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Passei rapidamente na frente do espelho com o cartão do quarto e parecia aceitável. Quando cheguei ao térreo, havia um barulho intenso vindo do canto do hotel e pensei que só podia ser ali.

Assim que entrei, senti a animação das pessoas se espalhar em volta de mim. Sentei em um canto do bar e o garçom parecia ocupado demais para me notar naquela noite. Enquanto esperava, me permiti olhar em volta. Era um bar escuro e despretensioso, com pessoas da minha idade ou mais. Ninguém muito arrumado, o que me tranquilizava. Eu parecia estar mesclada ao ambiente.

Meus pensamentos livres e leves permaneceram até que olhei para uma mesa no outro canto do bar e meus olhos encontram o de alguém. Era ele. Depois de quatro anos. E ainda sim, eu jamais confundiria aqueles olhos.

Enquanto os amigos pareciam continuar conversando normalmente, o rosto dele era de pura surpresa como se tivesse visto alguma criatura de outro mundo. O problema é que o extraterrestre era eu.

Naquelas frações de segundo, tudo passou pela minha cabeça, enquanto a surpresa era tão grande que faziam minhas mãos formigarem. Eu podia correr como fiz antes, claro. Mas aquela não era mais eu. Ele não me conhecia mais, e se não conhecia, não podia me machucar como fiz com ele, certo? O que ele fazia aqui? Quem eram as outras pessoas da mesa?

Sorri de modo fraco, enquanto ele parecia se fazer as mesmas perguntas. Eu conseguia ler cada uma delas através dos olhos dele, até que um amigo puxou seu ombro como se tentasse levá-lo de volta ao assunto.

Enquanto ele se ocupava dos amigos, eu balancei a cabeça quase de modo imperceptível para tentar aliviar aquela descarga de adrenalina que passava por mim. Me virei um pouco de volta para o garçom, que desta vez parecia disponível.

Honestamente, nem lembro o que pedi para beber porque o medo de ter de manter qualquer conversa com ele me aterrorizava brutalmente.


Rover - Quando eu voltei para a cidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora