Point Of View – Angeline Bennett
"É aplicada à arguida, Angeline Sthephany Bennett, como medida de coação a prisão preventiva, ficando a aguardar julgamento por suspeita de ser a autora material de homicídio em primeiro grau do seu progenitor, Scoot Alexander Milles Bennett"
As palavras do juíz ecoavam por a minha cabeça como se estivesse a gritar num túnel. As lágrimas vertiam de uma forma tão intensa, chegando a causar um ardor na minha pele facial, ao mesmo tempo em que sentia a minha língua dormente de tanto a morder para não deixar os soluços saírem. O frio que sentia naquela sala claustrofóbica deixava o meu corpo vivo, dando sinal ao cérebro, como forma de me despertar do que estava realmente a acontecer.
— Angeline Bennet. — Ouvi o meu nome ser chamado por uma voz feminina assim que a porta pesada de metal foi aberta, obrigando-me a franzir a testa e a fechar os olhos devido à extrema claridade que por ali trespassava. — Veste o uniforme, rápido! — Um saco foi lançado na minha direcção, não me deixando ter movimentos de reflexão, levando com ele na cara. — Guarda a tua roupa nesse saco, quando saíres da prisão nós devolvemos tudo, mas secalhar nessa altura... Já devem é estar um bocadinho fora de moda. — O seu riso era tão assustador e arrepiante, que me obrigava a comprimir os dedos dos pés no interior dos ténis. — Despacha-te, saímos saímos da esquadra daqui a dez minutos.
— Para onde? — Perguntei aflita sem entender o motivo do uniforme e da saída repentina. O meu advogada havia-me dito que eu só sairia dali com ele, e em liberdade.
— Para a praia. — Ironizou. — Para onde é que pensas que vamos, Barbie? Até parece que não ouviste o juiz! Vais ficar detida na penitenciária central até ao julgamento.
— O quê? — Levantei-me repentinamente da cadeira enferrujada como se as suas palavras me estivessem prestes a dar uma estalada, encarando-a com desespero. — Na penitenciária? Mas o meu advogado disse-me que eu ia aguardar o julgamento em liberdade!
— Os advogado dizem muita coisa, mas quem decide é o juiz.
— Mas eu estou inocente! — Senti a minha garganta começar a fechar assim que as lágrimas começaram a cair mais uma vez sem controle. — Por favor, eu não posso... Eu estou inocente!
— Claro que estás inocente... Tu e todas as outras que passaram por aqui, por isso é que foram parar à prisão, por serem umas santinhas, não é? — Revirou os olhos, criando uma raiva no meu interior. De todas com que me cruzara nas últimas 24 horas, não havia Polícia mais ridícula que ela. — Quem diria que uma Barbie como tu faria uma maldade destas... O próprio pai. — Abanava a cabeça em negação, olhando-me com desdém. Forcei o meu interior a não responder e a não fazer nada que mais tarde me fosse arrepender. Qualquer ofensa à força de segurança seria bastante prejudicial para mim. — Veste-te depressa.
A claridade dera lugar à escuridão assim que a porta foi fechada. Encolhi os ombros ao ouvir o estrondo que ela fizera ao ser trancada, enquanto vi-a o sorriso sarcástico e amarelo da Polícia, pela minimalista tira de vidro que estava na porta. Os meus olhos foram de encontro ao saco que guardava o uniforme, que agora se encontrava no chão. Não tinha escapatória possível. Abri-o e vi um macacão cor-de-laranja, horrível, que deveria ser três tamanhos acima do meu. O cheiro que aquele tecido emanava não era o melhor. Tirei cada peça de roupa sem vontade, de olhos fixos num ponto aleatório da parede suja. Quando fiquei apenas de roupa interior, levei o meu corpo até ao tecido interno daquele macacão que mesmo sem ter espelho, eu sabia que me ficava péssimo. Usei um dos elásticos que tinha no pulso para prender o cabelo e calcei os ténis que me acompanhavam desde o dia de ontem. Guardei todos os meus pertences no saco e antes que desse tempo de me sentar novamente para poder reflectir sobre todos os acontecimentos, a porta foi aberta novamente.

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Detained
Fanfic"Ele vivia das aparências para encarar a felicidade perante os seus amigos, procurava a aprovação dos outros através das suas roupas caras e sapatos luxuosos. Era demasiado fútil e oportunista, tentava ser alguém que não era e eu conseguia ver isso...