Uma Ponte para uma Nova Vida (p.1)

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Abigail descendia diretamente do líder dos seus primeiros antepassados. Nessa noite chuvosa, ela não estava dormindo como os outros habitantes. Durante a tarde, algo de muito extraordinário havia lhe acontecido e não a deixava dormir. Em vez disso, ela ficava mexendo numa pequena casa entalhada na madeira em seu pequeno quarto. Ele tinha apenas uma cama no canto esquerdo, uma cômoda e um pequeno baú do lado oposto do aposento. A casa também acompanhava o mesmo estilo. Ao todo, havia três quartos e o maior era dos seus pais.

A garota tinha 16 anos e embora um pouco modesta com relação a sua aparência, era muito bonita, alta, com cabelos longos, cacheados e castanhos, olhos da mesma cor e um pouco acima do peso, pois, apesar de se exercitar, adorava comer. Usava uma espécie de macacão feito de coro de cobra, suas orelhas terminavam em pequenas pontas na parte de cima, mas, apesar de rara, não era uma característica tão incomum entre os habitantes de Saci. Seus pais não tinham essas orelhas. Porém sua avó, mãe de sua mãe havia nascido assim também. Uma senhora, por quem Abigail e sua mãe tinham pouco apreço, pois ela havia desaparecido dois anos depois de ter o bebê. A mãe, Rose, havia sido criada apenas pelo pai, que pouco comentava a respeito da companheira, mas guardava com carinho um desenho entalhado na madeira que havia feito muito parecido com ela.

Todos da ilha também usavam roupas leves de dia, porém toda noite tinham de se agasalhar, visto que fazia muito frio (o que era estranho, já que estavam numa ilha, pressupunha que a água do mar deveria aquecê-los à noite). Abigail também gostava muito de explorar a floresta, todos os dias que podia sair, ia direto para lá, às vezes para caçar algum pequeno animal ou só para passear. Ela tinha medo de penetrar muito naquele ambiente inóspito, mas também tinha tanta vontade de conhecer mais locais que a curiosidade terminava falando mais alto que o próprio bom senso.

Num dia qualquer, andou tanto pela mata que acabou se perdendo. Sua única alternativa era então subir até o topo de uma árvore e tentar avistar a sua casa. Tarefa que ela fazia com alguma facilidade.

− Droga, fui longe demais - resmungou assustada ao ver que mal conseguia enxergar direito a pequenina vila.

Ela sondou o ambiente antes de descer. Sempre fora treinada pelos seus pais a fazer isso. Como qualquer caçador experiente, deve sempre ficar atento para que não venha se tornar uma preza e era muito fácil uma caçadora virar a caça naquela floresta. Mas apesar de todo o cuidado ao descer, logo que pulou de um galho e aterrissou no solo, ela escutou um pequeno farfalhar de um arbusto próximo.

Se fosse outra pessoa desavisada, acharia que aquele som era insignificante, mas para Abigail, que se habituara aos perigos da floresta, esse som definitivamente não era um bom sinal. Ela perscrutou todos os cantos em busca do dono daquele ruído. Não poderia fazer movimentos bruscos antes de avistar a ameaça. Tinha que ser algo muito experiente na arte da caça para ludibriar seus sentidos. Finalmente, após alguns segundos de pânico ela conseguiu localizar a fonte do ruído. O que viu a fez gelar seu sangue. Dois olhos amarelos difundidos em uma moita a espreitavam. Sua visão logo foi acompanhada de um rosnado baixo e desafiante.

Abigail deu um passo para traz e o algo a seguiu, ela não precisou pensar duas vezes, nem olhou para o que era e pôs-se a correr muito assustada. Uma onça gigantesca estava atrás da moita e pela sua cara, não comia há dias. Era um belo espécime, amarelo com pintas pretas e dentes grandes e afiados. Seu corpo era longo, musculoso e bastante flexível para uma corrida em busca da sua presa. Num súbito desespero, a garota tropeçou e caiu com tudo no chão, apesar de sentir uma dor lancinante no peito, percebeu que isso foi um golpe e tanto de sorte, pois nesse momento a onça tinha saltado contra ela, porém passou direto por cima do corpo estendido no chão e aterrissou num arbusto. Ao tentar levantar e fazer um novo bote, o animal foi pego de surpresa com seu rabo preso no meio dos espinhos.

Abigail e o Reino Escondido de Isla - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora