E que tipo de pessoa eu sou, Annie?

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Pego uma bala roxa da mesa de centro do consultório, jogo com a cabeça para trás no apoio do sofá preto, e arremeco a bala para cima, ela cai em minha boca.

- Kayla! - minha psicóloga chama.
- Annie! - falo seu nome no mesmo tom, agora olhando para o teto forrado da sala.
- Kayla! - repete ela.
- Annie! - falo novamente.
- Oh! Cale a boca, Kayla. - ela joga as mãos para o ar e eu começo a rir.
- Desculpe Dra.Grinnell! - eu falo em um tom de ironia.
- Que coisa feia Kayla. Ironia não esta em um dos sentimentos bons que lhe citei.- ela cruza as pernas.- Mas ja que você gosta desse assunto vamos direcionar nossa consulta de hoje em cima desse tópico. - ela diz.- Kayla, A ironia é a arte de gozar de alguém, de denunciar de criticar ou de censurar algo ou alguma coisa. A ironia procura valorizar algo, mas quando na realidade quer desvalorizar, incluindo também um timbre de voz para caracterizar melhor o ato. Apesar disso, a ironia não é apenas usada em relação a uma pessoa, mas também para fazer referência a uma situação ou acontecimento engraçado ou curioso.- ela olha diretamente para meu rosto e pronúncia cada palavra.- A ironia pode ser de três tipos. a ironia oral, quando é dita uma coisa e pretende expressar outra. A ironia dramática, ou a ironia satírica, quando uma palavra ou uma ação coloca uma situação em jogo, e, por exemplo, no teatro, a plateia entende o significado, mas a personagem não, e a ironia de situação que é a disparidade existente entre a intenção e o resultado da ação. Já a ironia cósmica ou infinita é a disparidade entre o desejo humano as realidades do mundo externo. Na ironia antífrase, acontece o engrandecimento de ideias erradas, funesta, e quando se faz uso carinhoso de termos ofensivos.
- Tirou isso de que livro? - falo - E em quê isso me ajuda Dra.Grinnell? - pergunto pegando outra bala.
- Não tem problema algum no uso da irônia, Kayla. Na hora certa e no lugar certo, claro. Mas na hora e lugar errado, ou com uma pessoa como você, isso pode ser a ruína.
- E que tipo de pessoa eu sou, Annie?- eu a encaro?
- Uma pessoa doente, alguém que eu quero muito ajudar, alguém que eu tenho um afeto enorme desde que conheci a história.- eu olho para o chão. - Kay você precisa de ajuda.
- Esse é o seu trabalho.- falo.
- Mas apenas eu não basto, fale com sua mãe ou seu namorado. Kayla, fale para alguém do abuso.
- Muito fácil, claro! - desvio o olhar e aperto os olhos para segurar as minhas companheiras de todas as noites. Não quero chorar novamente.- Ninguém se importa.
- Querida, ja pensou em falar com seu pai.- ela fala.
- Em ipotese alguma irei falar com ele.- passo a mão pelo cabelo. - Ele deixou eu e minha mãe. Por culpa dele, Tobias me maltratou.
- Eu ainda quero que fale para alguém.
- Eu não entendo como minha mãe não percebeu que seu marido tem estuprado sua filha durante meses. Ela me vê chorar pelos cantos da casa e sequer pergunta a razão, meu namorado só esnta comigo por aparencia, e por que ate hoje tenta me me levar para a cama, também não pergunta se dentro de minha casa eu me sinto protegida. Annie, eu não sei mesmo o que fazer! Não tenho amigas de verdade, as únicas garotas que converso são as da torcida, não posso falar com ninguém sobre isso, apenas você.
- Oh, Kayla... eu quero te ajudar, mas sua teimosia não colabora.
- Ninguém pode me ajudar, Annie. Eu tenho que ir, minha mãe me espera no Satisfeitos.. - satisfeitos é o restaurante de minha mãe, ela herdou de minha avó. - Alex vai me encontrar lá hoje, segundo ele vamos sair para um lugar que será inesquecível.
- Olha que legal, isso pode ser uma boa. Se divirta com seu namorado, tente parar de ser tao negativa, tente se abrir com ele.- ela fala.
- Talvez. Tchau Annie. - me levanto e saio da sala.

impressionante que eu tenha que pagar para alguém me ouvir, quando minha própria mãe nao faz isso.

▪ ▪ ▪

- Realmente, nunca vou esquecer. - falo para Alex, ele me trouxe para uma tenda de pastel. Olha, eu amo pastel mas para um encontro romântico na qual ele havia dito, isso nem chega perto. reviro os olhos
- Que bom princesa. - ele sorri, ele usa sua camisa  branca e calsa jeans azul, seu cabelo louro bagunçado e seus olhos azuis e pele branquinha. Ele pega seu celular e começa a digitar.
- Amanhã vai me buscar?- pergunto já sem assunto.
- Aham.- ele continua a escrever não sei para quem em seu celular.
- Poxa, Alex. Você bem que podia desligar isso um pouco e me dar atenção, você acabou de chegar de viagem, me fale o que aconteceu em Los Angeles com sua mãe? - falo debruçando sobre a mesa e olhando-o
- Eh.... - ele escreve mais um pouco e depois me olha. - O quê você disse? - eu me encosto novamente na cadeira e bufo.
- Nada não, esquece.
- Okay...- ele da de ombros.
- Com quem que você tanto conversa? Não é a Camille, né!? - Camille é outra garota do meu grupo de torcida da escola, ela sempre deu em cima dele, sempre que pode. A última vez que fez eu esfreguei a cara da cadela no chão.
- Claro que não é a Cami. - ele fala me encarando.
- Ata, então me deixa olhar esse celular! - estico uma mão.
- Não confia em mim, princesa? - ele fala com uma carinha que da vontade de socar.
- Não! - revirei os olhos.
- Eu nunca te enganei, sempre te disse tudo. - ele suspira e se levanta vindo até mim e me puxa para um abraço. - Eu te amo. - isso me quebra, parece que todas as vezes que ele fala isso meu corpo treme, nunca alguém falou isso para mim.
- Alex...- eu o aperto no Abraço. - Perdoe-me, eu estava enciumada, eu te amo. - eu o beijo, ele segura minha bochecha, e com a mão livre minha cintura. No fim do beijo ele me da uma pequena mordida no lábio inferior. Depois andamos para perto do carro e nos encostamos nele.
- Ah! Aconteceu tanta coisa em Los Angeles, você nem perguntou mas vou falar mesmo assim. - revirei os olhos. É, perguntei não. - Minha mãe resolveu trazer meu irmão para morar conosco.
- E seu pai?
- Surpreendentemente não disse nada.- fala. O pai de Alex se divorciou para ficar com uma mulher mais nova, e levo seu irmao de 3 anos com ele.
- Que legal.- bocejo, minha mãe tivera me feito trabalhar o dia inteiro hoje.
- Esta cansada meu amor? - ele pergunta olhando o celular.
- Sim, um pouco. - passo as mãos nos olhos.
- Podemos ir então?- ele fala.
- Claro. - ando até seu carro.
- Kayla... princesa, eu ainda tenho que passar em outro lugar, posso te deixar em um Táxi? - era o que faltava, ir embora em um Táxi. - Se importa? - Sim!
- Não. - ele me acompanha até o ponto
Depois de alguns minutos o Táxi chega.
- Alex, pode me dar algum dinheiro para pagar, eu não trouxe nada.- digo me lembrando que deixei minha carteira no balcão do restaurante de minha mãe.
- Claro que dou.- ele tira de sua carteira uma nota, depois se abaixa e beija minha bochecha. - Depois você me devolve.- ele pisca pra mim.-Tchau princesa. - entro no carro. eu sei, eu sei, ele e incrível... dou risada com meu pensamento. logo lembrando da Dra.Grinnell, e sua conversa sobre ironia. 

acabo adormecendo na janela do carro.

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