Viajando para casa

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Já havia muito tempo desde que Marcos e Emilly haviam se visto pela última vez, no palco da final do BBB.

De vez em quando se pegavam vendo fotos e vídeos que alguns fãs ainda teimavam em postar deles.

Haviam tido vários relacionamentos passageiros que não duravam mais de 15 dias.

Marcos havia vazado algumas fotos com uma garota, no meio do ano, na tentativa de mostrar que estava bem, por cima da situação ou que Emilly tomasse alguma postura diante de tudo, mas não houve resultado. Ela continuou calada, sem falar sobre ele ou qualquer assunto que envolvesse os dois.

Ele continuava viajando pelo Brasil para fazer cirurgias e curtir as noitadas, enquanto ela estudava e estava gravando uma nova minissérie na Rede Globo. Ela faria o papel da protagonista, onde seria Isabel, uma moça que havia acabado de voltar ao Rio Janeiro após longos anos estudando na Europa.

Marcos não tinha tempo para assistir TV e, quando soube que ela estava na minissérie, fez questão de ficar o mais longe possível da televisão.

Emilly bloqueava quem falava dele em suas redes sociais, fosse algo bom ou ruim.

Falar sobre um, ainda doía bastante no outro.

O avião de Emilly estava parado no Rio de Janeiro esperando os outros passageiros que vinham fazer escala nele e ela aproveitou para tirar um cochilo, já que sabia que não iria conseguir dormir bem enquanto o avião estava no ar, pois as turbulências a deixavam nervosa e faziam com que ela perdesse o sono.

Enquanto tirava um cochilo de leve, escutou a aeromoça conversando com algum passageiro sobre uma troca de lugares.

- O senhor aceita trocar com ele e ficar na poltrona 23? – perguntou a aeromoça, educadamente, ao passageiro.

Emilly não ouviu a resposta, então olhou para ver quem estava trocando de poltrona e iria viajar ao seu lado até Porto Alegre.

- Essa é a poltrona onde fará viagem, senhor. – disse a aeromoça saindo da frente do rapaz para mostrar seu lugar.

Homem alto, cabelos aloirados, com covinhas em ambas as bochechas. Estava de calça jeans, um tênis preto, blusa branca e óculos de Sol.

- Só pode ser brincadeira. – disse Emilly tão baixo que apenas ela mesma podia ouvir.

Eles olharam-se da cabeça aos pés até seus olhos cruzarem.

Marcos pensou em falar para a aeromoça que havia mudado de opinião e iria viajar no lugar que tinha comprado a passagem, mas lembrou que trocou de lugar com um senhor de idade e não queria ter que ir lá dizendo "vou viajar aqui e o senhor pode ficar lá na poltrona 23, que é a poltrona ao lado onde está sentada a minha ex que não vejo há um bom tempo".

Então ele respirou fundo, tirou o óculos de Sol, colocou sua mala onde guarda coisas de pequeno porte, sentou na poltrona 23 e ficou sem dizer uma palavra, por mais que sua cabeça estivesse gritando mil coisas.

Enquanto os demais passageiros se ajeitavam em suas poltronas, Marcos e Emilly estavam agoniados em seus locais. Ela pegou o livro que havia ganhado de uma fã e foi ler, enquanto ele balançava a perna e não parava de batucar os dedos nas costas do celular.

O avião subiu para o início da viagem. Haviam muito meses que eles não iriam a Porto Alegre e, agora que estavam indo, teriam que passar boas horas um ao lado do outro. Parecia coisa de destino. Algo que estava escrito. Maktub.

Emilly fechou seu livro, tirou o óculos, deixou na poltrona e levantou.

- Com licença. – disse ela quase inaudível. Havia um nó em sua garganta.

Ele não a ouviu falar, mas a viu ali em pé ao seu lado e, rapidamente, levantou e a deixou passar. Eles não trocaram palavras, ele baixou ao cabeça enquanto ela passava e Emilly fingia mexer em qualquer coisa no celular.

O caminho até o banheiro parecia longo, ela queria tirar aquele nó na garanta e, mal abriu a porta, já desatou a chorar.

- Ai meu deus, por que ele tá aqui? – ela chorava sentada no chão do pequeno banheiro do avião. – Eu fiz de tudo pra não ver nem ouvir nada sobre ele e ele me aparece aqui no avião, sentado ao lado da minha poltrona.

Já haviam cerca de 5 minutos que ela tinha ido ao banheiro e ele estava nervoso, esperando ela voltar. Pensou em ir até o banheiro para ver se ela estava se sentindo bem, se precisava de alguma ajuda, mas havia uma força maior segurando-o sentado naquela poltrona. Uma força chamada orgulho.

O livro dela estava em cima da poltrona com um separador de páginas e, ao ceder a curiosidade, ele abriu o abriu e leu a frase "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" escrita no canto do livro com a letra de alguém. Talvez fosse dela.

Marcos pegou o livro e começou a passar as páginas, sem desmarcar onde ela havia parado de ler. Ele reparara que ela usava marca-texto para destacar o que achava importante e riu quando viu que ela havia grifado a parte onde os personagens do livro haviam feito dança do filme "Darty Dancing". Ah essa dança...

Ele voltou ao passado em suas lembranças, quando também fizeram a dança do filme. As imagens vinham à tona em sua mente lembrando dos melhores momentos que viveu ao lado dela naquele programa, mas foi interrompido por um som de pigarro do seu lado e se assustou, levando rapidamente da poltrona com o livro na mão. Ela passou por ele e voltou a sentar em seu lugar.

- Não desmarquei a página que você estava lendo. – ele disse devolvendo-lhe o livro.

Ela não disse nada, apenas concordou com a cabeça.

- Você demorou no banheiro, pensei em ir lá pra saber se você estava bem.

- Mas não foi! – disse Emilly em um tom frio.

Ele abriu a boca para responder até que notou os olhos dela vermelhos. Provavelmente ela havia demorado no banheiro porque estava chorando.

- Você está bem? - ele perguntou preocupado.

- Sim, Marcos. Eu estou bem. Estou muito bem, para falar a verdade. Estou tão bem que não entendo a sua preocupação toda em saber como estou. - Emilly respondeu alterada, com a voz trêmula e um pouco alto.

Ele ficou calado, apenas olhando-a nos olhos. Era a primeira vez que trocavam palavras depois de tanto tempo.

Marcos havia sentido tanta falta daqueles olhos, daquela boca, daquela voz, dos dedos dela entrelaçados em seus dedos e fazendo carinho em seus cabelos, do cheiro natural da sua pele. E ali estava ela na sua frente, mas da pior forma possível. Ela estava visivelmente triste. E ele sabia, bem no fundo, que ele tinha culpa nisso. Talvez não fosse totalmente culpado, mas tinha uma parcela grande nisso.

- Eu sinto muito. - disse ele muito baixo, com um nó na garganta. - De verdade!

E mantiveram-se em silêncio até chegar a Porto Alegre.

Precisamos contar sobre MallyOnde histórias criam vida. Descubra agora