Prólogo

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Correr.

Esse era o único comando de meu cérebro no momento. Se minha professora de Educação Física me visse correndo agora, certamente ficaria orgulhosa de mim.

Só percebi o quão rápido eu tinha corrido quando cheguei ao local deserto, já que passava das três da madrugada. As lágrimas deixavam um rastro quente em meu rosto, e a brisa gelada de verão rapidamente secava as mesmas.

Eu estava completamente quebrada. Destruída. Não achava que existia mais alguma coisa que eu pudesse perder em minha vida. Depois do que vi? Eu não queria viver para ter oportunidades de passar por aquilo novamente.

A ponte que ligava minha cidade à outra vizinhança estava vazia, iluminada pelas centenas de luzes presas à estrutura. Era estranho não ver ninguém, já que normalmente o trânsito era caótico quando o sol estava brilhando no céu.

Sem pensar em mais nada, comecei a subir na ponte de ferro. Sempre fui boa em escalada, mas ruim em esportes. Entretanto, eu não estava acostumada com atividades físicas, já que não praticava nada fora da escola, apenas quando precisava de um tempo longe de minha família e saía para uma caminhada.

Quando cheguei ao topo da estrutura, sentei-me lá e olhei para baixo, admirando o oceano que passava abaixo da ponte. A água estava escura, e parecia esconder milhares de segredos dentro de si. Assim como eu.

As lágrimas continuavam caindo, sendo acompanhadas por alguns soluços. Eu estava determinada a fazer aquilo, e nada me segurava mais ali. O que eu estava esperando?

Mas, quando eu estava prestes a me jogar no oceano logo abaixo de mim, eu percebi uma silhueta à minha esquerda.

A pessoa estava meio escondida nas sombras, mas sentava-se no mesmo retângulo de ferro que eu. Suas pernas balançavam no ar, e o vento calmo fazia seus cabelos voarem um pouco. Eu assumia que era uma garota.

- Acho que nós duas tivemos a mesma ideia - a garota falou, ao perceber que eu a encarava.

Aquilo era algo que eu não estava esperando. A única coisa que eu queria no momento era morrer, e, aparentemente, outra pessoa passou por algo que a levou a pensar no mesmo.

O quão irônico era isso?

- Mas você ainda não pulou, e está aqui há mais tempo - eu falei algum tempo depois, apontando um fato aparente. - Por quê?

Ela deu de ombros e voltou a olhar para o horizonte.

- Fico pensando se há algo mais para eu viver - ela suspirou, voltando o olhar ao céu. As estrelas pouco apareciam, já que, para a população, o que importava eram as luzes da cidade. - Quais são seus motivos? Para se matar, quero dizer.

- Eu acabei de ver minha namorada com outro - respondi, imediatamente pensando o quão idiota aquilo devia ter soado. - Mas, além disso, tenho muitos problemas familiares. É como se eu nunca pertencesse a algum lugar, e eu já estou cansada disso. E você? Quais seus motivos?

A luz da lua iluminava os traços dela, permitindo-me ver seus olhos escuros e sua boca carnuda. Sua maquiagem brilhava de acordo com o ângulo com que a garota se mexia, e seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo enfeitado com algumas joias.

Parecia errado demais que ela quisesse se matar.

- Eu sou como um brinquedinho para minha família. Eles sempre querem controlar minha vida da maneira deles, desde como eu me visto até com quem namoro. Tenho que manter as notas sempre altas, e não posso sair para festas com meus amigos. E tem essas malditas festas que minha família organiza em que cada pessoa dá o seu melhor para parecer mais rico que o outro - ela limpou uma lágrima que escorreu de seus olhos. - Hoje vi meu pai com uma mulher que não era minha mãe, e isso não me surpreendeu. Eu apenas fiquei... - a garota respirou fundo antes de continuar. - Eu nunca sou o suficiente, e ninguém nunca percebeu as marcas em meus braços. Isso me deixa tão triste. Eu já estou cansada, sabe?

- Eu te entendo completamente - afaguei seu ombro, com intuito de confortá-la. - É difícil conviver em um lugar onde você não é aceita, e eu sei bem disso. Desde que admiti para meus pais que gosto de garotas, eles não deixam mais eu levar nenhuma amiga para dormir em casa porque acham que eu beijo todas minhas amigas. É um inferno. Tenho medo do que minha irmãzinha vai se tornar.

A garota abriu um sorriso para mim.

- Eu gostei de você. Como é o seu nome?

- Camila - eu também havia gostado dela, mas não verbalizei. - E o seu?

- Ariana - ela esticou a mão, e eu a cumprimentei. Era engraçado fazermos aquilo agora e em cima de uma ponte.

- Espera, Ariana Grande? - perguntei, e ela assentiu. - Você é da minha sala de Química.

Ela inclinou a cabeça para o lado e franziu o cenho.

- Sério? Não acho que eu esqueceria de você.

Eu realmente esperava que a escuridão ocultasse o rubor que tomou minhas bochechas, já que seu comentário não continha nada demais. Odiava quando as pessoas me elogiavam e eu não sabia como agir.

- Bem, eu costumo passar despercebida - dei de ombros, não me importando muito com aquilo.

Após algum tempo sendo o centro das atenções por ser chamada de "lésbica nojenta" e "sapatão", você fica meio que agradecida por ser deixada de lado.

Ficamos em um silêncio agradável por um momento, apreciando a paisagem e aproveitando a companhia uma da outra. Então Ariana se pronunciou.

- Ei, quer descer daqui e me levar até a minha casa? Eu não queria ir sozinha.

Foi assim que começou uma amizade nada previsível, mas muito compatível. Eu não costumava acreditar nessa coisa de destino, mas eu realmente agradecia à minha ex por ter me traído. Senão eu provavelmente nunca teria trocado uma palavra com quem se tornou rapidamente a pessoa mais importante em minha vida.

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Olá galerinha! Tudo bom?

Então, sobre essa fanfic: eu tive a ideia logo depois de uma palestra péssima sobre depressão, e do nada veio na minha cabeça "e se uma pessoa fosse se suicidar e encontrasse outra?". E aqui estamos nós, com esse shipp maravilhosamente fofo.

É importantíssimo ressaltar que a história não celebra qualquer ideia feliz ou legal sobre suicídio e depressão, pois são duas coisas sérias que devem ser tratadas com devida seriedade. Não brinquem com isso, porque é nessas "brincadeiras" que pessoas morrem todos os dias.

Espero que gostem da história sz

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