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Ian

É  difícil explicar essas coisas para as pessoas, é difícil por em palavras um sentimento tão forte. A maioria das vezes não costumam entender, ninguém nunca amou assim, eu não costumava amar assim. Não sei como e nem porque tive coragem de largar todo meu clã pela Julia a séculos atrás, porque eu realmente não a amava como a amo hoje. Julia passou a ser pra mim algo que nunca serei capaz de explicar.

Por um grande período de tempo me odiei por amar tanto alguém, por ficar tão vulnerável, por sofrer tanto. Teve dias em que tudo que eu mais queria era desistir de tudo, entregar a Julia ao clã, deixa eles fazerem o maldito feitiço e sumir, mas nunca fiz, a amo demais pra desistir dela assim, pra desistir de nós.

É isso que estou tentando explicar para o John faz horas, mas ele não está fazendo o mínimo esforço para entender, já passamos da parte em que ele surta quando descobre o que posso fazer apenas usando as mãos, já expliquei todos os meus séculos de vida, tudo que aconteceu, e ainda assim ele continua repetindo a mesma pergunta.

“Por que não simplesmente desiste dela e vai viver?”

“Por que eu a amo, inferno” Repondo já meio sem paciência, em tom alterado.

“Se ela tivesse a oportunidade que você tem, já teria te entregado faz tempo”

As palavras dele me atingem como um tiro, porque uma pequena parte de mim, acredita que ela realmente faria isso.

“Não, não faria”

“Como pode ter tanta certeza? Já deu essa opção a ela?” ele para, esperando uma resposta, não dou uma, ele sabe que sou o único com essa opção. Quando finalmente percebe que não vou responder, volta a falar “Pelo que eu ouvir ela falar na sala e pelo que você contou, a garota já está afim de desistir faz tempo, se você contar pra ela sobre isso ela mesmo vai se entrega a sacrifício”

“Ok, já deu pra mim John” Falo finalmente.

Ando em direção a bancada da cozinha pois é onde estão as chaves do carro. Preciso sair daqui, preciso sair dessa bolha de ódio em que o John me colocou.

“Pensa em tudo que te falei, amanhã a gente se fala, vou esfriar a cabeça”

Chego o mais rápido que posso na porta de saída, passo e a fecho antes dele consegui falar alguma coisa.

Relembrar cada parte da minha vida, falar cada parte dela em voz alta, admitir todos os meus sentimentos pra mim mesmo e pra ele, foi bem complicado, isso porque noventa por cento de tudo que aconteceu comigo e do que faço é por causa dela, por causa da Julia, e é ela quem está invadido meus pensamentos agora, é dela que preciso nesse momento.

São 3:34 da manhã, mas olhar a hora não impede meu impulso involuntário de fazer uma ligação. O telefone chama mais de três vezes até ela finalmente atender.

-Alô – sua voz está baixa, o cansaço é quase que transparente.

-Me desculpe, sei que pediu parar esperar até amanhã mas eu realmente não consigo, preciso te ver, só nós dois.

O telefone fica mudo por alguns segundos, até respiração dela finalmente voltar. Ela não fala nada por um período de quase um minuto, foram os segundos mais torturantes da minha vida, pois a pequena parte de mim que acha que ela não lutaria por tudo isso como luto por ela, gritou alto em minha cabeça.

-Mais alguns minutos e eu é quem te ligaria.

Uma onda de alívio me percorre por inteiro ao ouvir isso. Está vendo parte maligna do meu ser que tenta me fazer desistir de tudo. ELA SE IMPORTA.

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