Deus é orgulhoso ?

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As regras da conduta masculina ensinam que os homens não devem expressar suas emoções. Emoção é igual a fraqueza, e fraqueza é igual a covardia. Os heróis são frios como gelo e dependem apenas de si mesmos. São cavaleiros solitários que não precisam de nada nem de ninguém. Nada é capaz de penetrar-lhes o coração, porque circunstâncias terríveis, eles próprios nunca necessitam que o favor lhes seja retribuído.                                             
Eu me lembro de assistir aos filmes do Charles Bronson quando era pequeno. Ele era um ícone da masculinidade, ninguém chegava a seus pés. Em outros filmes, no final, o herói sempre ficava com a mocinha e saía cavalgando com ela em direção ao pôr do sol. Mas Charles Bronson, não, ele largava a mocinha.                   
Ele não precisava de ninguém.             
Talvez exista um pouco de Charles Bronson em todos os homens. Esta imagem machista é conhecida por todos nós, e a levamos para a relação com nossa companheira, nossos amigos e filhos. Ele diz: "Eu não preciso ser tocado no coração; aliás, não vou permitir que ninguém jamais tenha um vislumbre do meu coração."
No cerne dessa mentalidade está o orgulho. Ele fecha o coração e não deixa ninguém entrar. É diferente de quando alguém se fecha depois de ter sido ferido ou magoado. Pessoas orgulhosas sinceramente acreditam que não precisam ser tocadas por ninguém. E essa atitude produz uma mentalidade altamente destrutiva.     
Pergunte se o amor é orgulhoso e a maioria das pessoas vai dizer que não. Ironicamente, uma das queixas mais comuns que ouço sobre as relações amorosas é que as pessoas não se abrem para o parceiro. Ao longo dos anos, este problema piorou e agora parece ter atingido seu nível máximo. Hoje uma pessoa é considerada forte e "inteira" quando se fecha para as outras. Como resultado, muita gente, no fundo, acredita que o amor é mesmo orgulhoso.                                             
O Deus que me apresentaram na igreja era mito parecido com o tipo Charles Bronson. Ele não era tão desalmado, mas certamente não precisava de ninguém. Ou as coisas eram do Seus jeito ou não eram de jeito nenhum. Eu me lembro do pastor dizendo que Deus não precisava de nós, nós é que precisávamos dele – e, se em algum momento confundíssemos isso, Ele nos mostraria com muita clareza como as coisas funcionavam. Deus tinha o direito de ser orgulhoso, porque era perfeito. Afinal de contas, se é verdade, isso não é considerado orgulho. Deus não tem necessidades. Nós fomos colocados aqui apenas para servi-Lo. No momento em que saíamos da linha ou nos recursamos a adorá-Lo, Ele cancela o nosso passaporte para avida sem pensar duas vezes. Temos sorte de receber as bênçãos divinas, mas pensar que Deus pode precisar de nós é uma grande tolice. Ele tem a si mesmo tudo aquilo de que necessita. Não existe outra maneira de O beneficiarmos além de simplesmente fazer o que Ele diz.
Mais uma vez, definimos a essência de Deus de acordo com uma compreensão equivocada. Os pastores são tão autoconfiantes porque sinceramente acreditam que Deus também é assim. Eles creem que, quanto mais se parecerem com Deus, menos necessidades terão. Nós passamos a acreditar que o resultado de aceitar a imagem de Deus é não precisar mais das pessoas, porque nossa satisfação será encontrada dentro de nós mesmos.
Tudo o que nos ensinaram a respeito de louvar a Deus comprova nossa crença de que Ele é orgulhoso. Muitas pessoas dizem que fomos colocados aqui para louvá-Lo o tempo todo de como Ele é grandioso. Dizemos a nós mesmos que O louvamos por obediência, porque é isso que Ele exige. No final de cada prece, temos o cuidado de atribuir a Ele toda a glória. Nós incentivamos uns aos outros a servi-Lo como escravos alienados. E acreditamos que, a menos que façamos isso por vontade própria, Deus vai nos arrastar a um "ponto de ruptura" em que nos submetemos completamente a Ele.     
A imagem que pintamos de Deus não é apenas cheia de orgulho, mas também de mau gosto. Se pegássemos as coisas que dizemos  a respeito de Deus e as atribuíssemos a um colega de trabalho, certamente iríamos detestá-lo. Iríamos evitá-lo a qualquer custo. Para manter algum tipo de relacionamento com ele, precisaríamos ter muita paciência.
É exatamente nessa situação que nos encontramos hoje em relação a Deus. Temos que incentivar as pessoas à nossa volta a se comprometerem com Ele, pois é fácil retomar os antigos hábitos e voltar a evitá-los. Esse "retorno aos velhos hábitos" é culpado pela nossa reação ao "fedor" de um Deus orgulhoso. Ninguém gosta de uma pessoa orgulhosa. E ninguém gosta de um Deus orgulhoso.     
Como eu disse, esse raciocínio se transfere para o dia a dia. Quantas mulheres passaram a ver o sexo como obrigação e não como expressão de amor? Quantas vezes nos sentimos forçados a levantar as mãos e entoar cânticos de louvor quando estamos cansados ou doentes, porque achamos que é isso que Deus espera de nós?
Aprendemos a pensar em Deus como se fosse um marido desalmado que só se preocupa com suas próprias necessidades. Mas não há orgulho no coração de Deus. Ele não precisa da nossa adoração. Ele quer que nosso relacionamento seja mutuamente edificante.

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