É a garrafa de vodka na minha prateleira. E a música tocando, é meu vestido que gostaria que fosse mais curto, é a minha carne que dói. É o pedaço que arranquei fora do meu dedo. É o meu não existir. Eu posso sentir que eu não existo. Cheguei tão alto que não consigo mais abaixar, é uma bad. Eu sinto essa tristeza melancólica se aproximando como uma valsa do sétimo selo. A dança da morte é a mais bonita. Vai se aproximando e parece que meu coração vai esfriando, meus olhos vão derretendo, assim como meu crânio para onde meus pés começam. Eu poderia morrer e amar, mas eu tenho que escolher uma coisa só, eu nunca fui boa em escolhas. É a vodka da minha prateleira que coloquei dentro de mim.
Bebo para sofrer melhor.
Já dizia o sábio. Nasci com as asas quebradas, e me sinto pesada. Não consigo pensar senão em dormir e quando vou pintar meu cabelo. Queria cortar, raspar, tirar o tampo da cabeça. E ao mesmo tempo me cortar da garganta até o umbigo, só para ver o que tenho por dentro. Talvez a razão da minha melancolia é procurar sentimentos na minha carne. Meus sentimentos não estão na minha carne, apesar de sentir e adoecer. Sinto por dentro e adoeço por fora. É a vodka na minha prateleira. É o pau, a pedra, o fim do caminho. O fim do caminho. Sua voz fica tilintando na minha cabeça, junto dos solos de guitarra que ficam tilintando nos meus ouvidos, eu fecho os olhos e tudo mistura, me aparecem milhares de bocas, e duas grandes faixas brancas, gritantes. Eu queria dormir. Sua voz aparece na minha nuca, mas eu não sei como eu vou lidar com isso. Ela tão perto. Queria distância de tudo isso. Não vou mais falar de amor, de dor, de ilusão. Vou me viciar nessa rotina de faltar tempo para mim, porque acabo falando muita coisa e não me sobra tempo para fazer o que digo. Eu sou humana também, e sendo assim tenho o direito de ser ignorante e vazia. Ser só mais uma daquelas garotas na bancada do bar com um copo na mão, parecendo estar tão distante que faz você pedir licença, posso sentar aqui? E puxar mais uma conversinha besta. Sua voz bate na minha cabeça como o badalar de um sino, como desligo isso? Textos grandes cansam, mas histórias curtas broxam. Eu gostaria de desligar minha cabeça. Dói pensar tanto assim. Tudo tenho mas nada toco.