Uma Ponte para uma Nova Vida (p.3)

883 233 767
                                    

− Tudo bem – respondeu também em voz baixa, mesmo não sabendo por que estavam falando assim.

Andaram por muito tempo com passos largos e apressados, porém silenciosos. Foi difícil saber quanto tempo ficaram andando assim, só o que Abigail queria no momento era descansar. Elas entraram no mesmo túnel do dia anterior. Seus pés estavam doloridos e seus joelhos e sua coluna pareciam estar lutando para que ela não andasse mais. Abigail não entendeu por que não tinham voado como fizeram no dia anterior e perguntou, mas não obteve resposta.

− Estamos no mesmo lugar onde nos encontramos ontem?

− Sim, a dois caminhos para se chegar aqui, mas não vou falar agora, ainda não estamos em segurança – e no momento em que dizia isso ela ia entrando no lago cristalino, enquanto que os peixes davam passagem. Esses animais pareciam saber quem era a mulher que estava atravessando o lago e olhavam fixamente para ela. Abigail pôde observar esse pequeno detalhe e ficou um pouco espantada, já que isso não era um comportamento comum nos peixes. Mas o que sabia ela sobre peixes? Nunca havia visto um na vida ao vivo.

− Vamos ter de nadar? – perguntou Abigail – Porque eu não sei...

− Não é preciso, o lago é raso – interrompeu Iaci educadamente, parece que já sabia que Abigail não sabia nadar – e faça silêncio.

Abigail não havia reparado no dia anterior, mas o local em que ela tinha ido parar era uma pequena clareira. Havia uma grande parede de pedra atrás dela, onde se localizava a entrada do túnel. Dividindo a clareira em duas, estava um pequeno lago cristalino. Do outro lado, era possível avistar uma pequena casa e umas poucas árvores circundando-a. A terra em ambos os lados parecia ser extremamente fértil, porém predominava apenas um capim baixo, muito verde e vivo.

Depois de atravessar o lago, seguiram em direção à casinha feita de folhas e gravetos. Essa casa não tinha portas e muito menos chão, tinha um grande buraco que aparentemente não tinha fundo. As paredes internas eram lisas e cheias de musgos. A mulher sinalizou com a cabeça para segui-la e logo depois pulou no buraco como se fosse mergulhar de cabeça. Apesar de estar um pouco apreensiva, Abigail pulou também. Ficaram caindo assim durante pelo menos cinco minutos. Dolorosos cinco minutos para os ouvidos de Iaci por sinal, pois Abigail não parava de gritar. A claridade, então, começou a aumentar e sem aviso algum elas começaram a desacelerar na queda e terminaram por planar em cima de nuvens. Como isso era possível, era uma das milhões de perguntas que fervilhavam na cabeça de Abigail.

− Onde estamos? – perguntou assustada. Tudo aquilo parecia irreal. Nem em sonhos pensaria em algo tão absurdo e o mais impressionante era que Iaci não achava nada estranho, pelo contrário, estava achando tudo muito engraçado, exceto pela pequena dor de cabeça que começava a aparecer, por causa dos berros de Abigail.

− Estamos em Isla, terra dos sacis! ­­– respondeu com um sorriso nos lábios.

− Isla? O que? Sacis? Pensei que saci era um menino negro que usava um macacão e um gorro vermelho, tinha uma perna só e vivia com um cachimbo na boca! Mas o que estou vendo são pessoas voando... VOANDO? – ela tinha dado um berro e saltou para o chão, pois um homem passou velozmente e quase se chocou com ela.

− Ai minha cabeça! Pelo amor de Deus, não grita mais...Vamos entrar no castelo e beber alguma coisa, lá eu vou te explicar tudo. E quanto às pessoas voando, não se preocupe, não farão mal nenhum, é só prestar um pouco de atenção para não se esbarrarem.

Foram caminhando em direção ao que parecia ser uma muralha com 50 metros de altura e 10 de largura. Em volta dela havia muitas pessoas voando e dando risadas. Abigail se perguntou qual seria a serventia da muralha, já que as pessoas voavam e passavam facilmente para o outro lado. A muralha estava em cima de nuvens e, inclusive, era feita de nuvens. Ao se aproximarem da muralha, portões colossais começaram abrir, contudo não se ouviam nenhum barulho de pesadas correntes para que tais portões pudessem ser movidos. E observando melhor, Abigail notou que nada nem ninguém estavam abrindo tais portões.

O interior era muito bem iluminado, as paredes internas da muralha pareciam ser feitas de nuvens azuis cintilantes, mas ao tocar Abigail percebeu que apesar de seus olhos a enganarem, a parede era muito macia e ao mesmo tempo incrivelmente resistente. O local era fresco e amigável, mas também trazia uma sensação de que ela havia pisado numa terra de grandes tradições e histórias memoráveis. O chão era completamente liso, frio e esbranquiçado, suas estradas eram simetricamente posicionadas e tinham um tom acinzentado. Abigail pôde ver que a cidade era muito grande e supôs que sua ilha cabia ali dentro dez vezes e ainda assim sobraria espaço.

Havia casinhas feitas do mesmo material da muralha, mas com cores graciosas e diversas, com mesmos tamanhos e formatos. Ela ficou muito espantada com tamanha beleza e não encontrou palavras para expressar o que estava vendo, então continuou apenas a vislumbrar tudo.

Caminharam em direção a uma fonte pequena e de uma simplicidade graciosa. Era feita de um mármore branco e continha pequenos adornos de animais e volta. Em cima havia uma taça de cristal fina e elegante. Ela observou um homem baixinho e meio careca, do lado oposto que também se dirigia à fonte. Quando chegou, ele pegou uma taça, surgindo logo em outra seguida, porém esse fato nada perturbou o senhor. Como se nada de extraordinário tivesse acontecido, o homenzinho murmurou alguma coisa e a água cristalina da fonte mudou para um verde muito claro e fumegante, então o homem encheu sua taça com esse líquido, tomando o cuidado para não se queimar e saiu bebericando o chá em direção a um grupo de homens muito estranhos que conversavam animadamente.

Quando chegaram à fonte, Iaci imitou os passos do homem e murmurou muito baixo de forma que não foi possível Abigail ouvir o que ela disse. A fonte, porém, começou a jorrar um líquido semitransparente e meio esbranquiçado, diferente do líquido que jorrou para o senhor.

− Pegue uma taça também – sugeriu Iaci dando um sorriso

− O que é?

− Água de coco. Beba, acho que vai gostar, é bem suave. Provavelmente nunca bebeu, – acrescentou num tom de desculpas – porque na sua ilha não existe nenhum coqueiro por perto, a não ser no litoral.

− É realmente muito bom – comentou depois de ter experimentado com um pequeno gole. Abigail virou os olhos para a mulher a encarando – Pode me explicar o que está acontecendo? Onde estou? Na verdade...pode me explicar tudo? – Abi já não agüentava mais todo aquele mistério. Estava louca, esperando por esse momento. Sua cabeça já não aguentava mais de tantas perguntas que estavam fervilhando em sua mente.

− Nunca se perguntou por que sua ilha tem o nome de Saci? – perguntou como se tivesse numa conversa corriqueira num dia de domingo. Logo em seguida, foi sentar-se numa cadeira que surgiu como mágica atrás de si – sente-se também, vai ser uma história muito longa e não quero que se canse... – apontou para trás de Abigail.

− Mas eu não estou vendo nenhuma cadei...– e antes de terminar, surgiu uma cadeira de madeira bastante confortável atrás de si – como fez isso? – antes de sentar olhou para os lados para ver se não era alguém que tinha posto a cadeira ali, mas não havia ninguém por perto. Ela pôs as mãos na cadeira para ver se aquilo não era uma miragem e quando viu que o material era consistente, sentou-se.

🐇Adoraria ter uma fonte dessa aqui em casa, ia fazer jorrar litros de chocolate quente. Se gostaram do capítulo comenta lá, porque é sempre legal ter um feedback. Ah! E o joinha 🌟 travesso também. 😘

Abigail e o Reino Escondido de Isla - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora