Coffee

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Estava eu sentada sozinha à mesa de um café qualquer, ao lado da janela com vista para rua nada movimentada de um dia nublado. Ouvindo minhas músicas, com um café expresso em mãos, observando todos que passavam ao meu lado e aqueles que também entravam. Alguns acompanhados, outros apenas com um jornal em mãos, porém todos muito bem arrumados com casacões e cachecóis. O som de seus devidos pés em movimento sobre os tacos de madeira do local aconchegante. As luzes meio amareladas pendendo acima das mesas, os bancos e mesas todos muito rústicos também de madeira muito bem polida e envernizada com tintura não craquelada, porém de certa forma lascada. O café já estava enchendo, os lugares estavam sendo ocupados por diferentes tipos de pessoas e eu continuava ocupando uma mesa para dois. Eu acabei desistindo de observar as pessoas na rua, pois o caos estava sendo tomado dentro do café com suas pessoas conversando em mesas distintas, esperando por seus chás, cafés, bolos, chocolates quentes. Acabei por começar a desenhar em um guardanapo, por não ter nenhuma outra superfície que pudesse usufruir sem ser a própria mesa. Me concentrei no desenho da minha visão do café naquele momento, com foco distinto, porque eu não focava nas pessoas e muito menos eu focava nos pedidos, eu foquei em uma mesa específica. Aquela mesa tinha algo que me conquistava, não era a escolha da bebida em cima da mesa, não eram as bolsas apoiadas na cadeira e muito menos a conversa; era um casal conversando. O casal não parecia aqueles de conhecimento mútuo a décadas e muito menos aqueles que acabaram de se conhecer, mas era como o primeiro encontro deles; talvez reencontro após alguns anos sem se ver. O que me cativou neles foi simplesmente o olhar que ele tinha sobre ela enquanto ela ria, como ela ria do que ele disse, como parecia mágico entre eles e que não importava o movimento ao redor deles, era como se estivessem numa redoma e nada os atrapalhava. Eu conseguia criar uma história para eles e imaginar um milhão de assuntos que estavam sendo tratados naquele momento. Eu continuava tracejando, bem focada até ser tirada do meu fio que me conectava a eles. Isso quando um moço bem vestido me perguntou se estava à espera de alguém e se o lugar a minha frente estava ocupado, foi então que ele pediu licença e se sentou, eu apenas voltei a desenhar o casal e o moço em minha frente apenas me observava trabalhar minha caneta sob o guardanapo, sem questionar. Quando eu termino, acabo sorrindo por estar feliz com meu trabalho e ele me encara. Ele se apresenta e começa a questionar o porquê do meu desenho, o porquê de uma moça como eu estar sentada lá naquele café sozinha, nos levando a desenrolar uma conversa por alguns minutos, até o momento que o casal se levanta da mesa e eu tenho que me apressar para entregar a eles o desenho. Eles passam por mim, então pela porta e de repente já estão na rua, me fazendo largar minhas coisas na mesa e sair correndo atrás deles, sendo capaz de alcançá-los depois. Quando eu entrego o desenho a eles, eles agradecem confusos, porém com um sorriso muito coerente e singular. Meu dia acabou valendo a pena, apenas por ter recebido aquele sorriso deles. Então, eu volto até o café e naquela mesa estão todas as minhas coisas e um caderno com uma mensagem:
“Sinto muito por ter que ir e não poder esperá-la. Moça, a senhorita desenha bem, pena não ter um caderno, acredito que agora tenha um. Achei o ato muito bonito, adoraria conhece-la melhor, então, se me permite faço um convite a me encontrar nesse mesmo local amanhã às 17h.”
Junto ao caderno havia um desenho que ele havia feito da minha pessoa, com um belo poema embaixo. O sorriso daquela mulher era o meu semblante naquela hora. Apenas peguei o caderno e guardei com minhas coisas e fui embora, esperando apenas pelo dia seguinte.

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