•Primeiras impressões de uma segunda chance•

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Nós chegamos ao Cleveland Clinic - Fairview Hospital em 3 horas de carro, levando quatro malas minhas e duas da minha mãe. Era um hospital grande, com três andares. Uma enfermeira que se apresentou como Morgan nos levou até meu quarto, na ala da oncologia.

O quarto era relativamente alegre para um hospital, bem arejado, com cortinas adoráveis nas duas grandes janelas. Era quase tão bom quanto o meu último quarto. Quase.

Uma porta de vidro dividia o cômodo ao meio, onde ficavam uma cama em cada lado, apenas um banheiro. Na cama do lado esquerdo, bem ao lado da janela, estava deitada uma garota loira com cachos curtos assistindo um reality show qualquer, a porta de vidro que nos dividia fechada. Parece ter sido bonita algum dia, antes da doença dominar seu corpo.

Ela repara no movimento ao meu lado do quarto e vira o rosto rapidamente para as estranhas em seu quarto. Parece que estava sozinha já havia um tempo. Seu olhar encontra o meu e ela sorri timidamente, ao qual respondo com um sorriso e levanto as sobrancelhas. A garota levanta os ombros, indiferente.

Minha mãe, calorosa e receptiva como sempre, caminha apressada até a porta de vidro, abrindo-a rapidamente e estendendo sua mão para a loirinha.

- Olá, sou Hillary Williams, e essa é minha filha Mariza - acenou com a cabeça na minha direção.

- Sou Joanne, muito prazer - ela apertou a mão da minha mãe.

De repente, seus olhos pousaram em minhas mãos, e seu semblante mudou completamente.

- Isso é... o que eu estou pensando que é? - Joanne me olha com os olhos brilhando.

- Se pensa em jujubas, é isso mesmo. Cortesia da recepção do hospital. As laranjas são minhas preferidas!

- Prefiro as azuis- ela diz em meio a risos -  é minha cor preferida.

- Combina com seus olhos - digo e nós rimos juntas.

E assim nasceu  a amizade mais rápida criada na história.


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- A pediatria é minha ala preferida. Crianças me amam. - Joanne diz com convicção - Aqui é como uma escola. Temos nossas próprias turmas, mas muitos tem amigos de outras turmas. Vou te apresentar uma amiga.

Joanne é uma garota tagarela. Provavelmente, era bastante popular no colégio. Todos parecem conhecê-la. Me grudo nela, já que não conheço ninguém por aqui. Depois que minha mãe nos deixou no quarto para preencher algumas papeladas e cuidar da parte burocrática, minha nova amiga resolveu que eu precisava conhecer o hospital.

- Ela dá chocolates escondida. É como tráfico por aqui, com tanta gente doente por perto... - ela arranca risinhos de mim, o que me faz relaxar um pouco.

- Joanne, o que faz fora da cama? - uma mulher baixinha e cabelos grisalhos se aproxima de nós. Pela prancheta em sua mão, e uniforme azul, ela é médica ou enfermeira.

- Sabe que eu sou imparável, Frank. Além disso, precisava fazer um tour por nossos domínios com a garota nova.

Seus olhos calmos me encontram e ela sorri. Aceno com a mão para ela e digo um "Oi" baixinho.

- Olá querida! Sou Debra Frank, enfermeira da ala de queimados, seja bem-vinda! -

- É um prazer, Debra. - apertei sua mão enquanto olhava em volta. Ala de queimados. A imagem de mil pessoas queimando me vem à mente e estremeço.

- Oh, me chame de Deb, sem formalidades por aqui! Somos todos uma família!

Deb e Joanne conversavam sobre alguma paciente que havia falecido dois dias atrás. parei de prestar atenção na conversa quando meu olhos o avistaram: Olhos de um azul profundo como o mar. Seus traços eram definitivamente bonitos, e não aparentava ter mais de 18 anos. Sua expressão abatida de algum modo sombrio, combinava com suas cicatrizes. Estavam presentes em todo o rosto. Aparentemente, pela coloração das queimaduras, estivera em um acidente recente, e não parecia estar naquele hospital a muito tempo, pois parecia tão perdido quanto eu.

- Quem é aquele? - cochichei no ouvido de Joanne, enquanto ainda o olhava e o garoto notou que eu o encarava. Apenas encarou de volta.

Of The SeaOnde histórias criam vida. Descubra agora