Capítulo 5 pt.1

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p.o.v Jungkook

Estou diante ao espelho

Quem é essa pessoa que ele reflete?

Ninguém quer saber.

Não é como se alguém se importasse, é apenas aquele gajo estranho da escola. Aquele que está sempre sozinho, aquele que todos olham de lado, aquele que ninguém gosta.

Eu odeio-me.

É sempre o mesmo, ninguém tenta aproximar-se de mim e comigo é o mesmo... É como se eu não existisse e não consigo fazer nada para mostrar o contrário. Eu não consigo ter uma conversa sem pensar que vão usar-me e tratar-me como merda. Eu sei que afasto as pessoas, mas não é oque eu quero!

Ter alguém para falar de como correu o meu dia ou o quão cansado eu me sinto. Alguém para partilhar momentos...

Gostava de voltar a ter um amigo.

Mas quem é que ia gostar de me ter como amigo? Pfft quem é que ia gostar de mim se nem mesmo eu gosto?

A água chegava-me ao peito.

Deitei-me até cobrir todo o meu corpo e sustivea respiração até que os meus pulmões acabaram por implorar por oxigénio. Algo me puxava para o fundo impedindo-me de me levantar. Uma vontade de deixar tudo para trás.

E se eu simplesmente perdesse as forças e não voltasse ao cimo?

Ainda não tenho coragem. Voltei ao cimo e enchi os pulmões, nem suicidar-me eu conseguia. Abracei o meu corpo e agora a água chegava me ao pescoço. As lágrimas desvaneciam-se com a água e os meus soluços ecoavam pela casa de banho.

Ao meu lado estava a minha "melhor amiga", ela ajuda-me quando chego ao meu limite e o caderno deixa de ser opção. Agarrei-a e desabafei todos os meus sentimentos, cada corte era uma razão para me odiar. E tantos que eram.

Uns mais profundos que os outros, até que a minha visão só enxergava linhas retas num tom de vermelho vivo. Mergulhei o braço na água e pus a lâmina de lado, o sangue e a água tornaram-se num só dando cor a aquela banheira. Saí e encostei-me á banheira abraçando as pernas enquanto via sangue escorrer pelo meu braço, sentia-me totalmente vazio.

Pode ser que mais tarde eu não volte ao cimo. Eu só preciso de mais uma razão para continuar aqui.

                                                                              [...]

20-02-2009

-Vem lá Jungkook. O doutor é muito simpático ele vai te dar um doce depois disto! - A minha mãe sorriu para mim agarrando na minha mão e puxando-me.- Eu não quero ir mãe... Eu não quero falar com o doutor...

-Porquê Jungkook? Vai fazer-te bem. - Ela disse num tom de encorajamento, agachando-se á minha altura colocando a sua mão na minha face. -Tu és um menino forte não és?

Ela perguntou e eu abanei a cabeça dizendo que não. Eu não era forte.

-Ah Jungkook claro que és forte! Tu tens 10 anos, já és um homem! - A minha mãe sorriu dando -me um beijo na testa. -Agora vamos. Depois eu passo na loja de brinquedos e compro-te aquele brinquedo do Iron Man que tu tanto queres! O que achas?

Consegui sentir os meus olhos brilharem e um sorriso a formar-se nos meus lábios assim que a mãe disse aquilo! Há tanto tempo que eu queria aquele brinquedo, mas ela sempre dizia para eu esperar e que um dia iria comprá-lo para mim. Assenti rapidamente com a minha cabeça fazendo a minha mãe rir e agarrar na minha outra mão que não estava magoada e cheia de ligaduras.


-Olá o meu nome é Byun Baekhyun e tu como te chamas? - O homem de cabelo preto á minha frente perguntou com um sorriso simpático. -Jeon Jungkook... - Falei enquanto brincava com as minhas mãos no meu colo. Porque é que ele estava a perguntar aquilo? Ele claramente sabia como eu me chamava, ele tinha um papel com o meu nome naquela capa.

-Então Jungkook, já deves ter percebido que agora está tudo diferente. Já não estás num psiquiatra mas sim num psicólogo. - O psi..culogo?...Psiclugo  explicou e eu fiz uma cara meio confusa.

-Psi...Psiclugo? - Perguntei.

-Não! Não! - O doutor riu de uma maneira estranhamente engraçada. Mas eu disse alguma piada? - Não é 'psiclugo' é Psi-có-lo-go. Psicólogo. - Sorriu.

-Como estás mais crescido agora também vais ter um psicólogo como a tua mãe. Eu vou ajudar-te com todos os teus problemas, ou ao menos tentar. Mas para isso, tu tens de me ajudar também. Eu não quero que me vejas como um médico, mas sim como um amigo. - O Doutor Baekhyun explicou num tom calmo.

-Tu vais ter de me explicar o que se passa aí nessa tua cabecinha. - Inclinou-se para a frente e tocou com o seu dedo na minha testa sorrindo.

Não gostei. Não gosto quando as pessoas me tocam especialmente se forem pessoas que não conheço.

-A tua mão está magoada. Posso vê-la? - Ele perguntou após alguns segundos de silêncio. Hesitei por um momento, mas logo a seguir o Dr. Baekhyun estava a tirar as ligaduras. -Como é que fizeste isto?

Ele olhou para mim com uma cara de preocupação e eu desviei o meu olhar para baixo. - Podes contar-me. Eu sou teu amigo.

Amigo...?

- ...Fui eu...- Murmurei. - Foste tu que fizeste isto a ti próprio? - Assenti que sim com a cabeça.

-Como? - Perguntou, voltando a por a ligadura na minha mão. Recolhi-a e apontei com a mesma para a minha boca.

-Com os teus dentes? - Voltei a assentir que sim com a cabeça desta vez mais lentamente. Estava envergonhado. Não queria que ninguém soubesse disto. Não queria que me achassem... estranho.

-Estavas zangado contigo mesmo quando fizeste isso? - Fechei os olhos e murmurei um 'sim'.- Que mais fizestes quando estavas zangado contigo mesmo?

O doutor só fazia perguntas e as únicas respostas que eu tinha para dar eram 'sim' ou 'não'.

-Puxei os cabelos...e gritei.

-Porquê? Achavas que merecias? - Dei de ombros. Não sabia o que dizer, estava cansado e farto daquela conversa. Não me lembro de nada do que aconteceu naquele dia. Só me lembro de estar a chorar nos braços da minha mãe enquanto ela murmurava palavras para me acalmar.

-É a primeira vez que fazes isto? - Ele suspirou antes de perguntar. As lágrimas presas nos meus olhos finalmente caíram.

-Não... - Um soluço escapou da minha boca. Ouvi Baekhyun levantar-se da cadeira e senti um par de braços á minha volta.

-Desculpa, ainda deve ser difícil para ti. - Ele disse num tom reconfortante olhando-me nos olhos. -Mas eu ainda quero que me digas o que sentes, mas só quando estiveres preparado. Não te quero forçar a nada, Ok?

-S-Sim - Assenti com a cabeça e Baekhyun puxou-me para outro abraço.

Depois de me acalmar o Dr. Baekhyun pediu-me para tentar descarregar a minha raiva em outra coisa em vez de o fazer em mim próprio. Algo como um papel, onde possa riscar com uma caneta e carregar com força para aliviar a minha vontade de me magoar.

A partir desse dia passei a ir todas as sextas ter com o Dr. Baekhyun e contava-lhe sobre o meu dia e se o seu método tinha resultado.

There Are No Happy Endings [TaeKook/Vkook] Pt-PtOnde histórias criam vida. Descubra agora