No Cemitério da Consolação

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- Força Pedro!

- Esse negócio pesa muito, Paulo, só você que é um nerd rato de academia consegue ter força para empurrar essa coisa!

- Deixem de conversa! Usa essa alavanca, Pedro. Temos que abrir esse túmulo de qualquer jeito!

- Assim ficou mais fácil, Marinho. Vamos lá, um, dois e três!

A pesada lápide de grosso mármore maciço se desloca lentamente para a esquerda, começando a revelar o interior do túmulo Nº 126 do Cemitério da Consolação, em São Paulo. É alta madrugada e os três amigos invadiram o cemitério, pulando o muro na parte mais baixa da rua Mato Grosso, quase em frente onde era o antigo puteiro da Tia Olga.

- Vejam! Não tem mais nada ai dentro!

- Tem sim, restos de madeira de um caixão, um negócio que parece uma estaca, como afirmou o professor, e alguns pedaços de osso. Também, essa mulher foi enterrada mais de cem anos atrás! Nem sabia que existiam túmulos assim no Brasil, pensei que eram só aqueles embaixo da terra ou em gavetas. Nunca tinha visto uma capela com um túmulo de mármore e uma lápide em cima com o caixão dentro. Só nos seus filmes de vampiro, mesmo, Marinho.

- Meus filmes que você e o Pedro adoram, não é Paulo?

- Vamos acabar logo com isso. Esse lugar está me dando calafrios. Vamos fechar isso e ir embora. O professor estava certo. Tem mesmo uma estaca nesse túmulo. Era isso que precisávamos comprovar e já o fizemos. Empurrem!

- Merda! Apertei meu dedo na alavanca! – Gritou Marinho.

O dedo jorrava sangue. Paulo pegou a camiseta, que já tinha tirado como sempre fazia para mostrar os músculos, rasgou um pedaço e enrolou o dedo do magrelo líder do grupo.

- Vamos logo embora daqui, já fechamos o suficiente essa joça.

Na noite seguinte, no quarto de Marinho, circundados pelos posters de Gary Oldman, Bela Lugosa, Christopher Lee, Luke Evans, Jack Palance, Klaus Kinski, Max Scherek e Frank Langela, todos caracterizados como Drácula, a obsessão de seu dono, os três amigos esperavam anoitecer para irem encontrar o professor Nigel Vahns, um holandês já bem velho que Marinho conhecera na internet em meio a suas pesquisas sobre vampiros.

- O professor vai gostar do que encontramos. Ele tinha certeza que essa tal Baronesa de Itararé nunca tinha existido. Antigamente havia um jornalista que fazia sátiras nos jornais de São Paulo e se autodenominou Barão de Itararé, mas esse barão nunca existiu, por isso ele desconfiou. Depois ele rastreou essa tal Ramira Nerk de Bulhões e deduziu que ela era uma vampira vinda de Nova York e que foi enterrada aqui, mas alguém descobriu a verdade e cravou-lhe a estaca. A data de nascimento no túmulo da suposta Ramira coincide com a data que ela chegou no porto de Santos e a data de sua morte coincide com a construção do Palacete Conde Prates, 1911. – Marinho fez uma pausa.

- Ele deduziu que o filho de um dos arquitetos do palacete, que ajudou no projeto da obra e era filho de uma americana, ajudou a vampira a se esconder no cemitério, depois que ele encontrou seu túmulo no terreno da plantação de chá do conde, onde construíram o palacete. Certo? – Perguntou Paulo.

- Isso mesmo, mas algo me intriga nessa história – comentou Pedro, o mais cético dos três.

- O quê?

- Não sei ao certo. A ideia já veio na minha cabeça diversas vezes e sumiu na mesma hora. De repente ela volta e engrena. Essas datas todas conferem com a teoria do professor. Mas o nome me intriga... parece alguma coisa que eu já vi antes, mas não sei do que se trata.

- Vamos, já são onze e meia, daqui há pouco o professor estará na casa dele e poderemos contar as novidades – comandou Marinho.

- Ele sempre dá aulas até tão tarde na faculdade? Eu fico com sono nesses encontros tardios e não rendo bem no treino da academia no dia seguinte – reclamou Paulo.

- Sim, e nos finais de semana joga cartas em um clube, assim só tem tempo livre à meia-noite, quando chega em casa. É um velhinho hiperativo. Vamos, temos que ir. Um dia sem malhar não vai fazer você criar pelancas, Paulo. E por favor, ponha a camiseta.

Saíram sob os olhares hipnóticos dos Dráculas nas paredes.

Vampiro à PaulistaOnde histórias criam vida. Descubra agora