Prólogo

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Acordo na cama de hospital. De novo.

Isso já era rotina, mas agora tinha acabado de sair de uma cirurgia. Médicos me rondavam, e minha mãe mantinha as mãos na frente da boca com um semblante preocupado. isso só podia significar uma coisa: más notícias.

"Fizemos tudo o que podíamos", diriam os médicos "Mas infelizmente, o tumor estava em um local de difícil acesso, e você corria riscos demais se tentássemos tirá-lo".

 Talvez tenham dito exatamente isso, mas não tenho a mínima ideia, já que simplesmente bloquei tudo a minha volta. Minha mãe, Hillary, voltaria a pesquisa. Estávamos nessa há três anos, desde que fui diagnosticada: Íamos a um hospital, escutávamos o diagnóstico e a solução médica. Tentávamos. Quando não desse certo, porque nunca dava, procurávamos "outra opinião". Outro modo de acabar com esse câncer que me consumia todos os dias, e me impedia de fazer quase tudo, devido aos diversos tipos de tratamentos.

- Ainda podemos tentar Cleveland. - disse minha mãe assim que os médicos se retiraram do quarto, me tirando de meus devaneios. Seus olhos estavam marejados, e seu nariz vermelho. - O tratamento é novidade, remédios mais fortes, e... podemos tentar outro cirurgião. Um que  seja realmente corajoso, sabe?

- Mãe... - suspirei e a olhei cansada.

- Mariza, por favor! Dê uma chance. Sei que está cansada, que está exausta, mas não posso te perder, entende? 

"Sim mãe. - quero dizer - Eu entendo. Sei que seria mais fácil para você me deixar ir se papai ainda estivesse aqui. Seria mais fácil para mim ficar, também." Mas não posso lembrá-la disso. Não posso lembrá-la de que vai ficar sozinha e sem rumo se eu partir, se quiser vencer essa discussão. Preciso ser firme, porque sei como isso vai acabar: ela vai gastar todo o nosso dinheiro em tratamentos inúteis, apenas para me dar mais alguns meses de vida. Dar a ela mais alguns meses comigo, mesmo que seja assim.

Pode parecer egoísta, mas eu penso nela, juro que penso.

- Eu... não conheço ninguém de lá, mamãe. Vou ficar sozinha. - "VOU MORRER SOZINHA", acrescento mentalmente.

- Vai conhecer pessoas novas, filha! Não quero discutir com você, mas não posso deixar que desista tão fácil, meu amor.

- Tudo bem, mãe...

- É sério? - ela pergunta entusiasmada.

- É, sim. MAS, não fique tão animadinha assim, essa é a última vez, tá bem? Não quero que desperdice sua vida com um peso morto que...

-   Entendido! - ela me interrompe - Prometo a você que este hospital será o último - ela sorri fraco e me dá um abraço apertado.


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