Capítulo -03-Segundo Encontro:Chantagem-

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Na manhã seguinte, enquanto se arrumava para ir tra­balhar, Dulce sentia-se como quem estava prestes a abandonar um condenado à morte. A alegre agitação com que costumava se preparar para mais um dia de trabalho fora substituída pelo nervosismo. Por duas vezes ela pa­rou o que estava fazendo e entrou na cozinha, onde Anny tomava café.

— Sinto muito, mas tenho que ir.

— Não se preocupe comigo, Dulce.

Anny sorria, tentando aparentar uma calma que não sentia. Pensar no confronto iminente com Alfonso fazia seu coração bater mais depressa, como se fosse explodir no peito. Dulce adiou o quanto pôde sua partida, mas ambas sabiam que Alfonso não chegaria antes que a pri­ma tivesse saído.

Ela mordeu o lábio e olhou novamente para o relógio.

— Vou pegar um táxi. Posso esperar mais um pouco.

— Você sabe muito bem que é impossível conseguir um táxi em Atenas na hora do rush. Vai perder mais tempo esperando, vá de ônibus. — E, num gesto decidido, abriu a porta para ela.

— Mas...

— Por favor, Dulce. Eu estarei bem, não crie proble­mas por minha causa. Se Alfonso está com raiva por cau­sa do artigo, o que mais poderá fazer além de me pedir para que não seja publicado?

— Nada, eu acho. — Ela ainda parecia em dúvida. — Você não se importa mesmo se a deixar sozinha? Meu chefe me mata se eu me atrasar novamente. — Começou a atravessar o corredor em direção ao elevador e, então, teve uma ideia. — Você não precisa deixá-lo entrar, Anny. Ele terá que tocar a campainha da portaria. Você pode simplesmente ignorá-lo!

— Adeus — disse Anahi, encerrando o assunto. — Pos­so enfrentar qualquer machista com a maior tranquili­dade.

Dulce ainda tentou argumentar:

— Não concordo com a sua opinião sobre ele, você sabe. Mas talvez no Canadá e nos Estados Unidos as coi­sas sejam diferentes.

— Talvez.

O elevador chegou e, com um último olhar de culpa, Dulce entrou.

Anny fechou a porta do apartamento e encostou-se nela. Talvez nada! Ela nunca tinha visto tantos machistas quan­to nessas últimas semanas que passara na Grécia. Ho­mens que nunca levantavam um dedo para ajudar Dulce na cozinha, que pegavam todas as cadeiras dispo­níveis à volta da mesa, sem nem mesmo importar-se com o lugar onde se sentaria a anfitriã!

Os gregos não apenas relegavam as mulheres a um segundo plano, como também eram incapazes de qualquer atitude de cavalheirismo. Eles desconheciam os pequenos gestos que demonstravam delicadeza, como abrir uma porta ou puxar uma cadeira.

Naquele país, as mulheres ficavam de pé, enquanto os homens sentavam-se. Eles se apoderavam sempre do me­lhor, como se tivessem todos os direitos, e não se preo­cupavam em demonstrar a menor atenção e respeito por elas.

Anahi não saberia dizer se esse comportamento era me­lhor ou pior do que aquele a que estava acostumada. Afi­nal, a boa educação muitas vezes não passava de hipo­crisia. Ainda assim, os gregos lhe pareciam pouco delica­dos. Por tudo isso, ela não dava muita importância à opinião de Dulce sobre Alfonso. Ele, sem dúvida, era um machista.

Meia hora depois, a campainha tocou e Anahi começou a suar. Apertou o botão que abria o prédio e dirigiu-se ao hall, enxugando a testa enquanto esperava pelas bati­das à porta.

Não que estivesse com medo do confronto, pois sentia-se preparada para ele. Era o nervosismo que fazia sua capeça latejar. Pela milésima vez imaginou o que a teria levado a envolver-se com Alfonso.

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⏰ Última atualização: Apr 02, 2018 ⏰

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