Abri a porta. Ele estava de costas, olhando distraído pela janela. O escritório se parecia muito com o da empresa, mas era mais aconchegante.
O observei por um segundo, estava com uma calça escura de sarja e camiseta preta de mangas compridas remangadas até os cotovelos. Os cabelos estavam um pouco despenteados, virou-se com uma caneca preta na mão.
– Achei que não fosse chegar no horário. O que tem para mim? – sentou-se indiferente em sua cadeira de couro.
– Olá para você também. – sentei e tirei os desenhos da bolsa, colocando o portfólio sobre a mesa – tenho algumas amostras e outras ideias em mente.
– Muito bem. – bebeu mais café e puxou para si os desenhos – Café?
– Não.
Ficamos cerca de dois minutos em silêncio, ele olhava atentamente cada desenho. Eu sabia que seria muito crítico e que meus desenhos precisavam ser perfeitos.
– São bons, para amostras. – disse por fim, fechando a pasta – O que você tem em mente?
– Eu já lhe dei algumas ideias e andei pensando na coleção especial que eu havia mencionado. Já pensou em fazer apenas algumas unidades de uma joia exclusiva?
– E que peça seria essa joia? – vi algo brilhar em seus olhos, lá no fundo.
– Um magnífico colar com um pingente de leão. Leões simbolizam força e seria divino um leão de platina e diamantes bem grande, uma peça exclusiva.
– Quem comprar isso vai precisar de muita ousadia para usar. – observou.
– Meu caro, joias nem sempre são para serem usadas, sabia? Algumas delas são tão encantadoras que é muito mais interessante apenas observá-las. Esta peça seria perfeita e com certeza marcaria muito. Por acaso eu fiz um desenho do que eu tenho em mente. – entreguei-lhe outra folha.
O colar que estava desenhado ali era de elos de dois tamanhos em diamantes e platina. Exatamente no meio do colar, estava a cabeça de um leão maravilhoso cravejado de diamantes. A peça era um espetáculo.
– É realmente uma peça lindíssima. Você pode colocar ela, mas não será parte da coleção. Será apresentada a apenas um grupo seleto de compradores. Algo mais a me dizer? – estava ficando impaciente.
Impaciente comigo? Que coisa mais feia.
– Na verdade, sim. – dei-lhe um sorriso presunçoso – Eu não sabia que você tem uma namorada. Ela é muito bonita.
– Rachel não é minha namorada e isso não é da sua conta. – ali estava aquele olhar de quem ia dar a volta na mesa e enfiar uma adaga no meu pescoço.
– Ai! Essa doeu! – sorri divertida, sabia que em meus olhos um brilho se insinuava. – Podíamos marcar um jantar, eu poderia levar meu amigo, o que achou dele?
– Está me pedindo uma opinião, Melissa? – quem estava se divertindo era ele agora.
* * *
A peça do leão que Melissa me apresentou era simplesmente fantástica, genial. Mas eu não diria que ela possuía um talento nato para desenhar joias. Percebia-se em seus detalhes e traços delicados. Maldita desenhista perfeita. Era exatamente o que eu queria.
