💞No batuque do coração [Conto][Completo]

[OFF] Um manifesto ao samba

Olá, pessoal!

Tudo bem com vocês? Espero que sim, mas comigo não está! Eu não consigo fazer mais nada desde que soube que o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, disse que serão cortados 50% da verba que é destinada às escolas de samba cariocas. Já vou logo avisando que isso parece ser o começo apenas.

Não sei se vocês estão por dentro do que está acontecendo, mas o "excelentíssimo" prefeito disse que o dinheiro retirado será transferido para ser aplicado em creches municipais. Por favor, isso é demagogia! Basta conhecer um pouco, mas um pouquinho de orçamento público para saber que ele é dividido de forma que um montante é destinado para educação, saúde, segurança, cultura.... Sim, cultura!

Respeito o direito das pessoas não gostarem de carnaval, escolas de samba, blocos de rua e de tudo relacionado ao festejo, mas é preciso reconhecer que o carnaval faz parte da cultura popular e o Estado deve garantir o direito à cultura. É isso mesmo, está na lei! Isso está descrito no artigo 215 da Constituição Federal, vejam:

Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.

§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.

§ 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.

§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à:

I - defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;

II - produção, promoção e difusão de bens culturais;

III - formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões;

IV - democratização do acesso aos bens de cultura;

V - valorização da diversidade étnica e regional.

Agora vamos ao aspecto financeiro, vocês já se perguntaram quantas pessoas estão envolvidas com a cadeia produtiva do carnaval? Vamos lá! Temos os profissionais que trabalham no barracão (costureiras, ferreiros, marceneiros, eletricistas, desenhistas, carnavalescos, cozinheiros, porteiros, seguranças, etc), as pessoas que trabalham em ateliês de fabricação de fantasias, de lojas de venda de materiais carnavalescos, de ambulantes que comercializam bebidas e alimentos ao longo dos ensaios de comunidade e nos ensaios técnicos, pessoas que trabalham na rede hoteleira (hotéis, agência de turismo, restaurantes, lojas, etc)... Acho que deu para entender, não?

Eu mesma! Minha família sempre teve no carnaval uma fonte de renda. Se hoje eu e meu irmão temos estudo é por causa do carnaval. Devido ao dinheiro que meus pais ganharam com o trabalho deles, houve investimento na nossa educação. A cada ano, só ganhei material escolar novo por causa do que eles recebiam. Pensem em quantas famílias são assim.

Por fim, não menos importante, temos a questão do preconceito e intolerância religiosa. Sim, o preconceito. O carnaval é uma festa de valorização da cultura popular e negra. Hoje o carnaval é para o turista. Talvez esteja na hora de voltarmos à essência dessa festa. Beber da fonte para achar a força que o samba tem. Para ser sincera, acho que é o aspecto mais grave a questão da intolerância religiosa. Não é segredo para ninguém que o atual prefeito é bispo da Igreja Universal. A questão está que o carnaval é uma festa que muitas vezes privilegia o culto de religiões de matriz africana. E isso incomoda muito o nosso prefeito. Aí está o problema. O carnaval de 2017 já mostrou que esse senhor não consegue dissociar a sua imagem pública da pessoal. Para quem não sabe, ele não entregou a chave da cidade ao Rei Momo (esse encontro é o pontapé para o início das comemorações) e não apareceu nenhum dia na Marquês de Sapucaí. Não estou pedindo para que ele coloque o chapéu panamá e sambe ao lado da bateria, mas é preciso reconhecer que a figura pública deveria estar presente num evento de grande importância para a cidade.

Era isso que eu queria falar. Só digo que o samba não vai morrer por causa desse senhor, pois o samba é muito maior do que isso. Já foi perseguido (ops, acho que está acontecendo de novo) e sobreviveu. Cada sambista que nasce ao som do batuque traz força para o ritmo. Vamos passar por isso e que essa situação nos faça refletir que é preciso repensar como o carnaval ficou desse jeito. Tão desprestigiado. A essência do samba mudou, mas temos nessa crise a oportunidade de mudar os rumos do carnaval.

A jornalista Vivianne Medeiros, minha protagonista do romance policial, disse que vai dar na cara do prefeito. O detetive Alan Sampaio, o outro protagonista, que a está segurando para ela não perder as estribeiras... hahahahaha

Mas como tudo acaba em samba, que tal um samba para pensar?

São Clemente1990 - E o samba sambou...

Vejam só
O jeito que o samba ficou (e sambou)
Nosso povão ficou fora da jogada
Nem lugar na arquibancada
Ele tem mais pra ficar
Abram espaço nesta pista
E por favor não insistam
Em saber quem vem aí
O mestre-sala foi parar em outra escola
Carregado por cartolas
Do poder de quem dá mais
E o puxador vendeu seu passe novamente
Quem diria, minha gente
Vejam o que o dinheiro faz

É fantástico
Virou Hollywood isso aqui (isso aqui)
Luzes, câmeras e som (bis)
Mil artistas na Sapucaí

Mas o show tem que continuar
E muita gente ainda pode faturar
"Rambo-sitores", mente artificial
Hoje o samba é dirigido com sabor comercial
Carnavalescos e destaques vaidosos
Dirigentes poderosos criam tanta confusão

E o samba vai perdendo a tradição (bis)

Que saudade
Da Praça Onze e dos grandes carnavais

Antigo reduto de bambas (bis)
Onde todos curtiram o verdadeiro samba

Todos que quiserem comentar sobre o assunto, fiquem à vontade! O debate é livre. Adoro falar de carnaval, se vocês ainda não perceberam...rs