Contato

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Ela estava sentada no sofá, com a cabeça apoiada como se pesasse em seu pescoço, deixando seus cabelos bagunçados sob a almofada da guarda do sofá, com as pernas dobradas, em cima do tecido preto fofo enquanto ainda portava seu terno, e seus sapatos se encontravam jogados no chão. Na sua mão, uma caneca de café, falava agitadamente compartilhando um pouco sobre seu dia com Mael enquanto esperavam a pizza que haviam pedido em lugar barato com entrega em casa.

- Ele é um porre Mael! Acho que ele tem prazer em me desiludir com a profissão que escolhi! Você tinha que ver a cara dele quando me disse que eu teria que assumir mais um caso. Se fosse eu de uns anos atrás, tinha metido um murro nele!- Rafael ri ao escutar e balança a cabeça negativamente. Ele sabia que esse era um retrato fiel de Alice a uns anos atrás e maturidade a menos.

- Eu te dou razão, mas todo chefe é assim! Independente da profissão que você escolhesse. Pensa que pelo menos você esta fazendo algo que ama!-O telefone de Alice toca "Pink- Aerosmith" estrondosamente, impedindo-a de contrariar a fala dele.

Alice mira o telefone como se não ouvisse o som que o aparelho emitia e lê "Defensoria" em sua tela. Os dois se entreolham e Alice faz uma expressão que demonstrava surpresa e descontentamento. Ela pega o celular sem mudar de posição ou de expressão.

-Alo!- Ela fala com desânimo. 

- Alo! Alice? É o Cristiano da defensoria, desculpa te ligar essa hora, mas é que o Carlos pediu pra te chamar pra assumir um caso! Você sabe que a Márcia esta de licença e a maioria esta com muitos casos e é uma situaç...- A voz é interrompida, por ela, bruscamente.

- Me desculpe mas eu acabei de chegar em casa Cris! Eu realmente não vou conseguir ir até ai agora, podemos resolver amanhã! - Alice ecoa pela casa e Rafael a observa atentamente.

- Alice, você não esta entendendo a gravidade, é qu... - A voz, do outro lado, treme e se cala. - Preciso de você aqui, agora!- Desta vez uma voz mais grave e forte fala ao telefone, uma voz inconfundível para ela. 

- Carlos? Olha, eu já estou com nove casos abertos! Acabei de chegar em cas...- Ela é interrompida.

- Eu já escutei! Não quero saber! Você é a defensora com menos casos no momento e essa apreensão foi inédita, a promotoria esta contando com a vitoria nesse caso e se um advogado não for oferecido no tempo certo, pode haver um processo que impeça essa vitoria! Você tem uma hora!- O telefone fica mudo e então fica claro que não havia negociação ali.

- Annalice?- Rafael fala temeroso por notar a clara indignação no rosto de Alice. -Você vai voltar pra defensoria a essa hora?

- Estou cogitando voltar só para socar o Carlos! - Ela fala com uma expressão muito séria para uma piada.

- Olha, eu não voltava não! Eles não podem fazer isso!- Ele faz uma cara de dúvida- Ou podem?

- Estou em estagio probatório! Não vou arriscar! - O rosto dela transparece o cansaço e o descontentamento com a situação.

- Eu tenho uma ideia! A janela da descompressão!- O rosto de ambos descontraem enquanto a frase é dita. 

Alice levanta, vai até a janela, abre, e grita com todo ar de seu pulmão. Rafael a observa e quando ela se vira, os dois caem na gargalhada. Este era um método que eles criaram na faculdade para aliviar o estresse em época de semana de provas. Rapidamente, ela caminha até o sofá e veste seu sapato. 

- Guarda pizza pra mim!- Ela fala enquanto prende seu cabelo em um coque.

- Vou comer tudo, nem ligo!- Mael fala mais aliviado de perceber ela bem humorada.

Algemadas (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora