Capítulo -01-Encontro em Kérkira

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O mar estava sereno aquela manhã, com ondas cintilantes agitando-se preguiçasamente ao sabor da brisa sua­ve e refrescante. Duas crianças nuas brincavam à beira d'água.

A alegria delas era contagiante e Anahi não conseguia desviar os olhos daquela cena, que a deixava tonta de emoção. Na beleza e na inocência de sua nudez, elas rola­vam na areia e caíam na água, gritando e rindo. Livres de qualquer preconceito ou malícia, apenas se divertiam, felizes.

Anahi imaginava se seria possível aos adultos alcançar essa liberdade e se algum dia conseguiriam livrar-se dos tabus que tinham em relação aos próprios corpos.

Olhando à volta, ela admitiu que algumas mudanças já estavam ocorrendo. Em toda a extensão da praia banha­da pelo Mediterrâneo, mulheres de todas as idades, inclusive ela mesma, praticavam o topless com naturalidade e sequer corriam o perigo de ser molestadas.

Mas seria essa uma conquista real na luta pela emancipação feminina? Ou tratava-se apenas de um fenomeno localizado, uma moda passageira?

Na maioria das praias de outros países essas mesmas mulheres não estariam tão à vontade, mas protegidas com sutiãs de biquinis minúsculos. E Anahi teria que agir do mesmo modo.

Por que sua liberdade tinha que ser determinada por uma simples questão de geografia? Talvez ela e todas as outras, de topless naquela praia do Mediterrâneo estivessem simplesmente seguindo a moda e não livres, na realidade, dos preconceitos.

Aquele era um assunto sobre o qual deveria refletir bastante e analisar com mais objetividade, antes de se aventurar a escrever qualquer coisa. Nesse momento não queria sequer pensar que a liberdade que sentia em poder nadar, e depois se estender languidamente na areia, praticamente nua, poderia ser apenas um modismo passageiro.

Por anos sentira-se tolhida pelo código moral que determinava quais as partes de seu corpo que deveriam ficar escondidas sob as roupas. Mas nunca sentira vergonha da nudez, nem achara indecente ou imoral. No entanto, sabia muito bem o que lhe aconteceria se tirasse a roupa quando lhe desse vontade, em qualquer lugar do mundo.

Desde criança haviam-lhe ensinado que deveria envergonhar-se de expor o corpo. Será que as outras mulheres que se encontravam ali, na praia, compartilhavam dessa ideia?

Na Grécia antiga, a nudez sempre fora glorificada. O que havia feito essa concepção mudar? Como surgiram os tabus, que consideravam determinadas partes do corpo feminino indecentes? A religião certamente tivera grande influência, mas sempre haviam sido os homens os principais responsáveis, na medida em que não gostavam de expor aos olhares públicos aquilo que consideravam como propriedade exclusiva, ou seja, as mulheres.

Talvez, por instinto, elas tivessem se revoltado contra esse poder que lhes negava o direito, aliás muito justo, de nadar mais livremente, sem o estorvo daquela tira extra de pano. Conseguir esse direito tão simples significava uma conquista a mais no domínio de seus próprios corpos.

Naturalmente, os homens iriam reagir e tentar anular o valor dessa conquista. Simplesmente poderiam deixar de considerar os seios femininos como zona erógena, garantindo assim a propriedade, simbolizada apenas pela pequena região que permanecia coberta. Se elas se despissem completamente, eles na certa se apressariam em encontrar qualquer outra área da qual pudessem sentir-se donos exclusivos.

Anahi sabia que, se ousasse tirar a pequena tira de tecido que impedia a nudez completa, seria importunada por todos os homens desacompanhados que passassem por ali. Sua atitude seria interpretada como um sinal de que ela abandonara o direito à privacidade.

Eternamente Tua AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora