Capítulo Único

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25 de outubro de 2003, sábado

Josh Dun estava mal, como sempre. Na verdade, estava assim desde o ocorrido. Não conseguia esquecer da carta escarlate. Em sua confusão mental, dois sentimentos se sobressaiam aos outros — culpa e arrependimento.

As palavras do seu amigo martelavam em sua cabeça, dia e noite, noite e dia. Era difícil ir para a escola que um dia ele frequentara, mas tinha que ir: passara um mês faltando por causa do evento inesperado, não poderia se dar ao luxo de faltar mais. Era difícil passar pelas ruas em que os dois brincaram quando crianças, o amigo correndo atrás do Capitão Dun com um martelo. Ele era invencível com aquele martelo. Era ainda mais difícil passar pelo parque da cidade, onde um dia os dois fizeram um juramento aos 10 anos, o dia em que juraram que nunca iriam sair um do lado do outro, não importasse o que acontecesse. Ah, como Josh gostaria voltar aos bons e velhos tempos. Contudo, a parte mais difícil do trajeto para escola era passar por sua casa. Era impossível esquecer tudo, toda a história de uma amizade que não voltaria mais. Nunca mais.

O garoto Dun se pega em lágrimas, pela terceira vez naquela noite. Lembrava-se de quando o amigo escrevia seus poemas que eram, mais tarde, transformados em músicas. Os versos eram sempre tão pesados e escuros mas as melodias sempre tão animadas ou elétricas. Ele adorava isso, dizia que queria passar essa ideia de contradição mesmo. O amigo achava incrível e sempre fazia o máximo para acompanhá-lo direito na bateria, mas geralmente errava uma ou duas vezes nos ensaios. Por quê? Sabe, a sua vozera realmente muito bela. Mas Josh nunca pensaria que todos aqueles poemas eram, na verdade, um pedido de socorro, de ajuda. Se lamentava por não ter percebido antes.

"Nothing kills a man faster than his own head"

Ah, agora ele sabia disso. E como sabia. Josh passava seus dias inteiros em sua casa, saindo apenas para ir à escola. Doía pensar no seu companheiro e em sua antiga rotina. Lembrava-se dele com mais forças nos domingos. Aqueles malditos domingos. Eram neles que o adolescente passava horas a fio pensando em sua antiga vida, apenas pensando demais. Acontece que em tempos passados, os domingos eram quando os dois amigos criavam suas músicas, compondo-as juntos; agora, eles eram apenas os seus dias de suicídio. Por ironia do destino (ou talvez de propósito), aquilo havia acontecido num domingo também.

O menino olha para o relógio ao lado de sua cama. Marcava 4:00. Mais uma noite sem dormir. Fazia muito tempo que Josh não dormia. Veja bem, se dormisse tinha pesadelos, preferia ficar acordado, a escuridão não iria levá-lo naquelas noites. De repente, ouviu um barulho vindo da porta. "Deve ser a Tysh", pensou consigo mesmo. Tysh era sua gatinha, ela havia sido o último presente de aniversário dele para Josh. Ele mesmo havia escolhido o nome. Pensar em Tysh fez o menino lembrar dos acontecimentos anteriores àquele dia.

~ 25 de agosto de 2003, segunda-feira

Josh olhava para ela, feliz. Deborah Ryan, a garota pela qual era apaixonado há tempos, havia aceitado o seu pedido de namoro.

– Eu te amo, Josh. – declarou a menina, antes de dar um delicado selinho em seu namorado – Você é a pessoa que eu estava precisando e não sabia.

– Eu te amo mais, sabia? – respondeu com um sorriso envergonhado, o que a fez rir. Josh adorava vê-la sorrir. Gostava de Debby desde os seus 10 anos e finalmente agora, com 16, conseguiu a proeza de tê-la como namorada. Tudo estava perfeito, se não fosse o que aconteceria em seguida.

Josh, distraído com a garota, não percebeu nada na hora. Seu melhor amigo estava apanhando de uns brutamontes de sua sala. O motivo? Bom, ele não era "normal". Enquanto Josh e Debby estavam tendo um dia perfeito, os imbecis aproveitaram esse momento em que ele não estava com a "aberração" para agredí-lo. O garoto gritava por ajuda, chamava por Josh, mas o mesmo estava ocupado demais para isso. Era espancado fortemente, e até com um galho de árvore estava sendo agredido. Sem falar nas agressões verbais: "esquisito", "louco", "bichinha", "viadinho de merda", "cadê seu namoradinho agora, hein?". Essa última tinha pego ele de jeito. Onde estava ele? Cadê o seu amigo que havia jurado não sair de seu lado?

taken by sleep // a joshler oneshotOnde histórias criam vida. Descubra agora