Capítulo 3

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Enquanto voltava a mim, sentia algo duro e áspero em minha pele - chegava a doer. Eu estava tremendo, congelando. Meu vestido, molhado, estava colado em meu corpo. Era possível escutar gotas caindo. Abri meus olhos lentamente, enxergando a caverna em que eu me encontrava.

Pouco distante de mim, havia uma espécie de lago, cuja luz (estranhamente intensa) fazia reflexo nas pedras em volta, deixando tudo azulado. Seria a cena mais bonita de minha vida se eu não estivesse com tanto medo. Não conseguiria raciocinar normalmente enquanto sentisse tanto frio.

Levantei-me e passei a mão sobre meu rosto, amassado por conta da rocha em que eu estava deitada. Vi pequenas marcas em todo o meu braço pelo mesmo motivo; tudo doía. Há quanto tempo eu estava aqui?

Curvei-me sobre a água, molhando as pontas dos meus dedos para verificar a temperatura. E para minha surpresa, estava morna. Sem pensar, me joguei naquela maravilhosa água, a deixando esquentar todo o meu corpo. Me dei conta que era a realização de um sonho para mim, afinal, quem nunca quis ter uma caverna só para si? Eu tinha. E a minha era linda, com água quentinha e brilhante. Era a coisa mais improvável do mundo para mim, mas eu tinha que aproveitar enquanto ainda a tinha, então... comecei a nadar igual a uma criança feliz.

Mas... era tudo o que eu podia fazer lá, sabe? Nadar. Depois de um tempo, meu corpo cansou. Me encolhi contra uma parte redonda daquela "piscina" de rochas e tentei descansar aproveitando a minha água. Comecei a imaginar todas as possibilidades de como eu tinha parado ali. Porém nenhum pensamento foi muito além, já que eu estava confortável e aquecida e observando os pequenos peixinhos que nadavam em volta de mim... Calma, peixes? Então essa caverna não é fechada? Fui entrando em pânico quando vi que provavelmente morreria ali quando algum bicho maior chegasse e me atacasse.

Num momento de desespero, tomei uma decisão que poderia ter me matado: mergulhei até o fundo do meu "laguinho" procurando alguma saída que, de fato, existia. Tinha uma abertura no meio das pedras, eu conseguiria passar por ela. Então... por que não, né? Passei e então percebi o quão horrível foi aquela decisão.

Lá estava eu, perdida no meio do mar. A água não era quentinha, estava congelando. Nadei para cima mas o mar parecia não ter fim. Eu já estava cansada de ter nadado tanto dentro da caverna, por que não descansei um pouco mais, Deus? Não conseguia me mexer direito e minha visão embaçava cada vez mais, até eu não saber mais o que estava fazendo. Meu fôlego não ia resistir tanto tempo. É esse o meu fim? Eu ia morrer no meio do oceano e ninguém nunca iria me achar? Mas eu não poderia fazer nada a respeito, portanto aceitei que sim. Esse era o meu fim. Pelo menos eu iria morrer no meio de algo que sempre amei. Oh, como a vida é irônica.

Fechei os olhos e comecei a pensar em coisas boas que fiz ao longo da vida; não queria morrer em desespero, vai que fico assim por toda a eternidade, né?

A primeira imagem que me veio em mente foi Camila, minha melhor amiga que tive que deixar para trás nessa mudança. Sentia tanta falta dela...

Enquanto meus pensamentos giravam em torno de Camila, senti um empurrão na minha costela. Alguma coisa começou a me empurrar para o fundo do mar de novo numa velocidade absurda. Pronto, agora vou morrer devorada por um bicho mesmo.

E então a água fica quente de novo. E eu? Desisti de tentar entender o que aconteceria dali pra frente. Senti algo me empurrando contra as pedras e água saindo de minha boca. Só então eu percebi que não estava mais mergulhada.
Dei um pulo pro lado no susto, e aí vi ela de novo, aquela sereia que parecia ser a criatura mais linda da natureza. Ela me olhava com preocupação, parecia estar prestando atenção em minha respiração. Mas ao perceber que além de respirar, eu estava a encarando com admiração, sem nem piscar os olhos, sua expressão preocupada se transformou em raiva.

  —Você não para quieta não? - ela franziu o cenho.

—Ahn... me desculpe?

—Poxa, eu te deixo aqui por meia horinha pra ir pegar comida e você já vai logo se matando?!

—Eu...

—Não vem com desculpa não! - seu tom de voz aumentava, como se ela ficasse cada vez mais brava - E que negócio é aquele de sair tirando foto minha? Tá doida? Te dei permissão, por acaso?

Corei. Não sabia o que responder. Não sabia nem o que pensar. Poxa, era uma sereia ali na minha frente, brava comigo. Quem saberia o que fazer numa situação dessas? Olhei para baixo, procurando alguma coisa naquele nó entre meus pensamentos.

A escutei respirando fundo. Ela formou uma concha com as mãos, levando a água até seu rosto. Voltou a me encarar, dessa vez um pouco mais tranquila, e disse:

  —Me chamo Verena. E você?

—Valentina - minha voz saiu mais baixa do que eu esperava.

—Me desculpe se eu... te assustei ou algo do tipo. Eu achava que eles estavam errados sobre vocês e queria provar isso de alguma maneira... Mas pelo jeito, eu é quem estava errada esse tempo todo. - expressava a sua decepção.

—Errados sobre nós? Como assim? Nós quem?

—Vocês. Esses aí com pernas e tal. O nome é pés, né? - ela dizia, apontando para meus joelhos - Venho estudando essa anatomia feito louca, mas ainda estou ruim com os nomes.

  —São joelhos - eu expliquei, entre risos - Mas você... Estuda a anatomia humana? Mas você tem livros?

  —Uau. Temos mais perguntas a fazer uma para outra do que eu imaginava. Quer que eu te ensine a partir de onde?

—Desde o básico, por favor.

—Sendo assim...

Antes de ela mesma terminar a frase, me puxou para dentro da água de novo, me levando para um nível ainda mais profundo dentro do mar. Até que eu sentisse a temperatura mudando de novo e... É, mais uma caverna.


***
E aí, meus lindos? Cês tão bem?
Primeiramente eu gostaria de me desculpar por ter ficado tanto tempo sem postar capítulo novo, eu fiquei meio enrolada com as provas e tudo mais, mas agora eu voltei oficialmente!! Haha
Esse capítulo é dedicado à PandacorniaBell que veio pedir continuação pra mim hahaha
O que acham que vai acontecer agora? Não esqueçam de deixar sua opinião e votar se gostaram. Beijão!

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