Prólogo

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A vida, em partes, é mais sobre perder do que ganhar. E, em posse dessas ausências, aprender a ser uma presença melhor para aqueles que se dedicam genuinamente a nós. No fim, toda consequência gera um benefício. A lei funciona quando bem aplicada, simples assim.

É um caminho duro, não vou negar. Temos essa mania esquisita de vendar os olhos quando se trata do defeito alheio. Ficamos cegos, surdos, mudos. Utilizamos, sem discernimento algum, quaisquer desculpas para justificar o erro do outro ou o nosso. Na realidade, essa "ingenuidade" só se estende as pessoas que escolhemos amar por vontade própria. Porque, francamente, não somos tão generosos nem com nossos pais. Isso é uma pena, porque os laços que mais trafegam em nossos corações dificilmente se transformam em uma via de mão dupla.

É um mundo muito injusto, feito por nós mesmos. Sim, companheiro (a), somos os responsáveis. Ao longo da nossa existência, interpretamos o bandido, o policial, o vilão, o herói, o coadjuvante, o protagonista. Tudo roteirizado conforme nossas escolhas. Se o papel designado não o agrada, a solução é razoável: mude. Esse é o único preço a se pagar.

Mas a mudança é uma vizinha indesejada. Do tipo que a gente cumprimenta só por educação, mantendo uma distância segura. Traçando uma linha invisível entre o cômodo e o desconhecido. Aventurar-se nessa corda-bamba, com uma altura vertiginosa debaixo dos pés, parece loucura.

Só que o destino sempre guarda o melhor para o final. Ele dispõe de um arsenal imensurável de cartas na manga. É um jogador ardiloso, que usufrui dos seus poderes com sabedoria. Pouco a pouco, jogada a jogada, ele nos conduz pacientemente a uma versão melhor. Ele sabe o que precisa ser feito ao contrário de nós.

Munidos de tragédias, recorremos a atitudes extremas. Esperneamos. Amaldiçoamos os deuses. Declamamos uma guerra injusta e desnecessária contra inimigos que não passam de fantasmas sussurrantes do passado. Desfreados e sem enxergar a um palmo de distância, ferimos até os aliados. Os projéteis sibilam por todos os lados. A missão é clara, soldado: tudo deve ir pelos ares.

Então um ciclo se apaga, outro recomeça e nós reproduzimos tudo mecanicamente igual. O sistema não está desatualizado, nem precisa ser reiniciado. O que ele deseja, ainda que inconsciente, é ser formatado. Não é sobre perder a essência e todos os dados que construíram a sua programação. É sobre permitir uma nova leitura. Desprender-se dos padrões pré-estabelecidos e suas velhas limitações.

Esse livro é sobre atravessar a ponte e explorar todo potencial adormecido. Nós somos capazes, só que esquecemos disso com uma frequência alarmante.

Acredite nos seus sonhos e eles acreditarão em você.

Seja bem-vindo(a) a minha colcha de retalhos.

Kahlil (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora