades — de forma clara e ríspida, e em seguida o mandava ir em frente. Ele sempre começava prendendo os pulsos dela. Duas tiras de couro com tachinhas, bem-esticadas, de modo que os braços dela ficavam acorrentados à parede. Dois grilhões de ferro prendiam seus pés ao chão. As roupas estavam cuidadosamente arrumadas em uma cadeira. E lá estava ela,acorrentada, só com as roupas íntimas, esperando pela punição.Não havia nenhuma performance; nada de "Por favor, não me machuque, papai", nem "Sou uma menina muito, muito má". Ela só queria que ele a machucasse. De certa forma, era um alívio. Todo trabalho vira rotina depois de algum tempo — e às vezes era bom não ter de satisfazer as fantasias de gente patética se fazendo de vítima. Ao mesmo tempo, era frustrante a recusa dela em ter um relacionamento normal com ele. O elemento mais importante em qualquer encontro sadomasoquista é a confiança. O submisso precisa saber que está em segurança; que seu dominador conhece a personalidade daquele a quem comanda, assim como suas necessidades, e que pode oferecer uma experiência gratificante,confortável para ambas as partes. Se não há essa confiança, acaba se tornando agressão, ou mesmo abuso — e essa não era, definitivamente, apraia de Jake. 

Então ele ia tateando — uma pergunta aqui, um comentário ali. E, com o tempo, foi adivinhando o básico: a mulher não era de Southampton, não tinha família, estava chegando aos 40 e isso não a incomodava. Deduziu, a partir das sessões, que o negócio dela era a dor. O sexo não entrava na história; ela não queria ser estimulada ou excitada, queria ser punida. As pancadas nunca iam muito longe, mas eram fortes e incansáveis. A mulher tinha corpo para aguentar: era alta, musculosa e bastante forte. E algumas cicatrizes sugeriam que não era uma novata no universo sadomasoquista.No entanto, com todas as suas sondagens e perguntas escolhidas com critério, só havia uma coisa que Jake sabia com certeza sobre ela. Uma vez,enquanto se vestia, o crachá com uma foto dela escorregou do bolso da jaqueta e caiu no chão. A mulher o pegou depressa; pensou que Jake não tinha visto, mas estava enganada. Jake achava que entendia um pouco as pessoas, mas aquela mulher o surpreendera totalmente. Se não tivesse visto o crachá, jamais teria imaginado que era policial.  

Uni-duni-têOnde histórias criam vida. Descubra agora