um

62 11 7
                                    

   Aquela era uma mórbida visão. Luke deitado no sofá cinza do pequeno apartamento na Downtown Avenue, os carros marcavam presença lá embaixo na rua, buzinando.

Eram 7:15 da manhã e Luke Hemmings estava com uma garrafa de cerveja na mão, um heineken quase intocada, ele preferia vodca mas o baixo orçamento não o deixaria usufruir de tal luxo. O que era deprimente.

Seu olhar estava centrado na televisão, uma de 45 polegadas grudada na parede. O jornal local dava a notícia de Ashton que nos últimos dois dias causara um caos na cidade pequena de Lake Grove que tinha apenas seus 53.400 habitantes, 53.399 agora.

Os jornais ostentavam fotos do corpo morto e pútrido de Ashton Irwin, o caso que Luke chamava de “tragediazinha”, tinha estômago forte e mesmo que negasse, uma porção pequena do corpo dele queria que Ashton Irwin pagasse pelos seus pecados mas não de maneira tão cruel, imaginou a dor na própria carne e tremeu, Luke não conseguia.

Era dor demais.

Seu estilo estava despojado, estava aliviado e até relaxado demais (resultados de uma gozada no chuveiro, nada demais), estava com os shorts de malha que marcavam demais o meio das pernas e a camisa G de gola V que usava para os dias de calor... Aquele era um dia de calor mesmo que a cidade estivesse fria e as pessoas estivessem com o corpo de Ashton na cabeça.

Massacrado.

Enquanto Luke estava deitado suas mãos caíram do sofá e tocaram a caixa de Camel que estava ao lado do cinzeiro, no chão, o isqueiro amarelo estava ao lado, tudo de maneira prática. Ele tateou e pegou um cigarro, outros seis saíram da caixa e Luke tirou o isqueiro do chão. Tremendo, Luke levou o cigarro aos lábios e acendeu-o dando o primeiro trago e soltando a primeira nuvem de fumaça.

Relaxado.

O celular de Luke vibrou e ele levou a mão até o braço do sofá cinza para pegar o iPhone, ele acendeu a tela e deu outra tragada.

Tayte H.: Gato, estou em Lake Grove, no café Troy. Se quiser me encontrar.

A mensagem do TINDER veio junto com um anexo. Luke não queria ver Tayte Hanson, Luke não queria ver ninguém. Era sábado de sol e o sol de Lake Grove era outro tipo de sol, era insuportável.

Tayte era bonito, beijava bem e fodia bem, mas Luke não queria beijar e nem foder, ele queria tomar um café e era isso que ele faria.

Luke Hemmings: OK, estou indo.

Apenas um café.

*   *   *

   E Luke foi. Era um café aconchegante e familiar, lá onde passara os momentos mais felizes e infelizes da sua vida, conhecia esse café há 22 anos e o melhor é que era perto de casa, uns três quarteirões descendo e descendo a pé, meia hora quase mas nada demais, Luke aguentava.

O garoto agora estava de calças jeans pretas e simples, uma camiseta branca com uma estampa, o desenho de uma moto cinza e as palavras: take a rose em preto, ele não entendia bem o significado daquela camiseta, não sabia se era especial ou alguma coisa. Os cabelos estavam uma bagunça e estava com o piercing e o anel de côco no dedo anelar. A barba por fazer, uma coisa que Tayte gostava de tocar mas que Luke não o deixaria tocar hoje.

Quando Luke entrou e sentiu o cheiro de café ele se inundou em uma sensação familiar mas não podia se demorar naquela sensação então, procurou com os olhos azuis os olhos azuis de Hanson, os cabelos grandes e castanhos lisos, o garoto que era exatamente igual a foto do TINDER. Um dos casos raros.

Tayte estava sentado ao fundo, a luz do sol batia nas sua costas pelos furinhos que a janela tinha, estilo. Era a mesa mais ao fundo, perto de uma estante de livros e a mesa se dividia entre um assento acolchoado rosa bebê. Um café estava soprando fumaça em Hanson que olhava com a cabeça baixa pela mesa.

Várias pessoas estavam no café, ele era cheio por ser uns dos únicos cafés na cidadezinha do Oregon.

Luke passou por todas as mesas e se sentou ao lado de Hanson fazendo o outro olha-lo e abrir um sorriso. Hanson o cumprimentou com um selinho breve nos lábios e Luke não fez nada.

- Oi - disse Hanson sorrindo.

- Oi Tayte, que recepção. - disse Luke, olhando-o e sorrindo depois, sorrindo vergonha.

- O quê? Não gostou?

- Sim, quero dizer, é que você nunca fez isso. - disse Luke.

O atendente veio perguntar o que ele ia pedir e Luke pediu um chocolate quente com canela, um sabor que quase ninguém pedia, achavam afrodisíaco demais, Luke gostava de coisas afrodisíacas. Um Black de canela por exemplo, pensou Luke consigo.

- Por que você me chamou? - perguntou Luke e Tayte tirou seu celular do bolso, um LG preto com a tela rachada em dois de ponta à ponta. - O que é isso?

- O celular de Ashton Irwin - Tayte disse. Luke arregalou os olhos e ficou boquiaberto. - Trouxe pra cá porque​ tenho a porra da confiança em você!

Luke engoliu em seco e seu chocolate quente chegou, fumegando, o cheiro de canela invadiu o ar mas ele não ligou, não ligou para o marshmallow que estava ali sugando o chocolate quente.

As mãos se juntaram em cima da mesa. Tayte colocou o LG ali e encostou a cabeça no banco acolchoado, suspirando.

- Como conseguiu isso? - Luke perguntou envolvendo a xicara azul do chocolate com as mãos e queimando-as um pouco.

- Do corpo, ele estava morto perto da minha janela, por que diabos acha que saí da cidade dois dias atrás?

- O que tem aí?

- Mensagens com um tal de Michael Clifford - disse Tayte e segurou as mãos de Luke, acariciando sua mãos.

Essa era uma situação estranha. As coisas só pioraram a partir desse ponto, Luke sentia isso, sentia o mal presságio ressoando em sua mente cantando Jingle Bell Rock, essa música era sempre um problema. Não queria o toque de Tayte mas estava aceitável, precisava de algum carinho mesmo que fosse de uma foda amiga. A confiança não era mútua, Luke não confiava em Tayte, nem pra isso nem pra transar sem camisinha.

- Me mostre - disse Luke.

Tayte colocou o LG na mesa de madeira branca e desbloqueou, não tinha senha, o que era estranho... Luke resolveu não perguntar, Tayte podia guardar algumas habilidades de hacker secreto, um Mr. Robot na vida real.

O wallpaper do celular era uma foto de Ashton com Calum Hood, logo essa imagem foi embora e deu lugar as mensagens de Ashton, as mensagens do topo tinham o nome de Michael Clifford, com uma foto meiga.

Luke pegou o celular nas mãos, as mãos estavam tremendo de uma forma assustadora. Tayte colocou o braço envolta do pescoço de Luke enquanto ele lia as mensagens.

MC: você me deve...

ASH: eu sei, não arranjei dinheiro pra pagar isso, eu vou... Mas até lá você precisa se controlar.

MC: se eu tiver que te dar socos mais uma vez eu vou. Você acha que transar comigo foi um pagamento pelas 56g de cocaína, Ashton? Sua bunda não vale um décimo dos 2.324 que você me deve.

ASH: vai se foder...

A partir daí, as mensagens acabaram. Luke olhava atônito para as mensagens, achara quem matara Ashton e seu nome era Michael Clifford, era tão lógico.

- Você vai entregar isso pra polícia? - Tayte perguntou colocando uma mão na coxa de Luke.

- Não, quero falar pessoalmente com esse... Michael Clifford, depois entrega-lo para a polícia. - disse Luke sem se mexer.

- Me leva para o seu apartamento. Podemos discutir lá - Tayte disse. Luke sabia das intenções de Tayte.

Ele até foderia com ele, o garoto dos cabelos castanhos mas... não seria certo, não agora.

- Não, não estou afim.

Luke se levantou levando o celular preto junto e enfiando no bolso de trás da calça, deixando Tayte com uma ereção fácil nas calças.

innocence;;mukeOnde histórias criam vida. Descubra agora