Parte I

172 15 3
                                    

Bati a porta tão forte que ouvi a janela estremecer, era uma forma de colocar o que sentia para fora. Será que com tantas coisas para se fazer nesse mundo cuidar da minha vida era a mais interessante!? Primeiro minha mãe, depois a Alexandra - minha melhor amiga - e agora o Lucas, meu irmão gêmeo!

Odiava a forma como vinham me tratando! Eu já tenho quinze anos, não sou uma criança! Sei bem como me cuidar! Porque me tratavam como se eu não soubesse fazer minhas próprias escolhas!?

- Juliana! - Lucas gritou assim que entrou em casa, segundos depois de mim - Você vai ter que me ouvir.

- Para de gritar eu não sou surda! - alterei a voz - Você não manda em mim! Para de se intrometer na minha vida!

- Você está se envolvendo com aquele vagabundo do Nando, mas é claro que vou me intrometer, sim! - O fato de Lucas ser mais alto e mais forte não lhe dava o direito de assumir o posto de irmão mais velho, nós tínhamos a mesma idade, aquilo me deixava muito zangada.

- Mas, que gritaria é essa!? - mamãe apareceu no portal entre o corredor que levava aos quartos e a sala, fui para cozinha sem respondê-la, abri a geladeira e fechei só para ter o prazer de bater a porta, depois fui para os​ armários.

- Juliana, volta aqui! - Lucas entrou na cozinha, ele estava uma fera. - Você está proibida de ver aquele garoto, entendeu!?

- Que garoto!? O Fernando!? - mamãe apareceu atrás de Lucas. - Não me diga que…

- Sim, mãe! - Lucas falou baixo, deixando transparecer toda raiva na voz - Peguei ela beijando aquele maloqueiro!

- Ju, nós já havíamos conversado sobre isso! - minha mãe começou a falar, a ruga entre as sobrancelhas se atenuaram, ela estava preocupada - Ele não é um bom garoto!

- Vocês não sabem nada sobre ele! - caminhei pela cozinha sem saber o que fazer - O fato dele não ter notas altas não significa que ele seja má pessoa!

- Juliana, ele repetiu mais de duas vezes o primeiro ano e fuma dentro do banheiro da escola!

- Ele o quê!? - mamãe arregalou os olhos.

- É melhor eu nem dizer o que ele fuma, mãe! - Lucas ajeitou os óculos de armação fina e cruzou os braços.

- Como é que é!? - mamãe cruzou os braços como Lucas, são tão parecidos! - Está decidido, você está proibida de ir encontrar esse garoto!

- Eu estou cansada disso! Cansada! - bati os pés - Você não é meu pai, Lucas! Não tinha o direito de se intrometer dessa forma ou me proibir de algo! E você não sabe de nada, mãe! Você é velha demais para me entender… As coisas não são como no seu tempo.

- Fala direito com a mãe, Juliana! - Lucas se aproximou de mim - Você tem que respeitá-la!

- Cala a boca, Lucas! - marchei até meu quarto e bati a porta - Eu não sou mais uma criança! - gritei de dentro do quarto. - Se meu pai estivesse aqui tudo seria diferente!

Quando meu pai faleceu tínhamos dez anos, Lucas e eu, e desde então minha mãe tem cuidado de nós sozinha. Ela se vira com a pensão e o salário de um emprego de meio período que tem na cozinha de uma padaria - com direito a uma folga na semana - para sustentar a casa. Ela teve a oportunidade de mudar de horário várias vezes, mas nunca​ quis, pois do contrário não teria a disponibilidade de controlar nossas idas e voltas da escola.

Eu detestava o jeito controlador dela! Na verdade não sabia quando havia começado toda essa obsessão por saber onde íamos, para onde íamos, com quem íamos e quando voltávamos.

Meu irmão parecia levar tudo tão bem, diferente de mim! Por causa disso, nos últimos meses nossas discussões eram mais frequentes, e com a minha relação com o Nadinho progredindo a situação vinha se agravando! Minha mãe não é nada liberal, Lucas é conservador, ou seja, eu sempre seria julgada e incompreendida pelos dois!

Joguei-me na cama e fitei o teto por um tempo, depois fechei os olhos e massageie as têmporas, dor de cabeça de novo.

Mãe é gente, como a gente!Onde histórias criam vida. Descubra agora