Metro

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Entro na estação e fico observando esse mar de gente indo e vindo, percebo como somos robôs andando em direção ao seu destino sem fim, sigo o meu destino também, afinal também sou um robô.
Antes de passar pela catraca tenho que encarar uma fila enorme, com pessoas buscando o mesmo objetivo, passar pela catraca, elas se esbarram as vezes se encaram e até mesmo olham umas para as outras com um ar de desejo, mas nunca as vi conversando. Conversar com estranhos é proibido já dizia minha mãe.
Quando chega a minha vez de passar pela catraca vejo a segurança do metro me observando, tive vontade de conversar com ela, mas é proibido.
Na plataforma aguardo o vagão parar na minha frente, e como em um passei de mágica as portas abrirem. Enquanto ele não chega fico olhando para a decoração minimalista do ambiente, não podemos olhar para as pessoas, olhar é proibido. Em uma dessas minhas observações percebi que tinha alguma coisa diferente nos trilhos, parecia que eles queriam que eu me jogasse lá, eu queria me jogar lá, fiquei me imaginando  descendo... deitando, quando “cabuuuu” o trem passava por cima, pessoas gritavam de horror, canais de TVs filmavam meus pedaços esparramando nos trilhos, nossa muito triste preciso parar de pensar nessas coisas (mais é quase inevitável, já que sempre parece que os trilhos me chamam).
Quando os vagões chegam na estação eu entro e me sento como todos os dias, não me preocupo com as outras pessoas que também entraram, elas também foram programadas para buscar seu conforto seja como for, as portas se fecham, a moça que nunca sei quem é fala a próxima estação, o vendedor “ilegal” se prepara para anunciar seu produto, e tudo segue como os conformes. Três estações se passaram e não vi ninguém falando com ninguém, tudo esta como deve ser, afinal conversar com estranhos é proibido, começo a prestar atenção nos trilhos pela janela, tudo passa tão rápido que depois de um certo tempo tudo parece igual, isso começa a me deixar enjoado então vou olhar outra coisa, chegamos em outra estação, começo a brincar de advinham o que determinada pessoa está fazendo ali, vejo uma moça vestida de social mas parece muito incomodada com as roupas, deve estar indo trabalhar, olho para um rapaz que está vestido com roupas largar e se sente como se fosse intocável, esse me chamou a atenção, ele andava pra lá e pra cá (devia estar atrasado) pegava o celular tirava uma foto com cara de bravo e depois digitava (o que será que ele devia estar fazendo????), fiquei sem saber, o trem foi embora antes mesmo de saber se ele ia tirar outra foto, ou até mesmo se jogar nos trilhos (já que ele chama tanto a gente).
Várias estações já havia se passado, várias pessoas entravam e saíam, e eu ainda estava lá pensado, observando, todos os dias eu faço esse caminho, duas vezes ao dia, e sempre penso a mesma coisa, sempre me questiono se  a forma como tudo funciona é realmente certo, será que devíamos manter a regra de não falar com estranhos, será que um semelhante é mesmo um estranho, é sempre os mesmo pensamentos, mais tudo isso em segredo, afinal questionar também é proibido.
Finalmente minha estação está chegando, me levanto e preparo tudo o que tenho que fazer para sair da estação, tudo para não passar vergonha, afinal passar vergonha também é proibido. Quando  as portas se abrem várias pessoas também me acompanham até a saída, sinto vontade de agradecer pela companhia, mais é mais uma das coisas proibidas, pensando bem acho que tudo é proibido, absolutamente tudo!
Faço uma pausa em todo os meus pensamento quando estou na entrada da estação, ascendo um cigarro e sigo meu caminho como todos os outros, afinal se matar não é proibido.


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