Capítulo 9: De Sem-Peles e Fugas

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O toque gelado da morte no espírito de Jaguar fez com que eu me arrepiasse, como sempre. Dei boas-vindas ao espírito quando ele se acomodou em meu corpo, nossas sensações passando a serem compartilhadas, incluindo pensamentos superficiais. Jaguar sentiu-se sobrecarregado pela quantidade de sensações, algo que eu esperava, considerando o tempo que se passara desde sua morte, e fechou nossos olhos com força enquanto apoiava os dois cotovelos no chão frio e empoeirado e fazendo o mesmo com os joelhos. Nosso estômago se revolvia de forma não muito amigável, apesar de estar totalmente vazio.

— Respire com calma. Devagar. Você morreu há muito tempo, desacostumou com essas sensações. — orientei à Jaguar, tentando acalmar o espírito.

Foram apenas alguns segundos que ele precisou. Ao fim desses segundos, ele se levantou e deu alguns passos firmes com meu corpo pela câmara, antes de parar encarando a escada, única entrada e saída.

Os Filhotes de Tzitzimime estão avançando. Vamos ter de lutar para sair. — ele falou usando minha boca, nossas vozes misturadas ecoando na sala. Através dos pensamentos superficiais, mostrei a arma no cós da calça e como ela funcionava. Jaguar bufou de leve. — Isso não mata esses seres. — uma pausa, e Jaguar colocou o pé no primeiro degrau. — Se tivesse como eu usar minhas armas...

Mal falou, continuamos a subir.

Por um momento pensei em ficar irritada com a declaração, até lembrar de Abel descrevendo como nada adiantara contra os Sem-Pele. Só vou chama-los de Tzitzimime quando tiver certeza de que são Tzitzimime.

Por que quer suas armas? — assumi o controle da minha boca para perguntar, Jaguar controlando minhas pernas para subir a escadaria. Era mais fácil do que conversar mentalmente, já que eu não o conhecia tão bem quanto conhecera Helena. Senti meu estômago se revirar ao notar a proximidade dos espíritos e dos gritos dos seres estranhos.

— Tzitzimime, mesmo os filhotes, existem ao mesmo tempo em todas as frequências, mas só são vulneráveis a objetos das frequências espirituais. Como as minhas armas. — Jaguar controlou minha boca para responder, a aspereza das paredes viajando através das pontas dos dedos que ele mantinha encostados à pedra. Argh. Tá parecendo mesmo coisa de Tzitzimime, essa coisa de existir em todas as frequências. Os tais são uma mistura bizarra de espíritos divinizados e seres transformados pela crença. Mesmo assim... Não lembro de ter lido sobre seus "filhotes" parecerem morto-vivos. É... Estranho. Será que a Stella Bianca nunca lidou com filhotes de Tzitzimime antes? Era o que mais fazia sentido. — Essa sua arma estranha, pelo que me mostrou, existe apenas na frequência material, então não faz sequer cócegas neles.

Tinha de ser algo que foi tirado da Oitava Unidade. Tinha de ser. E ainda por cima uma das coisas que mais foi ferrada de capturar, justamente por não ser nada direito e precisar de um processo todo próprio pra ser lidado.

Estou tão ferrada.

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Depois de minha constatação de "estou tão ferrada", eu e Jaguar ficamos em silêncio até termos praticamente subido toda a escadaria. Pouco antes de entrarmos na primeira câmara, onde eu encontrara o medalhão, senti calor se espalhar repentinamente por meu peito, como se uma tocha tivesse sido acesa à minha frente e então afundado através de minha pele até alcançar as costelas e o esterno, aquecendo, mas sem queimar. A sensação assustou a mim e ao espírito dentro de mim: ele parou com um pé em cada degrau e olhamos, sem briga por quem controlaria minha cabeça e pescoço, para baixo.

Alanna - Os Sem PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora