Capítulo 2 Erick

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O fogo já estava sumindo e a fumaça tomava conta da pequena cidade, nenhum grito de desespero podia ser ouvido, a única coisa que podia ser escutada era o fogo crepitando, até que até esse som desaparecesse e desse a conta para uma cidade fantasma, abandonada pelo tempo. As chamas foram densas e precisas, o bastante para queimar qualquer vestígio, mas não para destruir as estruturas das casas. Logo meus passos eram a única coisa que emitia som. Não era a primeira vez que eu via aquela cena, corpos chamuscados, depois de mortos, um buraco onde jazia um coração. Os corpos, na maioria de pessoas mais velhas, poucas mais novas, e essas estavam com marcas diferentes, garras pelo rosto, pedaços dos corpos faltando. Um corpo de uma criança, ainda com a face de desespero e completamente queimada estava perto de mim, o que sobrou de um ursinho, caído longe de suas pequenas e frágeis mãos. Eu sabia que eles eram humanos, mas continuavam sendo vidas. Eu tinha fracassado novamente.

— Levaram o máximo possivel de jovens, qualquer um que não resistiu, os que resistiram, mortos na hora. — Meu beta, colocou a mão no meu ombro, me fazendo me virar para ele. Há quanto tempo ele estaria ali? — Está tudo bem?

— Encontraram mais alguma coisa? 

— Sem falhas. Os modificados estavam aqui, assim que chegamos eles fugiram para o norte. Acho que a probabilidade deles terem feito isso são poucas, afinal...eles são apenas monstros. Talvez só tenham vindo aqui para conseguir algum alimento, viram a confusão e aproveitaram. — Quem estava fazendo isso não era visto como inimigo pelos modificados e eles sempre apareciam quando uma cidade era atacada, mesmo que não os víssemos tinha sempre vestígios deles. Não podia ser mera coincidência. Os modificados começaram a aparecer a dois meses, eles surgiram do nada e desde então estão atacando tudo que vêem pela frente. Eles são mais fortes que híbridos comuns, possuem a força de um lobo, a velocidade de um vampiro, são seres sem consciência, totalmente guiados pelo instinto e pela sede de sangue. Nenhum lobo era capaz de lidar com um deles sozinhos. Eu era um caso a parte, conseguia lidar com um ou dois deles, mas sairia machucado mesmo assim. E para piorar, suas mordidas eram fatais, uma única mordida era o suficiente para matar um lobo, descobrimos isso do pior jeito possível.

— Quero lobos seguindo os rastros dos modificados, descubram onde estão se escondendo. Tendo alguma coisa haver ou não, vamos por um fim neles. Vou buscar a Ellen.

— Por que? 

— Ela é nossa melhor rastreadora. Seja quem for. Não podemos dar mais tempo. Temos que encontra-los hoje.

— E por que acha que ela vai te ajudar? Ela te odeia. Lembra? — Meu omega, Leandro, sorriu enquanto se aproximava.

— Ela é minha irmã. — Dei de ombros. 

— Quer que eu vá com você? Posso convencê-la de outros jeitos. — Ele sorriu, Ben revirou os olhos, bufando.

— Minha irmã nunca transaria com você. Seu babaca. — Caminhei pela estrada, onde tinhamos estacionado os carros.

— Então você realmente não a conhece. — Revirei os olhos, entrando no carro. Não esperei que ele entrasse para acelerar. 

Em silêncio, desejei para todos que fossem sequestrados tivessem uma morte rápida. Que era a melhor coisa que podia fazer por eles naquele momento, desejar que não sofressem nas mãos daqueles monstros. Mesmo não sendo religioso, fiz também uma prece baixa. Que salvassem as almas das pobres vítimas.

Estacionei o carro, faltavam ainda quinze minutos para bater o sinal, um cheiro diferente irradiava de um carro proximo ao meu. Era um carro velho, vermelho, que humano teria capaz de andar em um carro daquele? Sai do carro, sem me aproximar, mas consegui sentir o cheiro de lobo que irradiava e outro cheiro que não consegui identificar. Retesei o maxilar, precisava saber quem era o dono daquele carro senão, não dormiria bem á noite. O sinal tocou e logo começou a sair os alunos, se espalhando por todo canto. Então eu vi minha irmã, ao lado de uma garota, ela era bem mais baixa que Ellen, o rosto estava quase coberto por um capuz, só podia ver seus lábios rosados, Ellen revirou os olhos e puxou o capuz dela. Os cabelos vermelhos da garota se esvoaçaram, acho que pela primeira vez em toda minha vida, eu perdi o folego e fiquei sem palavras. Senti minhas presas crescerem e tentei me controlar, por sorte, consegui.

Um garoto apareceu, disse alguma coisa para a menina, lhe deu um selinho e se foi, outra garota tinha aparecido, mais nova. Ellen finalmente me viu, retesou o maxilar e sua amiga me olhou também. O mundo parou por um instante, na eternidade que era ela ali. Ela me olhou com desgosto, conversou mais um pouco com Ellen e caminhou até o carro, porque seu carro cheirava a um lobo? Mas quem era ela? Ellen caminhou até mim, fazendo bico.

— O que você quer?

— Quem era ela? — Apontei o queixo para onde ela tinha ido e sustentei o olhar até que ela sumisse.

— Uma amiga. O que você quer? — Ela virou meu rosto pra ela.

— Preciso da sua ajuda.

— Não sou idiota, Erick. Faz um bom tempo que não vem me buscar para tomar sorvete, é óbvio que precisa de alguma coisa. O que quer que eu faça?

— Ajude-nos a encontrar uns modificados. — Ela estalou a língua, dando a volta no carro e entrando. Entrei também.

— Qual é o nome dela? — Ela revirou os olhos.

— É melhor não começar. Ela é só uma menina, não vai fazer mal. — Ellen já estava envolvida com a humana, então se eu tentasse descobrir quem era ela, ela a defenderia com unhas e dentes. Teria que descobrir outros meios. Liguei o carro, mordendo o lábio inferior.

— Eu...gostei...dela. — Menti. Ela olhou para mim, um pouco surpresa, não era a primeira vez que eu me interessava por uma das amigas dela, mas das últimas vezes isso não deu certo.

— Ela não parece fazer seu tipo e você está namorando. — Murmurou, fiquei em silêncio. — Ayla. O nome dela é Ayla Clark, ela chegou a pouco tempo na cidade, tem dois irmãos mais novos e é órfã.

— E aquele garoto que a beijou? — Ellen riu.

— É o nosso primo! Como não lembra dele?

— Nicolas?

— Não! Thomas. Ele só deu um beijo na bochecha. Parece que ele quer marcar logo propriedade. Se eu fosse boa em dar palpites, diria que ele também a achou perigosa e quer afastar os humanos dela, mas como não sou. — Deu de ombros.

— Ele mudou bastante.

— Ele é um beta agora. E você é um alfa, pode apostar que a mudança mais drástica é a sua.

— Isso é um elogio ou ofensa?

— Aceite como quiser. — Ela mexeu os ombros, parei em um encostamento, perto da fronteira, onde Benjamin disse que estava, desci do carro e Ellen também, o cheiro de carne podre já podia ser sentido.

— Não estou com um bom pressentimento. Tome cuidado, Ely. — Engoli em seco, me transformando em lobo, nós caminhávamos para a fronteira e o odor de carne podre aumentava cada vez mais.

— Erick. Não vamos precisar encontrá-los. Eles já nos acharam. — Murmurou Ellen, estalei a língua, rosnando. Leandro estava branco como um papel, uma mordida no seu ombro fazia o sangue manchar sua roupa, ele se desculpou com os olhos. Tinha quatro modificados, não pareciam ter perdido toda a consciência, tinham elaborado um plano com refém afinal.

— Ellen, vá atrás de Ben. — Ela obedeceu, sabia que mesmo nós dois não éramos suficiente ali. — Leandro...consegue pegar o dá esquerda? — Ele olhou para mim, depois assentiu cansado. — Ótimo. Um.

— Dois. — Murmurou.

— Três!

Ao Lado Do Supremo (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora