Como de costume o barulho irritante daquele velho rádio relógio tomou conta do silêncio que pairava no quarto. A escuridão do recinto ganhava um tom avermelhado que se projetava do relógio digital do aparelho, avisando que ja era hora de levantar, para mais um dia de trabalho árduo e cansativo, revirando cada canto do lixao da cidade. Eram apenas 3:20 da madrugada.
Enquanto mais da metade da população ainda dormia, em suas camas quentes e aconchegantes, protegidas do frio matinal, Tobias, estava se preparando pra partir pro batente. Todos o dias começavam iguais. Lentamente, lançava a mão ainda aquecida pelo velho cobertor de retalhos, no rádio que estava a dispertar incansavelmente, na tentativa de parar o alarme, tateava o aparelho, até finalmente se maravilhar com o silêncio. Esfregava os olhos, que ainda se acostumavam com a escuridão, forçando-os a enxergar cada espaço do quarto. Bocejou algumas vezes, antes de se levantar. De acordo com que se ia melhorando a visão, podia ver o que tinha no quarto. Sua cama ficava no canto esquerdo, paralela a porta, ao lado de uma janela, que por sinal, estava ali de enfeite, coberta com restos de madeira e papelao, bloqueava toda a luz, daquele lado. Uma vez, um ladrão tentou invadir sua casa, quebrando a janela. Desde entao, nao havia tido tempo de concertar.
Ao lado da cabeceira da cama, tinha uma velha cômoda, montada por ele mesmo, com partes de outros móveis, encontrados no lixao. Ela acomodava o rádio relogio, um pires com restos de vela, que ele acendia todos os dias, antes de ir pro trabalho, era pra santo protetor. Devoto de São José, rezava a ele todas as manhãs, para que o guiasse durante todo o dia. Havia também, um terço, ao lado do pires. Um velho cinzeiro, um pacote de biscoitos água e sal.
dentro das 3 gavetas, que constituíam a cômoda, tinha algumas roupas, uma caixinha de madeira, onde guardava moedas e alguns botões.
O lugar era pequeno, mal caberiam duas camas. tinha tambem um pequeno banheiro, no lugar do chuveiro, havia apenas um cano.
Ainda sentado, chamou por Chico, seu gato de estimação, fiel companheiro, que estava a dormir do outro lado do quarto, em meio a uma caixa de roupas. O animal, vinha sempre que o chamava, e com um gesto de carinho, se esfregava nas pernas dele, talvez uma forma de dizer: Bom dia.
Tobias, era um homem calmo, magro, moreno, mas a sua cor e aparencia dizia muito mais que isso, com todo o trabalho ao sol. apesar de ter apenas 49 anos, muitos achavam que era uns dez anos mais velho. nao tinha muito o que escolher na vida, na verdade nunca teve. Seus pais o abandonaram, quando ainda criança, com seus 5 anos de idade, foi criado por sua tia, que veio a falecer, dias antes de completar seus 14 anos.
Vendo a dificuldade que a vida lhe mostrava, foi obrigado a seguir sozinho. Arrumou um emprego numa serralharia, limpava o chao do lugar em troca de algumas moedas. nao parecia muito mas era o que tinha, pra se alimentar, beber, e vez em outra, se dar o luxo de beber refrigerante. sempre econimizava, pois água era mais barato, e encontrava em qualquer torneira.
Após ter alimentado Chico, Tobias, foi ate a pequena cozinha, pôs água no bule, levou pra ferver em seu fogao de duas bocas, alimentado por uma mini botija de gás. enquanto a agua fervia, foi ate a pia no banheiro, acendeu a luz. se olhou no espelho, viu que a cor preta, de seus cabelos e barba, estavam sumindo, sendo substituídos pelos fios brancos, um alerta que a vida passava rapido, apesar de parecer bem devagar. Os olhos ainda avermalhados por conta do sono. Escovou os dentes, lavou o rosto. Trocou de roupa e assim que começou a calçar suas velhas botas, foi surpreendido com o apito do bule. Deixou as botas de lado, e foi fazer seu café. Tobias, nao podia viver sem seu precioso café, gostava dele forte, sem muito açúcar.
Apos, servir-se, caminhou lentamente pela pequena sala, saboreando a cada gole, era como se quase flutuasse. Chico, logo o seguiu, caminhando entre suas pernas, miaja e olhava pra ele. Não precisava de palavras, para que Tobias, entendesse o que ele queria, deixou seu copo em cima da cômoda, e abriu uma das portas do armário, pegou a ração e serviu ao animal. Tomou mais um gole de seu café, enquanto observava o animal se alimentar.
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O Homem que Acordou o Sol
RomansaAinda nem tive tempo de publicar uma descrição. me ajuda aí...