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Ficamos assim por segundos, enquanto ele parecia pensar em algo totalmente alheio a nós, mas que parecia atingi-lo. Fiquei ali tentando decifrar seus pensamentos como ele deve ter tentado fazer com os meus por todos esses anos distantes.

Foi então que percebi: aquela era a minha deixa, e não a dele. Coloquei a mão em volta de seu rosto e aproveitei cada segundo que antecedia o beijo de olhos fechados. Senti a respiração dele acelerar e os músculos ficarem tensos. Nenhum de nós pertencia mais ao outro e era como se fosse a primeira vez que nos tocávamos.

E eu o beijei. Não pensei em mais nada. Não pensei se havia alguém a nossa volta, se traria consequência, se eu conseguiria voltar ao trabalho na cidade, nada.

A partir daquele instante, éramos nós dois, conhecidos novamente. Foi como se faltasse ar em volta de nós. Como se eu tivesse 22 anos de novo. Como se nenhum dia tivesse passado. Como se o incêndio que ele era, fizesse parte do vento livre que eu sou.

Quando o soltei, ele continuou de olhos fechados respirando rapidamente, como se no instante em que os abrisse, tudo fosse acabar.

-Esse era o adeus que você merecia e eu gostaria de ter dado, szép. - Ainda que mais mil palavras quisessem saltar da minha boca, eu as segurei dentro de mim. - Me desculpe pelo atraso em fazê-lo.

Eu estava trêmula como jamais estivera antes, esperando qualquer reação dele. Ele abriu os olhos, tirou as mãos de mim e apoiou-as no meu carro, que nos aparava.

-Quem precisa que você vá embora desta vez sou eu, szívem - ele insistiu em me chamar carinhosamente como há anos atrás, mesmo que seu pedido fosse cortante como uma faca.

Eu não estava preparada para aquilo. Definitivamente cada parte de mim era pura surpresa. Não era eu que tinha certeza do que estava certo quando fui embora? Isso era para ser mais fácil do que da última vez. Então por que parecia ainda mais duro?

Ele virou de lado para mim enquanto passava as mãos pelos cabelos, como se procurasse uma resposta vinda dos céus.

Respirei, me sentindo um pouco humilhada, e fiz a única coisa que soava justa o bastante: voltei ao hotel, enquanto tentava arrumar os pensamentos. Não olhei para trás. Não conseguiria.

Eu deveria desistir do que consegui e voltar para casa? Casa era aqui, perto dele? Eu devia voltar lá para fora e gritar tudo que tinha guardado por 4 anos?

Enquanto esperava o elevador, dois amigos que antes estavam na mesa do bar passaram falando ao telefone:

-Onde está você? É a sua despedida de solteiro, cara! Você não deveria sumir desse jeito!

E então, estava ali minha resposta. Era hora de voltar para a minha rotina e esquecer aquele encontro.

Eu estava indo embora novamente.

Rover - Quando eu voltei para a cidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora