Adivinhe a Palavra

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     AI, RECREIO com chuva!
     E como chovia! Os alunos protegiam-se do temporal apertando-se debaixo do galpão que cobria parte do pátio da escola. Nem havia espaço suficiente para uma boa queimada. Brincadeiras com bola ou de correr, então, nem pensar.

     Todo mundo falava ao mesmo tempo, e a pobre dona Iracema, a bedel, ficava tentando impedir que a turma saísse da cobertura, como se fosse possível ficar cercando uma ninhada de pintinhos que quer fugir pela porta aberta do galinheiro.

     Foi Laurinha quem encontrou uma solução divertida para aquela meia hora:
     - Gente! Vamos brincar de "Adivinhe a palavra"?
     - Que brincadeira é essa, Laurinha? - perguntou Leo.

     - É muito fácil. Um de nós pensa em uma palavra. Daí, os outros vão fazendo perguntas para tentar descobrir qual é a palavra. E a pessoa só pode responder com "sim" ou "não". Mas tem uma coisa: não se pode usar o verbo ser para perguntar.

     Patrícia foi se juntando à roda:

     - Como assim?

     - Não se pode perguntar se a palavra "é" isso ou "é" aquilo. Se alguém perguntar, por exemplo, "é bicho?" e a palavra que a pessoa pensou não for bicho, quem perguntou sai fora do jogo. Entenderam?
     - Não - confessou Toco, que custava para entender as coisas.

     - Quem pergunta tem que dar um jeito de não usar o verbo ser de jeito nenhum, Toco - explicou Laurinha. - Invente uma maneira de perguntar, do tipo "Vive como bicho?", em vez de "É bicho?". Entendeu agora?

     - Não.

     - Deixe pra lá. Você vai entendendo com a própria brincadeira

     - E como é que acaba? - perguntou Suelen.

     - Quem achar que já adivinhou a palavra, pode falar. Se acertar, fica sendo a próxima pessoa a pensar uma palavra. Se errar, tem de ficar caladinho o resto do jogo e não pode fazer mais nenhuma pergunta.

     Toco quis saber mais detalhes:

     - A gente pode pensar qualquer palavra?
     - Qualquer uma, é claro!

     - Legal! - aprovou Maíra. - Esse jogo eu já conheço e é muito legal. Quem começa?
     - A Laurinha - decidiu Ernani, que sempre decidia tudo. - A Laurinha mesmo é que tem de começar!
     Laurinha topou na hora:
     - Está bem. Sou eu, então. Deixa ver... hum... Pronto, já pensei. Podem começar as perguntas.

     A turma sentou-se no chão, em volta de Laurinha e a primeira a perguntar foi Maria Rosa:

     - Essa coisa tem vida?

     - Sim.

     - Oba, isso já elimina todos os objetos! - exclamou Ernani. - Já temos uma boa pista. Se tem vida, ou é gente ou é bicho!

     - Você pensou em gente ou em bicho? - perguntou Xexéu, achando que estava sendo muito esperto ao evitar o uso do verbo ser.

     - Ah, assim não dá! - reclamou Laurinha, procurando fazer o pessoal respeitar as regras do jogo. - A pergunta tem de ser feita de um jeito que eu só possa responder "sim" ou "não"!
    - Então, tá bem: essa coisa pensa como gente?
    - Não.
     Leo adivinhou o que todo mundo já tinha adivinhado:

     - Se tem vida e não pensa como gente, então é bicho não é?

     - Errou, Leo! - lembrou Laurinha. - Você usou o verbo ser!

     - Espere aí, Laurinha, não me tire do jogo! - pediu o menino. - Eu só estava pensando em voz alta. Ainda não fiz a pergunta.

     - Tá bom, vá lá, pergunte.

     - Hum... Esse bicho mia?

     - Ai, ai, Leo! Se você for tentar descobrir a palavra pelo barulho que o bicho faz, vamos levar o dia todo! Mas, de qualquer modo, não mia não...
     - É cachorro? - arriscou Toco.

     - Não! Errou, Toco!

     - Ah, ah! O Toco está fora do jogo! - riu Leo.

     Toco ficou vermelho e calou-se.

     - Tem pêlo? - perguntou Suelen.

     - Não.

     - Tem pena? - era a vez de Maria Rosa

     - Não.

     Xexéu tentou completar a série:

     - Tem olho?

     - Ora, Xexéu! É claro que tem olho - brincou Maíra. - Onde já se viu bicho sem olho?

     Nesse momento, um garoto aproximava-se da roda. Seus olhos passeavam pelo grupo e ele sorria, divertindo-se com a brincadeira.

     Laurinha achou que era o garoto mais bonito que já tinha visto na vida. Falava-se de um novo aluno na 5ª B. Seria aquele? Como se chamava?

O Primeiro Amor de LaurinhaWhere stories live. Discover now