DIA 4

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13:00

Enquanto almoço, observo pelas paredes de vidro do refeitório as palmeiras enfileiradas dançando conforme o vento as conduz. Entre uma garfada e outra eu viro meu rosto para o lado e meus olhos parecem dançar junto. Eu quase sinto o vento bater no meu rosto, mesmo sabendo que não está.

Olho ao redor e estou cercado de pessoas e o tumulto que causam. Não que estejam me incomodando tanto, mas de tantas pessoas ao meu redor, nenhuma delas está sentada ao meu lado. Eu odeio estar ou me sentir sozinho, mas dessa vez eu escolhi estar. Às vezes gosto de ter um tempo só para mim. Para pôr meus pensamentos no lugar.

Em um ambiente com paredes de vidro e colunas de concreto pintadas de branco, deveria ser fácil de encontrar um cara vestindo vermelho. Mas para a minha surpresa, Bruno aparece na fila para pegar o almoço.

Ele não está vestindo vermelho.

Enquanto a fila anda, tento não demonstrar espanto ao ver Bruno vestindo um suéter de lã branco floral. Ele ainda está longe e olhando para as bandejas. A fila é grande e ele acabou de entrar nela. Não tenho certeza se ainda estarei aqui quando ele finalmente conseguir seu almoço.

Olho para o início da fila e vejo a garota de ontem. Eu poderia chamá-la de vizinha?

Finco o garfo no prato de macarrão e giro lentamente várias e várias vezes para não terminar de comer até ela se sentar. Só dei três garfadas, mas não demoro tanto para comer. Nem um pouco, na verdade.

Ela caminha pelo refeitório, procurando onde se sentar. Ela parece varrer o lugar com os olhos e ao me notar, caminha em minha direção e se senta de frente para mim.

- Oi. - Isso sai com tanta naturalidade da boca dela, que me causa estranheza.

O sol bate em sua pele clara e sua bochecha esquerda parece brilhar. Hoje sua franja está dividida ao meio e faz seus olhos aparentarem estar menores. Mas também não me lembro se já não estavam ontem.

- Oi - digo de boca cheia.

- Você esqueceu de pegar suas coisas de volta. Eu tentei te devolver, mas você sumiu depois da aula. - Ela abre a mochila e põe meu estojo em cima da mesa. - Eu não sabia que gostava tanto assim de macarrão.

- É meu prato favorito, na verdade. - Estou me esforçando bastante para relaxar. Está dado certo? Eu acho que sim. - A não ser que seja do tipo gravatinha. Aquilo é uma aberração comestível. - Parece que sim. Estou sendo espontâneo, mas isso não me anima muito. É algo bom apenas até eu começar a dizer coisas aleatórias ou algo que ela poderia dormir sem ter ouvido.

- Eu gosto de macarrão, mas não o suficiente pra deixar meus "bebês" na mão de um estranho conhecido e sumir. - Então ela me reconhece?. - E o mais engraçado é que eu só queria os lápis. Você me deu um estojo inteiro. - Ela ri e dá um gole no suco de caju.

Olho para o prato dela e noto que quase não há comida nele. Ela come tão pouco assim?

Não tenho muito o que dizer para ela. Talvez agradecer por ter devolvido o meu estojo, mas sem querer parecer rude, isso não é mais que o dever ético dela.

- "Estranho conhecido" - repito.

- Sim - diz ela. - Moramos na mesma rua, não é? Eu poderia ter te confundido, mas o cabelo branco te entrega.

Sorrio sem abrir a boca ao confirmar com a cabeça.

- Como a sua avó?

- Ouma? Bem, eu acho. Pelo menos, da última vez que a vi. - Essa não foi a minha melhor resposta.

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⏰ Última atualização: May 14, 2017 ⏰

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