Capítulo 27

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Lauren Pov.

Minha primeira reação foi ficar parada. Em choque. Sem saber como agir, e nem como o fazia. A segunda foi bem mais deprimente. Eu comecei a chorar compulsivamente, ouvindo a voz de Camila do outro lado da linha. A terceira foi me levantar, calçando uma bota simples rapidamente e vestindo uma jaqueta grande. Em momento algum deixei que Camila finalizasse a ligação, o que serviu para mim, pois ela me lembrou que eu deveria comunicar meus pais antes de qualquer coisa.

Após bater na porta e ser atendida por minha mãe, a mesma ficou completamente apavorada, mas não demorou a gritar por Mike, que dormia no andar de baixo. Com a gritaria, Chris apareceu na porta, vestindo apenas uma calça de pijama. Seus cabelos grandes estavam bagunçados, e seus olhos indicavam plenamente que ele acordou assustado pelo chamado de Clara.

Por fim, estávamos todos no carro, indo até o hospital que Camila tinha me informado.

Foi agonizante entrar lá, mas tudo pareceu suavizar quando Camila correu até mim e me envolveu em um abraço apertado.

"O que aconteceu?" Meu pai perguntou. Camila deixou o braço ao meu redor, mas encarou meu pai.

"Taylor se machucou muito." Camila disse. Foi inevitável, acompanhei o choro da minha mãe, e Chris a abraçou. Ele estava prestes a chorar junto. "Eu vi o acidente... foi... horrível... mas pelo que os médicos estão dizendo, ela vai ficar bem." Meu pai suspirou.

"Quem te contou isso?" Meu pai perguntou.

"Uma enfermeira, senhor Jauregui." Mike assentiu.

***

Mais algum tempo se passou, e nada de Taylor.

Todos estávamos preocupados com minha irmã. Os cuidados que ela recebia não foram suficientes, então informaram meu pai que deveria ser feito uma cirurgia, e claro que Mike concordou, logo falando com o gerente da própria conta de banco pelo celular, e então liberando dinheiro para pagar não só a cirurgia, como um quarto e um bom médico para acompanhar Taylor. Estava tudo certo, só faltava minha irmã estar bem.

Olhei para Camila, que estava sentada ao meu lado, e sorri fraco. Era o mínimo que eu conseguia fazer para lhe agradecer naquele momento.

"Você viu o acidente acontecer?" Perguntei. Camila suspirou e assentiu.

"Vi. O cara que dirigia foi ultrapassar o carro de Shawn e o desafiou, logo disparou e quando percebemos, o carro já dava cambalhotas e... foi muito rápido..." Assenti, outra vez sentindo meus olhos lacrimejarem. Eu já tinha uma breve noção de quem dirigia o carro que capotou.

Forcei meu melhor sorriso e encarei Camila, que apenas ajeitou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.

"E como foi seu encontro com Shawn?" Sorriu, corando logo em seguida. Mudei o assunto pois já estava me sentindo mal o suficiente, talvez eu gostaria que falassemos sobre qualquer outra coisa.

"Foi... foi bom... eu contei para ele sobre a intersexualidade e... ele aceitou muito bem. Nós nos beijamos." Levantei minhas sobrancelhas.

"Sério?!" Perguntei. Camila costumava ser muito tímida ás vezes... bom, era assim comigo.

"Sim... tivemos uma conversa muito boa mesmo."

"Que fofo! Foi justo. Estou orgulhosa de você." Falei, não tão feliz como achei que iria ficar. O barulho de algo caindo me fez perder a atenção que eu tinha em Camila, em seguida voltei a perceber onde estávamos.

E mais uma vez, eu queria chorar.

***

Quatro costelas e a perna esquerda quebrada – precisamente falando; a tíbia precisou ser reconstruída –, o braço esquerdo com uma luxação, oito pontos em um corte da testa, quatro no braço esquerdo, e uma concussão, que deixou Taylor desmaiada durante todo o tempo, e ainda rendeu preocupação extra aos médicos. Por sorte, agora estava tudo bem.

Meu pai, que estava ao meu lado, suspirou aliviado, e pela primeira vez desabou a chorar. Eu não saberia dizer bem o que ele estava sentindo, mas acreditei ser alivio. Meu irmão o abraçou e em seguida fiz o mesmo, surpreendentemente, minha mãe participou do abraço. Era um grande alívio saber que ao menos Taylor conseguiria resistir firme e forte.

"As visitas serão permitidas só a partir de amanhã... mas preciso que alguém fique com ela no quarto." O médico a nossa frente falou.

Por fim, meu pai decidiu ficar, pedindo para que minha mãe não se preocupasse, e voltasse para ficar com Taylor no dia seguinte.

Eu estava andando até a saída do hospital e segurando a mão de Camila, já que aquilo me passava um conforto surpreendente. Estava finalmente aliviada por Taylor estar suficientemente bem.

"Com licença... senhora Jauregui?" Ouvimos alguém chamar. Percebi ser um policial, e logo atrás dele, Shawn. Minha mãe encarou o homem fardado, parado na porta da recepção.

"Pois sim?"

"Eu espero que não se importe, mas entrevistei Peter Mendes por conta do acidente, agora já temos toda a história." Shawn assentiu para minha mãe e parou ao lado de Camila. Observei os dois interagir.

"Achei que tivesse ido embora..." Camila falou baixo. Peter sorriu.

"Não... eu vim para cá e encontrei o tenente Johnson a caminho. Paramos para conversar e dei depoimento." Camila assentiu. "Achei que estivesse cansada demais para o fazer agora...?" Minha amiga sorriu fraco.

"Eu estou. Obrigada, Shawn."

"Quer que eu te leve para casa? Eu não queria atrapalhar, mas é porque está no meu horário... eu preciso descansar um pouco se quero sobreviver ao meu trabalho." Falou, então achei que seria uma boa hora para me prontificar.

"Camz... dorme na minha casa hoje?" Perguntei. Camila sorriu e assentiu. "Obrigada... Peter..." Ele me encarou. "De verdade, muito obrigada." Peter apenas sorriu, deixando um beijo na bochecha de Camila, e assim vindo me abraçar. Respondi o ato sem hesitar, afinal, ele era um garoto legal.

"Quem era o motorista?" Minha mãe perguntou. Nesse exato momento, meus olhos voaram para ela, enquanto Peter se afastava.

"O garoto infelizmente faleceu, Senhora Jauregui. Nós ficaremos esperando os resultados da autópsia. Ele tinha ficha na polícia por mau comportamento, desacato a autoridade... era... bem encrenqueiro. Tem os pais ricos, então sempre saia livre. Encontramos um histórico da família dele onde é evidenciado problemas no coração, então por não ter fraturas graves expostas, desconfiamos que ele não tenha sobrevivido a um ataque cardíaco." Vi o rosto da minha mãe ficar branco, logo vermelho de raiva, assim como eu imaginava estar também. "O nome dele era Hector Monroe."

"Quantos... anos ele tinha?" Minha mãe perguntou. Pensando sobre a conversa que tive com Taylor algumas semanas atrás, por mim mesma respondi. Fechando os olhos e suspirando em derrota.

"23." Exclamei. Abaixei minha cabeça em silencio, mal acreditando que aquilo teria acontecido justo com Taylor... deus, ela não merecia. Todos me encaravam, agora, e eu sabia disso pois sentia.

"Você o conhecia? Sabia de algo que pode ser importante para nós?" O policial perguntou.

"Ele já está morto mesmo..." Minha mãe deu um tapa fraco no meu ombro, me fazendo bufar. "Não, policial. Eu só tinha ouvido falarem dele algumas vezes... nada de extraordinário."

Sim, policial. Ele tirou a virgindade da minha irmã enquanto estavam bêbados. Babaca.

SexTape - Camila Intersexual (𝐑𝐞𝐞𝐬𝐜𝐫𝐢𝐭𝐚)Onde histórias criam vida. Descubra agora