Decisões

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EMILLY
Hoje completa uma semana que eu li, pela primeira vez, o e-mail que ele me mandou. Nesses setes dias devo ter lido cerca de cem vezes, sem exagero.

Meu pai me contara que o Marcos havia me tirado de seu carro no colo e me levado até minha cama nos braços.

- Filha, eu acredito que ele seja um bom rapaz. De verdade! Mas é que tu já sofreu tanto. Só toma cuidado pra não se magoar de novo. – disse meu pai naquele domingo a tarde, quando acordei com uma ressaca enorme.
O Marcos nunca se expôs pra mim do jeito que fez na carta. Nem nas inúmeras vezes que dizia que me amava enquanto fazíamos amor.

Nesses dias peguei o notebook várias vezes e comecei a escrever uma resposta ao seu e-mail, mas não conseguia expressar em palavras o que estava sentindo no coração. Ou talvez não quisesse que ele ficasse sabendo.

Ele havia seguido sua vida, ficava com várias durante esses meses. Eu vi fotos dele com uma garota de São Paulo. Não sei se era namorada, mas lembro que, naquela época, ele postou uma foto em um restaurante romântico e, logo depois, surgiu uma foto deles no elevador e então começaram a dizer que eles passaram o Dia dos Namorados juntos.

Eu fingia que estava tudo bem, que minha vida estava seguindo normalmente. Mas passei noites e noites em claro chorando calada para quem ninguém ouvisse.

Peguei meu celular e procurei por ele no WhatssApp. Já era madrugada, mas ele ainda estava online. Lembro dele ter me dito que não dormia bem a noite.

Comecei a escrever para ele, mas copiei e colei nas Notas. Começaria a responder e, só quando terminasse, iria enviar a ele.

Já haviam se passado sete dias. Ele merecia uma resposta. Eu merecia tirar aquilo do peito. Era chegada a hora!

"Oi, Marcos. Tudo bem? Faz uma semana que eu li seu e-mail, mas só agora tive forças para responder.
Marcos, obrigada por ter tido paciência de me ensinar várias coisas. De tudo que tu me ensinou, o que mais aprendi é que "o silêncio é ouro". Sim, ele é ouro. Mas machuca tanto!
Quando tu escreveu aquela carta me acusando de ter te denunciado no confessionário do programa, eu queria gritar e dizer "seu idiota, eu jamais faria isso contigo". Como tu pôde pensar isso de mim, Marcos? Como tu pôde acreditar na produção que manipulava? Marcos, eu discuti com o Tiago ao vivo pra te defender um dia antes do teu paredão contra o Ilmar.
Tu não sabe, mas meu coração também tinha exatamente tamanho que te cabia.
Eu nunca me importei se tu era o Dr Marcos Harter com uma mega piscina em seu casarão e um carro do ano na garagem. Eu me apaixonei pelo Marcos, o meu Marrcos de covinhas nas bochechas e uma risada estranha. Me apaixonei pelo Marcos que tapava meus olhos e ouvidos toda manhã, que me chamava de picinho. Eu me apaixonei pelo Marcos que beijava meus olhos e dizia que me amava enquanto fazíamos amor debaixo do edredom.
Tu tava enfrentando um processo e, na ânsia de respostas, metia os pés pelas mãos sem pensar se iria ou não se prejudicar. E o meu silêncio foi unicamente para que você não fosse prejudicado nisso tudo. Talves agora, com tudo mais calmo, você consiga entender.
Eu não te acho um agressor, eu não te acho agressivo. Eu conheci teu corpo, teu cabeça, teu coração.
Lá dentro, às vezes, alguém conseguia que ficássemos brigados, mas logo passava. Éramos só nós dois. Vivíamos em nosso mundinho com amor, brigas, reconciliações, brincadeiras... Mas aqui fora deixamos que as pessoas se metessem em nossas vidas e tomassem atitudes por nós dois e, desse jeito, fomos nos afastando.
Nós dois fomos covardes, Marcos. Ficamos esperando a atitude do outro por puro orgulho de não ir atrás, de fingir que estava bem, que estava por cima quando, na verdade, estávamos sofrendo.
Tu acha que não foi difícil receber a notícia que tu tinha sido expulso por uma briga nossa? Tu acha que não me senti culpada? Tu acha que eu não queria gritar por mundo inteiro que você não era nada daquilo que diziam?
Mas, Marcos, tu puxou torcida contra mim antes mesmo que eu tivesse chance de sair de lá e conversar contigo. Tu me me colocou no papel de culpada antes mesmo que eu pudesse me defender. Meu coração sangrava enquanto eu lia aquelas cartas que tu fez falando de mim. Eu não fiz aquilo, Marcos. Eu jamais faria aquilo!
Mas eu também te peço perdão pelos erros que cometi, mas acho que ainda não estamos prontos para nos perdoarmos. Talvez, lá na frente, a gente se reencontre nos acasos da vida e seja o momento.
Seja feliz, Marcos. Talvez não fomos feitos para ficarmos juntos. O nosso plano não deu certo."

Copiei o texto do Notas e enviei para ele no WhatsApp. Poucos minutos depois meu celular tocou. Era ele!

- Alô?
- Emilly, onde você tá? – perguntou ele com aquela voz que fazia meu coração parar.
- Em casa.
- Qual casa?
- No Rio, Marcos. Por que tu tá perguntando isso?
- Eu estou indo pra sua casa.
- Mas, Marcos...
- Chega de covardia, Emilly! – ele respondeu confiante. – Já passou da hora da gente falar olhando no olho e resolver essa situação.

Eu respirei fundo. Ele estava certo.

- Você tem razão. Já passou da hora!
- Vejo você daqui há algumas horas. - e desligou o celular.

Meu coração não decidia se iria parar a qualquer instante ou se iria bater cada vez mais forte.

O Marcos vinha me ver. Ele iria sair de casa às 2h da manhã para pegar um avião e vir me ver.
Coloquei o celular para carregar e entrei no banho.

Em algumas horas ele estaria aqui. Sem microfone, câmeras... Só nós dois.

E tudo seria colocado em pratos limpos.

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⏰ Última atualização: Jun 13, 2017 ⏰

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