Brilhe. (08)

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  Faltava apenas dois dias para Sam voltar para casa, ele estava um pouco triste por ter que ir, mas seu corpo implorava por pelo menos alguns dias de descanso, além disso, estava louco para voltar a América de mãos dadas com Tay, que ao voltar de mais uma das consultas nas casas, chamou Sam para ir comer em um restaurante simples, bem perto. 

  Sam não deixou de reclamar, apesar de achar a idéia fofa, mas como a Senhora Amber, lhe contou várias histórias terríveis sobre jovens gays no Quênia, ele acabou tendo medo de ser vista a cinco centímetros perto de um homem, a última coisas que queria era ser condenado no país que tentava ajudar.

  "Chicotadas, prisão... nada disso parece bom..." pensava seguindo Tay pelo caminho de terra. "Tomara que meu pai ainda seja amigo daquele advogado, será que ele me defenderia no Quênia?"

- Sam! -gritou Tay, que estava tentando chamar a atenção dele a vários minutos.

- Eu não quero levar chicotadas! -disse dando meia volta.

- Não seja bobo, as pessoas daqui tem outras preocupações maiores. -Tay o arrastou para a varando do pequeno restaurante, e o sentou na primeira mesa, haviam alguns poucos homens bebendo.

- Por que me trouxe aqui, cara? -perguntou tentando fazer a voz mais grossa que conseguia, o problema é que Sam tinha uma voz suave, nada fina, porém ao tentar deixar ela grossa, soou engraçado, Tay se segurou um pouco mas começou a rir feito louco. - Não tem graça, mano... -Isso fez ele rir mais ainda.

- Desculpa... mas você ficou ótimo com essa voz... -enquanto Tay ria, um homem bem alto se aproximou.

- Boa noite, você é um dos médicos que está ajudando, certo?

- Sim. -disse Sam ainda com a voz grossa, o homem segurou o riso também e tentou ficar sério.

- Só queria agradecer, estão fazendo um ótimo trabalho, minhas criança tão tudo mais saudável.

- Ótimo, essa é a intenção.

- Tenham uma boa noite, até. -Se despediu saindo do estabelecimento.

- Sam, essa voz está ridículo, mano e cara, são gírias que não lhe caem bem, para por favor. -pediu parando de rir.

- Ok... Tay... -disse com a voz manhosa e mais normal.

- Que?

- Eu quero te agarrar mas estou com medo das leis do Quênia. -disse parecendo uma criança implorando pelo brinquedo favorito.

- Gatinho, é só você estalar os dedos que lhe deixo me rasgar. -falou bem baixo e sorrindo.

- Não fala assim, me tortura mais ainda... vamos falar de outras coisas, talvez assim eu me esqueça do meu medo.

- Ok, então vamos pedir algo para comer.

  Eles pediram o prato do dia, que era purê e galinha, apesar de simples estava uma delícia, Sam começou a se lembrar que não recebeu ligações desde que chegou, apenas algumas mensagens curtas, isso o deixava triste de certa forma.

- Que foi gatinho? -perguntou Tay percebendo o incômodo.

- Eu me achava querido antes de vir, mas ao perceber que ninguém se dignou a me ligar e perguntar pelo menos se estou vivo, sinto como se minha vida fosse um monte de mentiras jogadas ao vento, me faz sentir um pouco de desgosto...

- Algumas pessoas são assim, mas não deve ficar olhando para elas, olhe para as que realmente se importam com você. -Tay colocou a mão no braço de Sam sobre a mesa, eles se olharam brevemente, em seguida começaram a olhar para o céu do lado de fora, foi quando uma estrela cadente passou.

- Rápido faz um pedido! -disse Sam cruzando os dedos, Tay apenas ficou o encarando. - Fez seu pedido? 

- Sim.

- E o que pediu? -perguntou ansioso pela resposta.

- Que você brilhe no meu céu todos os dias da minha vida.

- Céu? -perguntou vermelho e tentando não transparecer sua alegria.

- Eu e minha mãe costumamos dizer que, nossa vida é como o céu, as vezes nublados, as vezes limpido e as estrelas são como as pessoas... ela vive me chamando de estrelinha e você está se tornando minha Estela favorita no céu... -Sam sorriu tendo vontade de o beijar, mas não ali.

- Ei, vamos para um lugar mais deserto? 

- Como desejar.

  Eles dividiram a conta e foram andando para os lugares com menos casas. De baixo de uma árvore, Tay começou a beijar Sam, que não o evitou, por alguns minutos eles ficaram lá, mas logo voltaram a realidade e foram para casa.

  Tudo estava calmo e ninguém os viu chegando juntos, Sam ia para seu quarto sozinho, mas foi seguido pelo homem negro, de olhos brilhantes, que pareciam querer consumir Sam de todas as formas possíveis, mas é óbvio que o rapaz não permitiria isso, não enquanto estivessem no Quênia, mas depois... Tay tentou compreender, apesar de quase não ter deixado Sam dormir com suas provocações.

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