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Respirei fundo ao sair daquela sala, eu amava minha profissão, mas as as vezes eu precisava ter sangue frio.

Quando escolhi a área respiratória como especialização, mais espeficamente a UTI, eu já sabia que perderia pacientes com muita facilidade, porém apesar da maioria estarem em coma, eu me apegava fácil demais a eles.

A senhora Choi, do quarto 428, tinha partido hoje mais cedo. Sua família tinha decidido desligar os aparelhos após um coma de sete anos.

Minha função era relativamente simples, eu precisava vistoriar a respiração pelos aparelhos, controlar o índice de oxigênio, saturação e as demais coisas complicadas que aqueles botões diferentes faziam, além de aplicar as técnicas de cinesioterapia, que eram uma sequência de exercícios manuais para que nada atrofiasse ou perdesse amplitude de movimento durante a estadia dos pacientes no hospital, mas eu gostava de conversar com os pacientes enquanto isso, contar sobre o tempo, sobre as coisas que estavam acontecendo no mundo, eu tentava os instigar a acordar por conta própria.

E quando algum paciente falecia, eu me sentia extremamente triste, era como perder um amigo meu, porque era assim que eu os via, como amigos meus.

Respirei fundo mais uma vez e tentei me recompor, eu tinha que ver o último paciente do dia ainda e infelizmente trabalhar em hospitais, era lidar com perdas.

Eu "tomava conta" de seis pacientes atualmente e o atendimento durava cerca de uma hora a uma hora e meia cada, tirando as horas extras que eu costumava fazer, não era como se eu tivesse coisas mais legais pra fazer.

Assim que senti que estava pronto, caminhei até o quarto 436, abri a porta lentamente, respirando aliviado ao ver que Jeon Jeongguk ainda estava deitado em sua cama.

As vezes acontecia de algum paciente meu ter alta enquanto eu não estava no hospital ou até mesmo... Bom, partir dessa pra melhor.

Jeon era meu paciente há cerca de cinco meses, ele sofreu um acidente de carro numa noite chuvosa e eu estava de plantão no dia, talvez seja por isso que eu sou tão apegado a ele, eu o acompanho desde o dia que ele chegou ao hospital. Ele tinha fraturado algumas costelas e o fêmur, além de ter batido a cabeça bem forte no volante, o que ocasionou o coma em que ele está até hoje.

- Boa tarde Gukie. - Falei sorrindo indo abrir as cortinas do quarto. - Aish, a enfermeira Chae sempre fecha essas cortinas, acho que ela não entende que um pouco de sol faz bem, não é mesmo?

Ri sozinho enquanto conversava com ele, eu realmente acredito que os pacientes podem nos ouvir mesmo em coma.

- O dia está realmente bonito lá fora, o que acha de abrir esses olhinhos e ir aproveitar? - Continuei falando enquanto colocava minhas luvas. - Tão quieto Jeon, você gosta quando te chamam de Jeon? Uma vez eu estava aqui quando um amigo seu veio te visitar, meio carrancudo... Parecia ser bem bravo, mas vi como ele amoleceu quando te viu... Mas então... Ele disse que você odeia quando te chamam de Jeon, porque parece que estão brigando com você... Talvez eu esteja brigando com você mesmo, acho que você já dormiu demais...

Comecei os procedimentos padrões para verificar a saturação do oxigênio, organizando alguns parâmetros e logo comecei a aplicar as técnicas de cinesioterapia.

- Seria melhor se você estivesse acordado, sabia? Eu não sei se estou te machucando ou não... - Falei em um falso tom bravo. - Ah você nem acredita, o doutor Seokjin hyung finalmente assumiu que está namorando, mas não quer me contar com quem, eu mereço isso Ggukie? Eu sou o melhor amigo dele, aigoo... - Formei um bico emburrado, suspirando audivelmente logo em seguida. - Eu queria escutar sua voz Jeon... É meio estranho falar sozinho as vezes... Você parece alguém bem interessante. Será que era algum idol? Acho que não, se você fosse estaria na tv. Fico curioso em imaginar quem você era antes do coma...

Suspirei outra vez finalizando os procedimentos, estralando as costas sentindo o cansaço bater. Me virei encarando Jeon de novo, ele era um garoto novo, mais novo que eu pelo que indicava na sua ficha médica, me doía ver alguém tão jovem perdendo tempo naquela cama.

- Eu preciso ir agora, mas eu volto amanhã, certo? Você vai me esperar não é? - Disse cansado. - Não vai me deixar agora, por favor, a senhora Choi foi embora hoje e eu...

Comecei a chorar baixinho, eu odiava perder pacientes, odiava, era como se eu não tivesse cumprido meu dever como profissional.

- Me desculpa por chorar, você sabe, eu me apego muito a vocês... - Toquei levemente seu cabelo preto, fazendo um tipo de cafuné. - Eu vou indo, espero que você acorde logo Gguk...






NOTA: é isso aaaaai, eu vou atualizar rápido porque to de ferias e não faço nada, então é isso, deixa a estrelinha ai ta bom?

beijo tchau lindoes

twitter: @moagguk

unidade de terapia intensiva • jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora