Comigo você dança

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                Olhei para a selva de pedra que brotava do chão a minha frente. O motorista parou o carro, desceu e abriu a minha porta.

                – Tenha um bom dia Senhor. – deu-me seu sorriso costumeiro, agradeci e entrei no prédio da Cadore CO.

Para iniciar minha sexta-feira estressante, uma reunião de quase duas horas com meu novo designer de joias incompetente que não sabia apresentar corretamente suas peças desiguais. Até minha sobrinha de três anos desenhava melhor que aquilo. Percebi que ele estava transpirando, a temperatura na sala era de 20º. Bebeu um pouco d’água. Estava ficando nervoso ante a minha falta de interesse, seu emprego dependia de ele conseguir me fazer esboçar alguma reação que não um olhar gélido e desinteressado aos seus desenhos medonhos.

                – Chega. – suspirei – Saia daqui. Quero todos esses desenhos melhorados na segunda-feira pela manhã, caso contrário, não precisa nem aparecer aqui. Saí da mesa e fui direto para a minha sala.

Havia mais de oito ligações de Lucinda no meu celular, algo deveria ter acontecido. Retornei e ela atendeu na quinta chamada.

                – Até que enfim Enzo! Resolveu me ignorar? – estava impaciente e aliviada. Eu conhecia Lucinda melhor que ela mesma.

                – Não. Estava em uma reunião. O que você queria falar comigo? – sentei na minha cadeira e girei para a parede de vidro, admirando a selva de pedra que me cercava.

                – Era só para lembrar você, senhor avoado, que hoje ás dez horas é a minha festa de aniversário e eu estou lhe convocando.

                – Hoje? Pelo amor de Deus Lucinda. Não podemos sair jantar amanhã e comemorar? Você sabe que eu não sou muito chegado em festas. – suspirou pesadamente, estava brava.

                – Não é uma festa. É a minha festa. Estou fazendo quarenta e eu quero muito que você venha. Ficarei muitíssimo decepcionada se você não estiver aqui exatamente ás dez e trinta. Você vem, não é? – suspirei, não tinha escolha. – Perfeito.

Então eu iria à festa de Lucinda e por ela, aturaria seus amigos bêbados e fúteis.

* * *

Corri colocando meus sapatos. Entrei no carro e amaldiçoei todos os carros que estavam á minha frente. Estava atrasada, para variar.

Quase caí quando abri a porta da agência e entrei correndo, carregando minha maleta, bolsa, casaco e umas pastas. As câmeras eram pesadas pra caramba.

                – E aí Carrie. – cumprimentei a produtora, que estava na recepção, provavelmente procurando por mim.

                – Finalmente Melissa! Que demora eterna! Onde você se meteu?

                – Fui no inferno e voltei ontem. O diabo lhe mandou um beijinho. – sorri e entrei na sala. As modelos estavam prontas. – Muito bem magrelas, em fila. A lourinha ali vem pra cá que vamos começar a trabalhar.

                – Ela é doida. – riu o maquiador

                – Eu ouvi isso Luigi! – voltei os olhos para a câmera e fiz uma careta – Não é isso minha filha! Pedi para colocar as mãos na cintura, mas não precisa curvar as costas e parecer ainda mais magra. Pelo amor de Deus! Alguém me traz uma água?

Faltava apenas uma modelo, uma única girafa magricela novata que mal sabia o que fazer. Saudades da época em que eu viajava o mundo fotografando desfiles, mas, quem paga mais leva e as revistas pagavam muito mais que os eventos. Então, hora de me conformar.

O Fogo do DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora