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As vezes eu me imagino caindo em algum poço escuro por horas e horas sem nunca chegar ao fim e durante essas quedas meus pensamentos giram em torno de quantas maneiras diferente eu poderia morrer.

Deprimente? Sim.

Quero morrer? Não.

Meus pensamentos me assustam muito, gostaria de sair da minha mente um pouco. Gostaria de não estar ansiosa o tempo todo, de não estar com medo o tempo todo, de ter coragem de falar com as pessoas sem ter que reunir um absurdo de ar em meus pulmões antes, para que dessa forma eu consiga respirar durante as palavras. Gostaria de, mesmo que por apenas um segundo, eu fosse corajosa o suficiente para querer viver.

Viver requer um gasto de energia absurdo e não é todos os dias que tenho essa energia sobrando. Hoje, por exemplo, estou tendo uma crise e por mais que eu queira muito me levantar e fazer algo a respeito meu cérebro continua inventando milhões de desculpas para que eu possa estar aqui deitada, sem culpa. O engraçado é que me sinto culpada da mesma forma e, a parte mais legal é que, mesmo que eu encontre uma boa resposta para as milhares de desculpas que estou inventando, consigo visualizar tudo que pode dar errado se eu finalmente me levantar e de quantas forma diferentes eu posso ficar em um estado pior do que eu estou agora.

-Annieeeee- ouço meu nome em um grito ensurdecedor vindo da sala de estar.

Não me dou o trabalho de responder ou de dar qualquer indício que estou em casa e viva, em algum momento ela vai me achar.

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Bum.

A porta do meu quarto abre e uma figura alta e loira, vestindo uma calça jeans apertada, uma blusa vermelha, igualmente apertada, mostrando a barriga e uma jaqueta de couro preta por cima, aparece em minha frente, bastante irritada.

-Quem te deu permissão para ficar aí deitada hoje? - Ela fala cruzando os braços.

-O livre arbítrio, creio- respondo.

-Pois ele que se foda, eu estou revogando essa permissão.

-Cady, não por favor. – Imploro, mesmo sabendo que seja inútil, Candice não recebe um não como resposta nunca.

Apresento a vocês, Candice Willians, minha melhor amiga, até o momento, e colega de apartamento. A caçula entre dois irmãos, filha de pais adotivos e criada em uma família absurdamente feliz, e por esse motivo, creio eu, Candy- como gosto de chamar- é o ser humano mais brilhante e feliz que eu conheço.

-Levante-se agora mocinha, nós vamos sair para jantar.

- Me recuso- pigarreio.

-Não foi um pedido- Disse seria, enquanto caminhava em direção ao meu closet.

-Por favor Candy, quero ficar em casa hoje, não estou no meu melhor dia.

-Pra que? Pra ter uma nova visão da sua própria morte? Não mesmo.

Gosto da normalidade como ela trata minhas ilusões. As poucas pessoas pra qual contei sobre me trataram como se eu fosse louca ou suicida. Mas quem sou eu para julgar essas pessoa ? Pela minha experiencia em conviver em sociedade, não é muito bem visto que você se veja morrendo todos os dias da sua vida. Não é que eu fique imaginando a minha morte o tempo todo, longe de mim, é que toda vez que fecho os olhos por um longo período as imagens aparecem na minha cabeça.

Esfaqueada.

Acidente de carro

Queimada

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