Dois: amizades verdadeiras e ajudas bem-vindas

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Por mais que minha vida fosse completamente desequilibrada, havia algumas partes dela que ainda me agradavam. Como, por exemplo, minha única amiga. Apesar de ela nunca perceber quando eu precisava de apoio ou estava triste, eu não podia reclamar de Dinah Jane quanto a ser protetora. Ela sempre se colocava ao meu lado quando qualquer pessoa começava a me incomodar ou ofender por causa de minha orientação sexual - coisa que acontecia praticamente todos os dias.

Eu já estava acostumada com isso, mas Dinah não parecia disposta a me deixar passar pelos xingamentos sozinha.

- Você é nojenta, sapatão - um garoto murmurou, e derrubou meus livros quando passou por mim.

Suspirei antes de me abaixar para juntar minhas coisas, tentando ignorar o que acontecia ao meu redor. Até que Dinah se juntou a mim, e ajudou-me a pegar os livros do chão.

- Otário - Dinah fechou a porta do armário do garoto que derrubou minhas coisas praticamente em seu rosto. - Vê se mexe com alguém do seu tamanho na próxima vez, imbecil.

- Tipo você, Hansen? - ele perguntou, erguendo uma das sobrancelhas.

- Exatamente. Eu adoraria deixar esse seu rostinho um pouco roxo - Dinah sorriu para ele e segurou em meu braço, puxando-me para o refeitório.

- Obrigada, mas você não precisava fazer aquilo - era a frase que eu dizia sempre que Dinah Jane me defendia de alguém.

- Claro que precisava, eu sou sua amiga - ela respondeu, e pegou lanche para nós duas, logo me entregando o suco com um bolinho. - Você não pode deixar eles falarem assim com você, como se fosse algo normal, porque não é.

Dei de ombros, e sentei-me em sua frente em uma das mesas do refeitório.

- Eu estou acostumada. É assim desde que Lauren e eu começamos a namorar, você sabe.

- E, apesar de tudo, você é a única que recebe ódio, já que Lauren dá medo neles - Dinah revirou os olhos, como se não suportasse aquela situação.

Na verdade, quando estávamos juntas, Lauren me defendia das pessoas. Eu apenas era alvo das ofensas e humilhações quando estava sozinha, já que eu era indefesa. Bem, as coisas não mudaram muito com o nosso término.

Dei uma mordida no bolinho oferecido de lanche, que parecia mais isopor do que baunilha. Mas era a única coisa oferecida como alimento, então eu não podia reclamar muito. Minha mãe se ocupava demais com suas coisas e certamente nunca faria nada para eu trazer para comer, e meu pai era avoado demais para isso. Então, eu me contentava com o que sobrava.

- Pare de se preocupar com isso, Cheechee - disse eu, provando o suco com mais corante e açúcar do que gosto natural da fruta. - Você tem vários amigos, todos gostam de você. Não sei por que se envolve com as minhas coisas.

Antes que Dinah pudesse responder, várias pessoas se sentaram na mesa, confirmando minha fala. Ela tinha vários amigos, e sua vida era bastante incrível. Juntei minhas coisas e levantei-me de meu lugar.

- Nos vemos depois - disse eu a ela, saindo rapidamente dali.

A verdade era que eu não me sentia muito bem perto dos vários amigos de Dinah, já que nenhum deles conversava comigo e nem demonstrava gostar de mim. Eu me sentia como uma intrusa, que não pertencia e nunca iria pertencer àquele meio de pessoas sociáveis, com notas altas, donos de beleza demais e problemas de menos.

Dei uma rápida olhada ao redor do refeitório enquanto me direcionava até a saída do mesmo. A verdade é que a maioria das pessoas ali parecia pertencer a algum lugar, exceto eu. Eu era uma intrusa no geral, não apenas no grupo de amigos de Dinah.

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