Resumo notícia da Revista Galileu. A notícia completa está neste link: http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2017/03
Simulação de computador: sim, você pode estar vivendo na matrix. Para filósofos e cientistas como Neil deGrasse Tyson, a possibilidade da Hipótese da Simulação ser real pode chegar a 50%.
A questão é que, para alguns filósofos e cientistas influentes, nós podemos, de fato, estar vivendo em uma simulação de computador. Uma simulação diferente daquela proposta pelas irmãs Wachowski, em Matrix, mas ainda assim uma simulação.
Um dos argumentos mais populares é de autoria do filósofo Nick Bostrom, da Universidade de Oxford. Segundo a Hipótese da Simulação, a humanidade teria se elevado a um nível tão avançado de tecnologia que poderia ter criado diversos universos simulados - assim como jogos de videogame, no qual os jogadores seriam inteligências artificiais com consciência de sua suposta existência.
"Eles [os criadores] poderiam ter a habilidade de comandar muitas simulações, ao ponto de que todas as mentes dentro destas simulações sejam artificiais", escreveu Clara Moskowitz, referindo-se à hipótese de Bostrom.
Apesar de parecer, o filósofo não está copiando o roteiro da série Westworld. O no qual ele sugeriu a ideia é de 2003, e encontra eco nos trabalhos tanto de filósofos contemporâneos como David Chalmers, da Universidade de Nova York, quanto de filósofos clássicos como - com sua - e modernos como Descartes.
Para Descartes, nós não podemos confiar cegamente em nossas percepções. Por isso, segundo o filósofo francês, a maneira como percebemos o mundo seria tão traiçoeira quanto um malandro. Não à toa ele criou o conceito do "gênio maligno". E em suas Meditações, do século 17, escreveu:
"Suporei, pois, que há não um verdadeiro Deus, que é a soberana fonte da verdade, mas certo gênio maligno, não menos ardiloso e enganador do que poderoso, que empregou toda a sua indústria em enganar-me. Pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e todas as coisas exteriores que vemos são apenas ilusões e enganos de que ele se serve para surpreender minha credulidade."
Logo, segundo Chalmers, A Hipótese da Simulação seria uma versão reinventada do conceito do gênio malígno, que, além do questionamento de percepção do mundo, usa também a tecnologia como pano de fundo.Como afirmou Max Tegmark, cosmólogo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), quanto mais aprendemos sobre o nosso Universo, mais ele parece ser baseado nas leis da matemática. "Se fossemos personagens de videogame, também descobriríamos que as leis são completamente rígidas e matemáticas. Elas apenas refletiriam os códigos de computadores em que foram escritas", disse Tegmark.
Para o apresentador de Cosmos , a possibilidade do conceito fazer sentido é de 50%. Ele lembrou do caso dos chimpanzés, que, apesar de possuírem 98% do nosso DNA, têm uma inteligência completamente diferente. Uma realidade simulada poderia explicar isso - e muitas outras coisas que ainda não podemos explicar.
Para a física teórica Zohreh Davoudi, do MIT, os raios cósmicos são uma evidência a que devemos pretar atenção. Elas seriam como assinauras deste tipo de simulação, uma espécie de limite do que poderia ser medido pela nossa compreensão. Sim, um limite estabelecido pelo "programador".
"Estes raios cósmicos são as partículas mais energéticas que podemos observar. Eles sequer podem ser fabricadas em laboratório", afirmou Davoudi, na conferência. "Essa é a nossa forma de saber se o este espaço-tempo implícito [em que vivemos] é discreto [no sentido de descontínuo] ou contínuo".
O filósofo David Chalmers concorda. "Quando usamos estes dispositivos de realidade virtual, como os óculos Rift, acontece algo que chamamos de 'screen door effect'. É como se, caso você aproximasse muito uma coisa no jogo, você conseguisse ver os pixels. Ou seja, você percebe que não é uma simulação perfeita. Acho que o que Zohreh está querendo dizer é que não conseguimos evidência empírica do 'screen door effect' na física da vida real."
Para a especialista é quase isso. "Na verdade, não é sobre não ter informação [data] o suficiente, é mais profundo do que isso. É sobre algo que [o físico Richard] Feynman já se ocupava. Por que você precisa de um número infinito de informação para descrever uma parte minúscula do espaço-tempo? Isso não faz sentido."
Para Chalmers, o fato de vivermos em um jogo de videogame não significaria que a realidade não exista. "Ela existe, mas seria feita de informação", afirmou. Uma espécie diferente de realidade, portanto.
O problema é que, caso a hipótese se confirmasse e todos descobríssemos que somos feitos de bits, teríamos dilemas morais muito mais complexos para resolver. Por exemplo, a entidade que criou a nossa realidade poderia ser um deus?
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A Realidade de Eclesiastes
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