Garota

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Eloisa percebe que a mulher a sua frente estava com um olhar desconfortavelmente pousado em si. Os segundos que se passam parecem minutos. Pareciam absortas na analise uma da outra, até que Alice quebra o silêncio: 

- Olá, meu nome é Alice, sou sua advogada provida pelo Estado! -Sua voz saiu fraca, por mais que tentasse parecer confiante suas cordas vocais a traíram. 

Eloisa se permitiu apenas a acenar com a cabeça. Sabia que a pasta que pousava em seus braços deveria conter uma lista enorme de crimes que ela provavelmente cometeu, além de qualquer informação que Eloisa pudesse lhe dizer nessa embaraçosa apresentação. 

- Você sabe do que esta sendo acusada? -Alice tenta ser objetiva, mas não se sentia concentrada em outra coisa além do rosto instigante que pairava em sua frente.

Uma risada irônica escapa de sua boca, ela poderia listar toda a constituição porque certamente havia praticado todos as infrações lá inseridas. 

- Porte ilegal de arma de fogo, Formação de quadrilha, 47 homicídios triplamente qualificados, Promoção da insurreição armada contra os poderes do Estado e de Instigar, publicamente, desobediência coletiva ao cumprimento da lei de ordem pública.- Alice fala apreensiva, a cada artigo que lia percebia o quão difícil seria a defesa da mulher diante de si.

- Mas as provas de todos são circunstanciais, quero que consiga impedir uma prisão preventiva! Preciso ir para casa, se depois disso não quiser investir na minha defesa não tem problema!- Eloisa fala tentando parecer calma e ao mesmo tempo tentando se conformar com a sua previsível prisão.

Alice fica impressionada com o conhecimento jurídico de Eloisa. A maioria dos réus sabem bem a constituição por serem reincidentes mas ela estava no primeiro processo. A surpreendeu também como parecia não confiar na defensoria publica, nos outros casos, a desconfiança se tornava uma súplica de uma defesa justa. Mas ela parecia ter aceito sua situação.

-Claro, era o que eu tinha em mente, mas eles irão argumentar que você é um perigo para ordem pública! Ainda não foi emitido um pedido de prisão preventiva, então só poderemos entrar com recurso depois, em quanto isso você sera liberada após nossa conversa! -Alice fala calmamente.

- Então acabamos por aqui -Eloisa tenta concluir mas é interrompida  por uma tentativa de aproximação por parte de Alice que segura sua mão com delicadeza e firmeza enquanto entrega um pequeno cartão preto. É um toque na medida certa e a faz arrepiar.

- Quero te dizer que não importa o quão difícil a sua defesa seja, eu não irei desistir de você! -Alice fala quase sussurrando, mesmo sem saber porque. 

- Você sempre soa como uma personagem de Law & Order? - Eloisa pergunta em tom debochado tentando quebrar a tensão no ar.

Alice ri genuinamente, uma risada estrondosa e boa de ouvir e realmente vendo graça na comparação, retruca:

- Eu me vejo mais como uma Annalise Keating de How to get away with a murder! - Alice relembra seu apelido.

- Só se for uma versão água com açúcar! - Ela responde com diversão na sua voz.

- Não acredito que disse isso! E você acha que é quem? Don Corleone? - Alice retruca sem realmente se ofender mas se ofendendo.

- Agora é a minha vez de dizer que me vejo mais como um Carlos Marighella! - Ela fixa seu olhar nos incisivos olhos negros de Alice, que então levanta e se dirige até porta, sem antes olhar mais uma vez na direção da mesa de metal que quase escondia Lola. 

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⏰ Última atualização: Dec 08, 2019 ⏰

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Algemadas (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora