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– Oi, Andy – falei, assim que cheguei ao balcão da recepção do prédio às três da tarde. 

– Oi, vî – ele respondeu vagamente, concentrando-se em suas palavras cruzadas – Seu tio pediu pra você subir logo, parece que ele tá com um pouco de pressa hoje. 

– Ahn... OK – gaguejei, segurando a vontade de rir enquanto dava as costas a Andy e caminhava rumo às escadas. Eu nunca me acostumaria ao falso status de sobrinha de Matheus, talvez nem se ele realmente fosse meu tio. Comecei a subir os degraus rapidamente, ouvindo alguns barulhos de chaves e trancas, e nem bem cheguei ao primeiro andar, Matheus já estava ao meu lado, ajeitando apressadamente uma mochila nas costas. 

– Bem na hora – ele ofegou, me dando um selinho rápido e logo depois me puxando de volta para o térreo.

Mesmo estando totalmente confusa com a pressa dele, me deixei levar por sua mão, cujos dedos estavam entrelaçados nos meus antes que eu me desse conta.

– Pra que essa correria toda? – falei, franzindo a testa, e Matheus revirou os olhos, como se a resposta fosse óbvia. 

– Todo o tempo que eu tenho com você nesse fim de semana tá cronometrado – ele explicou baixinho, enquanto chegávamos ao térreo – Pra aproveitar ao máximo cada minuto. 

Matheus sorriu pra mim, empolgado, e eu logo vi seu sorriso radiante refletido em meu rosto involuntariamente. Aquele sorriso tinha poderes sobrenaturais, eu sempre soube disso. 

Passamos rapidamente por Andy, que nos cumprimentou com um aceno distraído de cabeça, e logo chegamos ao carro. Deixamos nossas mochilas no banco traseiro e na mesma pressa de antes, entramos no veículo, que não demorou a arrancar. Matheus ainda ostentava um sorriso, ainda mais largo que o anterior, e eu estava começando a ficar ansiosa de verdade. O que ele estava aprontando afinal? 

– Essa é a sua última chance de me deixar menos ansiosa e me contar pra onde estamos indo – suspirei educadamente, após alguns metros percorridos em silêncio. 

Ele ergueu uma sobrancelha, sem me olhar, e um sorrisinho começou a brincar em seus lábios. Parecia que meu poder de persuasão não adiantaria nada. 

– Tudo bem – voltei a falar, quando vi que ele não responderia – Essa viagem poderia ser muito mais... Divertida, mas já que é assim... Você que sabe. 

Matheus alargou seu sorriso de canto, balançando negativamente a cabeça num falso tom de desaprovação. 

– Então é assim que você acha que vai me convencer? – ele perguntou, finalmente me olhando de um jeito esperto – Acha que eu não vim preparado pra resistir às suas chantagens? 

Confesso que aquele olhar dele me deixou um pouco fora dos eixos. Ele já tinha olhado pra mim várias vezes daquele jeito convencido. Mas em nenhuma das outras vezes, os olhos que eu vi nele pareciam pertencer a outra pessoa como naquele momento. Senti meu corpo se arrepiar por inteiro, apesar de minha relutância. 

– Te odeio – revirei os olhos o mais naturalmente que pude, me encolhendo no banco do carona e fazendo Matheus rir. Ele sempre ria de tudo que eu fazia, fator que eu sempre usava como vantagem em momentos nos quais eu precisava disfarçar alguma coisa. 

Continuamos nossa viagem, conversando de vez em quando, cantarolando as músicas que tocavam na rádio e fazendo coisas agradáveis que se podem fazer num carro (nada das coisas que você deve estar pensando). Eu sabia que estávamos saindo de Londres, mas como eu desconhecia os caminhos para outras cidades, até mesmo as mais próximas, nem tentei me localizar. Pelo contrário, após uma hora rindo feito louca das besteiras que Matheus falava, acabei ficando meio grogue e caí no sono. Só acordei por volta de uma hora depois, quando o sol já começava a baixar no céu. 

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