O sol opaco do verão europeu entrava de maneira tímida pelas frestas das cortinas que cobriam as grandes janelas do palácio.
Joguei meu edredom de linho fino para o lado, me levantando e fazendo sinal para que alguns criados me preparassem um banho quente. Logo descobri que já estava pronto.
Era um luxo ter pessoas dispostas a te servir a todo momento, sem nem mesmo precisar estalar os dedos, ou num piscar de olhos tudo já estivesse feito.
Mas já havia um tempo que este luxo todo não me agradava mais.
Dentro de algumas semanas hei de entrar na maior idade, o que significava maiores responsabilidades e que cada vez mais se aproximava minha coroação como sucessor ao trono de Stantown.
Após o banho, senti meu colarinho ficar mais apertado e mais sufocante a medida que as criadas fechavam os botões de minha vestimenta cheia de pregas e adornos, os quais minha mãe fazia questão de que os costureiros complementassem todas minhas roupas com tais.
Se estivesse bom para ela, por mim estava ótimo! Eu não era ninguém para discordar da rainha. O título de futuro rei não me servia de nada quando o assunto era argumentar com mamãe, que vencia no argumento até de meu pai, que não era lá um homem muito fácil.
Rainha Amberly era tão firme que passou a representar o rei nas reuniões do conselho, indo contra todas as leis que impediam senhoras à tal fim, e nas proclamações ao povo. Era menos provável que a população se irasse com uma dama como ela e se dispusessem a apedrejá-la. O que já havia acontecido com meu pai e com os três mensageiros reais que o sucederam. Insatisfeitos, os súditos questionavam se a família real não era corajosa o suficiente para se apresentar até eles e transmitir os recados. Foi assim que o cargo de mensageira real também foi parar nas mãos da rainha.
A ideia de servir pessoas tão iradas e insaciáveis me dava calafrios.
Tremi sob a roupa grossa, atrapalhando o trabalho da mulher que me calçava as botas.A dama não teve coragem de me perguntar se havia algum problema, então apenas me lançou um olhar compreensivo e preocupado ao mesmo tempo. Retribuí forçando um sorriso e desviando meu olhar em seguida.
Papai me ensinara que os outros não deviam conseguir visualizar seu momento de fraqueza ou de medo, uma das poucas coisas que absorvi dele.Não costumava seguir seus conselhos, muito menos seus passos. Na verdade nunca me espelhei nele como um modelo a se seguir. Tínhamos uma relação conturbada, com um empecilho loiro de olhos cor de mel e um pouco mais alto e mais velho que eu. O sobrenome também era o mesmo. Galles Dallas.
Meu primo era a figura perfeita de filho ideal cujo meu pai sempre sonhou. Não hesitava em cumprir uma ordem sua. E até na aparência era mais parecido com meu pai do que eu, que puxei para minha mãe com cabelos ralos e encaracolados e olhos cinzentos e apagados. Bem, os de minha mãe possuíam mais vida.
Eu adorava aquela mulher, seu único defeito era a insistência em que eu arranjasse uma esposa. Propôs até hospedar um monte de garotas em nossa residência para que eu fizesse uma seleção, como vira em outros reinos e teve uma temporada em que me forçou a ir em várias recepções onde mães casamenteiras buscavam de todas as formas maridos para as filhas em busca de uma fortuna à que se sustentar.
Inadmissível.
Não que eu não quisesse me casar e ter filhos um dia. Mas... Eu buscava por algo mais real e não um casamento superficial que visava apenas negócios e interesses, como acontecia na maioria das vezes. Queria sentir meu coração acelerar e pulsar, ter a certeza de quem seria a pessoa certa. Viver um amor intenso e verdadeiro. Era um direito meu.
Já passei por situações constrangedoras com mulheres por conta da rainha Amberly. Quebrei alguns laços também, por alguém sempre acabar apaixonado. No caso, sempre as donzelas. Porém havia uma pessoa especial que, por mais apaixonada estivesse por mim, jamais poderia me afastar dela.
Quando nasci, fora difícil para minha mãe me trazer ao mundo, então meus pais pararam logo no primeiro filho. Era difícil ser filho único. As pessoas tem um certo preconceito com você, pois de qualquer forma acaba um pouco mimado. Não foi diferente comigo, mesmo sendo o futuro rei.
Eu era sempre abandonado e deixado de lado, uma condição que foi mudando com o tempo a medida que os anos vinham e eu ficava mais aberto a conversar com as pessoas e enfrentar aqueles que me faziam chacota. Bem, eu não era tão corajoso a este ponto. Entretanto, durante o tempo em que os garotos me ignoravam, uma jovenzinha de cabelos ruivos e bochechas magras e rosadas se aproximou tornando-se minha melhor amiga. Como uma irmã que nunca tive.
Valentiny era uma princesa doce e delicada que fora criada pelo pai, com a ajuda de uma servente da família, pois ficou órfã de mãe bem jovem. Ela compartilhava todo amor que recebia, mesmo visivelmente escasso, para comigo. Nosso relacionamento não começou com flores como pareceu. Fomos apresentados bem jovens com a intenção de que nos uníssemos em matrimônio algum dia. Mas precisei partir o coração dela quando vi que não a via como uma futura esposa em potencial, apenas como a boa e velha amiga. Eu não merecia os sentimentos dela. Ela pareceu entender, entretanto o pai insistia que ela frequentasse o palácio e passasse longas temporadas hospedada, alegando fazer bem para ela e para os negócios entre nossos reinos.
Meu pai e eu não éramos contra isso, mas minha mãe não era muito à favor do interesse amoroso que ela tinha por mim. Dizia que Valentiny era molenga, fraca e chorona demais. Eu sabia que eram apenas implicâncias de mãe, mas nunca fui capaz de defender Valentiny às suas acusações.
__ Seu pai o aguarda, alteza.
Andrew, meu criado pessoal e mais íntimo, informou, apontando na porta do quarto de vestir e me tirando de meu transe.__ Ele já está pronto.- Se manifestou a criada, me impedindo a fala e se reverenciando como um gesto de desculpas.
Aceitei sua reverência e agradeci seus serviços. A jovem saiu após dar uma risadinha para Andrew, achando que eu não iria perceber.
Lancei um olhar ao homem um pouco mais velho que eu, de cabelos escuros e olhos no mesmo tom. A pele ainda mais escura que a minha.
Ele fingiu tossir.
__ Acho que o rei o espera, Vossa Graça.Sorri torto.
__ E há muito trabalho o esperando também.- Dei um tapa de leve em seu ombro.- Vá trabalhar! Minhas coisas não irão se organizar sozinhas.Deixei o criado no quarto e saí pelos corredores do palácio, onde mais domésticos trabalhavam, tirando a poeira, abrindo as cortinas. Alguns me reverenciaram assim que passei por eles, outros estavam tão atarefados que nem me viram.
Assim que abri a porta para as escadarias, dois de meus seguranças se puseram ao meu lado, após um cumprimento breve me acompanharam até meu pai.
Mais um longo dia, que eu esperava brevemente por um fim.
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Olá unicórnios loucos deste site. Voltarei a postar este livro e espero que vocês amem a leitura assim como eu tenho amado reescrevê-lo.
Vejo vocês em breve.
- Crazy.
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O Herdeiro Do Trono |(Repost)
General Fiction⚠ O LIVRO ESTÁ SENDO REESCRITO E PODE APRESENTAR ALTERAÇÕES NO FINAL, PERSONAGENS NOVOS E REFORMULAÇÃO DE ALGUNS PERSONAGENS. ⚠ Thomson George Dallas II, chegou à maior idade e está a um passo de um dia importante: sua coroação como sucessor ao tr...